sexta-feira, 29 de março de 2024 às 01:36
Site: Moodle @ FCTUNL
Disciplina: As coisas que se escrevem (Coisas_escrevem)
Glossário: Nos Jornais, Revistas e Blogs…
O

O que a vida me ensinou, José Manuel de Mello

(Última edição: sábado, 16 de abril de 2005 às 12:27)
  Expresso
16.04.2005

O que a vida me ensinou, José Manuel de Mello
 
Empresário, 78 anos
 
Nasceu rico e em pequeno queria ser «playboy». Retirado da vida activa empresarial, dedica-se à produção de vinho no Alentejo. Na memória de muitos continua a ser o patrão da CUF ou da Lisnave, embora os seus interesses estejam, agora, na Brisa e nas clínicas de saúde.Portugal incomoda-o.Um debate na Assembleia da República deixa-o mal disposto, Quando assim é, pega num avião e sai, a ver se refresca

Alterar tamanho Reduzir Ampliar
1x1t.gif F1-U0481.jpg
LUIZ CARVALHO
No 25 de Abril não fui derrotado, fui confiscado. Tomei conhecimento do que se estava a passar à noite, quando começou o «Grândola, Vila Morena». Passei dois dias no escritório a tentar criar núcleos de resistência no meio empresarial, ainda com a esperança que a coisa não acabasse da forma tão ordinária como acabou. Reuni muita gente. Não tinha ilusões de que o Partido Comunista, mas não só, estava a aproveitar-se e estava por trás de tudo quanto se tinha passado. Vivemos horas e horas com outros empresários a ver se criávamos uma coesão para fazer frente, ou para resistir, ou para encaminhar noutro sentido. Em certa medida isso foi conseguido. Não quero dizer que a CIP tenha nascido destas reuniões, mas tiveram muita influência.

Senti que era um mundo que acabava e um mundo que começava. Daí a minha desilusão quando digo que nunca imaginei que a coisa fosse tão ordinária. Quando digo ordinária, quero dizer com falta de categoria, má qualidade como acabou por ser, com toda a manipulação que houve, nitidamente destrutiva. Faz-me impressão ver pessoas, algumas altamente colocadas na hierarquia do Estado, e que desde essa data fazem parte do sistema. O sistema continua a existir e todos se autoprotegem. Até varrem da memória aquilo em que estiveram envolvidos e hoje aparecem a dar lições e conselhos.

Depois do 25 de Abril fui para o estrangeiro com uma equipa para continuar a trabalhar, sujeitos aos mesmos sacrifícios de não saber se conseguíamos realizar o fim do mês para comer o pão. Pus a minha família na Suíça, junto de amigos. Não tinha dinheiro para lhes dar a educação... mas, enfim, isso tudo já lá vai. O ódio é uma coisa que não move nada. Não faz nada de construtivo. Quando olho para o Parlamento, uma das coisas que me impressiona é a aparência de ódio e inveja que surgem ali. Acho que o amor constrói tudo.

1x1t.gif F2-U0481.jpg
LUIZ CARVALHO
Sou firmemente crédulo na democracia. Sempre fui. Desde muito novo que andei por fora. Vivi muito. Viajei muito. Comecei a minha vida profissional como funcionário da CUF a vender adubos no Médio Oriente. Estive instalado perto de um ano em Chipre e andava muito pelo Norte da Europa. Depois comecei a ocupar-me da navegação. Tinha uma visão do que era a vida nas democracias estabilizadas do Norte da Europa. Para mim, essa vivência era natural, era intrínseca. Levava-me a concluir que a realidade portuguesa era uma realidade a prazo. Não tinha dúvidas nenhumas sobre isso. Tive a esperança, por ingenuidade, por credulidade, que adviria uma evolução no sentido de nos aproximarmos das regras do Norte da Europa. Pensava numa transição suave. Nunca achei que as revoluções resolvam seja o que for. Às vezes são necessárias, mas sempre pensei que houvesse inteligência bastante para fazer uma evolução.

Não me sinto particularmente orgulhoso de um dia, no Brasil, depois do 25 de Abril, ter virado a cara a Marcello Caetano, quando ele apareceu no mesmo restaurante onde eu estava. Veio para me falar e eu virei a cara. Arrependi-me de ter feito isso. Na altura culpabilizava-o muito de ter permitido que as coisas chegassem ao ponto de justificarem a parte rasca do 25 de Abril. Tive grandes esperanças quando Marcello Caetano foi para o Governo. Cheguei a manifestar-lhe essas esperanças, mas também a minha desilusão. Não sei se na altura em que ele chegou ao poder ainda era possível fazer diferente, mas achava que ele devia tê-lo feito. O problema colonial estava posto em cima da mesa. O livro de Spínola foi publicado por uma editora que estava no meu grupo, mas não sei se foi a parte mais positiva, ou que contribuiu para alguma coisa. Até pelo posterior comportamento de Spínola.

Gosto de viajar. Gosto principalmente de sair deste ambiente asfixiante que acho que é o do meu país, por provincianismo, por falta de objectividade. Acho que o português é o mais provinciano que há. Somos periféricos. O português é essencialmente pouco evoluído. Vive longe da realidade. Tem uma posição quase de espectador permanente. Mesmo todas as ligações com o mar, que é um dos meios de comunicação mais antigos, não tiveram em nós grande influência. Somos burgessos. Somos pequeninos. Temos uma atitude meio saloia. Sinto-me incomodado com o país. Basta assistir a uma sessão da Assembleia da República. Fico mal disposto durante oito dias. A primeira coisa que faço é pegar num avião e sair daqui, para ver se refresco. Porque aquilo é tudo menos um parlamento como devia ser. Incomoda-me a falta de nível, a forma como são discutidos os problemas, onde se debate tudo, menos o essencial. Quanto aos governos, também não temos um grande currículo nos últimos tempos. Desde o Cavaco Silva, que não fugiu, a partir daí nunca mais houve nenhum primeiro-ministro que não tivesse fugido, ou que tivesse acabado o seu mandato. O Cavaco Silva não terá fugido, mas lá que não pretendeu continuar, isso sem dúvida nenhuma.

Custam-me estes processos da Casa Pia, que se prolongam. Custam-me os noticiários, onde a parte essencial não é transmitida. Custa-me a queda da ponte de Entre-os-rios. Ninguém sabe quem é o culpado, mas houve vítimas. Custa-me passar pelo Terreiro do Paço e ver uma obra que não sei se está a fazer-se ou não, e quem é que decidiu. Custam-me estas guerras do túnel do Marquês. E ninguém põe nada em causa. Então, o país? E nós? Estamos a sofrer com isto, lá porque falta o relatório, ou falta a vírgula.

O AR DE PORTUGAL É ATERRORIZADOR

É raro passar um mês seguido em Portugal. Gosto de ir para Londres ou para os EUA. Também gosto de ir a Espanha. O que me atrai na ideia de viajar é o que se respira de ar diferente. Acho que este ar aqui é aterrorizador. Não percebo a capitalização da desgraça que se faz na televisão, cujos noticiários demoram quase uma hora. Não acabam, sequer, com uma história engraçada, positiva, como a televisão inglesa. A louca procura das audiências faz sempre repisar o negativo. Não é que ache que o negativo não deva ser posto ao de cima, para estarmos todos conscientes, mas tudo tem limites.

A minha primeira grande viagem foi a acompanhar o meu pai, mal tinha acabado a II Guerra Mundial, quando ele foi tratar de reequipar a CUF. Durante o período da guerra tinha sido impossível renovar o equipamento das fábricas e os navios estavam velhos. Lembro-me de chegar a Paris e ver senhas de racionamento, que era uma coisa que aqui não se conhecia. Recordo-me de ver Londres destruída. Em Bruxelas e em toda a parte da Bélgica vi as pessoas com fome. Aqui nunca imaginámos essas coisas. A minha família nunca foi profundamente germanófila, embora tivesse um bocadinho o estigma da Guerra Civil de Espanha, em que se envolveu. O meu avô ajudou de várias formas o lado nacionalista, que acabaria por sair vencedor. Em minha casa fizeram-se muitas camisolas para levar a Espanha. O meu pai tinha a carta de pesados e foi em comboios a guiar o camião para levar produtos. O meu avô e a minha família sempre foram gente que acreditaram na autoridade e na ordem. A opinião que corria lá em casa era essa. Mas não se pode deixar de contextualizar isto no tempo em que foi. Impressiona-me esta necessidade de pedir desculpa, como o Papa veio pedir desculpa, ou o Presidente Chissano, que já não é presidente, mas que foi ao Norte e disse que falta aos portugueses pedirem desculpa. Pedirem desculpa de quê? Foi um contexto. Foi uma época, e nessa época era como era. Não éramos diferentes dos outros. Que se capitalize hoje isso por razões políticas ou outras, é um completo exagero.

Os meus pais eram pouco autoritários. Talvez mais disciplinadores. A minha mãe, filha única de Alfredo da Silva, era de formação e educação muito germânica. Tinha um grande respeito pela vida empresarial do pai e incutia-nos essa visão de que o que valia era o trabalho que se fazia nas empresas. Acima de tudo importava o trabalho, criar empresas, criar iniciativas. Mais tarde o meu pai sucedeu ao meu avô e também seguiu a mesma linha, de uma formação de que o que vale é o trabalho e criar riqueza. Para além de, na maioria dos casos, ser a forma de sustentação da família. O trabalho é próprio do homem, o homem que não trabalha não pode ser feliz. Trabalhar é quase tão importante como lavar os dentes e fazer a barba.

Em pequeno, eu dizia que quando fosse grande queria ser «playboy». Sempre gostei de fazer desporto, de andar à vela. Era rico, já tinha herdado, e sempre pensei em comprar um barco à vela para dar a volta ao Mundo. Quando a minha mãe me chamou à realidade, me informou que o meu pai estava gravemente doente e lhe respondi que estava a pensar ir, durante um ano, dar a volta ao Mundo, ela disse-me para nem pensar nisso. A minha obrigação era trabalhar nas empresas que o meu avô tinha criado e o meu pai continuado. Assim foi. Já tinha sinalizado o barco. Foi o sinal à viola e agarrei-me à rabiça. Já nem penso nisso de dar a volta ao Mundo.

TENHO MENOS CERTEZAS E MAIS DÚVIDAS

 

Quando a minha mãe me confrontou com aquele desafio, não tinha remédio. Não tinha alternativa. Se estava preparado, ou não, era aquilo que tinha de fazer. Preparei-me. Mudei de perspectiva. Subconscientemente estava convencido de que era esse o meu caminho.

Não posso dizer que o dinheiro não seja importantíssimo, mas não é isso que me move. Nasci num berço de oiro e por isso sempre tive dinheiro. Em todo o caso, depois do 25 de Abril passei por muitos maus bocados, durante um ano ou dois. Soube adaptar-me a viver «à rasca» para chegar ao fim do mês. O dinheiro é importantíssimo para quem não o tem, por isso é quase uma barbaridade estar a dizer uma coisa destas.

A vida ensinou-me que não sei nada. Cada vez tenho menos certezas e cada vez tenho mais dúvidas. Mas acho que a vida vale a pena ser vivida. Acredito muito no evangelho dos talentos. Quem os tem, tem a obrigação de os fazer render.

Texto de Valdemar Cruz


Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive

(Última edição: segunda-feira, 29 de agosto de 2005 às 15:32)

Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive

/>/>
Published: August 22, 2005

SAN FRANCISCO, Aug. 21 - Edward Vazquez Jr., 6, has numerous educational tools at his disposal. He learns math from flashcards and the alphabet from a popular electronic gadget called the LeapPad. But when it comes to instruction, the family's personal computer sits dormant.

22soft.cartoon.jpg
Riverdeep

Sales of PC titles like Reader Rabbit are a third of what they were in 2000.

22software.chart.jpg

"He has a lot of toys for learning - not the computer," said his father, Edward Vazquez, 28, a waiter in San Francisco. One reason, Mr. Vazquez said, is "you don't see a lot of that software."

That statement would have been unthinkable a few years ago. In 2000, sales of educational software for home computers reached $498 million, and it was conventional wisdom among investors and educators that learning programs for PC's would be a booming growth market.

Yet in less than five years, that entire market has come undone. By 2004, sales of educational software - a category that includes programs teaching math, reading and other subjects as well as reference works like encyclopedias - had plummeted to $152 million, according to the NPD Group, a market research concern.

"Nobody would have thought those were the golden days," Warren Buckleitner, editor of Children's Technology Review, said of the late 1990's. "Now we're looking back and we're saying, 'Wow, what happened?' "

What happened was an explosion of new, often free technologies competing to entertain and teach children. Young children have long been a primary audience for computer learning games. But with free games and learning sites now available all over the Internet, parents are finding that they do not need to buy software that can teach the A B C's. And the spread of broadband connections has made playing online games far easier.

The preschool and elementary school set is also moving toward portable gadgets like the LeapPad made by LeapFrog Enterprises, and other electronic toys from makers like Fisher-Price and VTech. Older students, industry analysts said, are less likely to buy educational software when reference material and encyclopedias are free online.

And there is the pass-along effect. Simple programs for toddlers and young children are often handed down among brothers and sisters because the titles and curriculums do not change much over the years.

Other industry analysts and executives said that parents' frustration at installing new programs and the nearly universal availability of computers in classrooms have made using home PC's for learning less appealing.

Danisha Floyd, 22, said her 5-year-old son, Edgar, uses a LeapPad and does not have a computer at home. "He uses computers at school," she said.

Alan Zack, product director for Encore Software, a Los Angeles company that makes and distributes educational programs, said, "Kids come home and they don't want to get on the computer."

Basically, said Chris Swenson, an education software analyst for NPD, "the PC has lost its luster as the center for learning at an early age."

The result in business terms has been a downward spiral. Only 222 educational programs for PC's sold more than 10,000 copies in 2004, down from 447 in 2001, according to NPD. As sales began to decrease, retailers devoted less and less shelf space to these titles, making recovery for the industry more difficult.

To regain their footing, some companies are starting to create programs that can connect to the Internet and cater to parents' interest in measuring their children's academic progress.

One reason for hope is that parents are spending more on educational tools and services than ever. Kirsten Edwards, an education software industry analyst with ThinkEquity Partners, a research firm, noted that overall spending on teaching tools and toys had increased. Spending on tutors, she said, rose to $4 billion in 2004, from $3.4 billion a year earlier.

Yet educational software is getting an ever smaller share of that consumer dollar. It is among the lowest-priced of any software category; in 2004 the average price for an educational program was $18, compared with $23 for the average computer game, according to NPD.

Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive

(Page 2 of 2)

The fate of the Learning Company, once one of the biggest names in the educational software business - with well-known titles like Reader Rabbit and Carmen Sandiego - underscores the industry's rapid decline.

Skip to next paragraph
22soft.jessica.jpg
Peter DaSilva for The New York Times

Jessica Lindl of Riverdeep, which makes educational software, said future versions would give parents feedback on their children's progress.

In 1998, the company was acquired by Mattel for $3.8 billion, an indication of the expectations for the industry's growth. Quickly, though, the market faltered. In 2001, the company's educational titles were acquired for $40 million by Riverdeep, an Irish education software company. Today, Riverdeep, which has an office in San Francisco, continues to sell Learning Company brands. But it is trying to remake them to cater to new consumer interests.

Last week, it released repackaged versions of Reader Rabbit and Carmen Sandiego, among other titles, that include in the boxes an old-fashioned tool: flashcards intended to complement what students learn on the computer.

Jessica Lindl, vice president for marketing at Riverdeep, said the flashcards are lead-ins to more extensive changes in the software next year. Future versions, she said, will help assess a student's needs and give parents feedback on the child's progress. In future versions of the reading program Reader Rabbit, for example, children who do not master a level will get repeated lessons.

People used to buy educational technology for technology's sake, Ms. Lindl said. "What needs to happen now is there needs to be returns, or results, for the purchase."

One company, Topics Entertainment, of Renton, Wash., is aiming at parents who want to increase student achievement. Programs in its Success line are packaged in clean white boxes without cute cartoon characters, though the programs, which teach math, reading and other classroom subjects, are meant for students in grade school.

Even getting the programs into the stores can be a big challenge. Max Cowsert, director of product development for Topics Entertainment, said that retailers like Best Buy had reduced the shelf space they allot to educational software, and some video game retailers had eliminated the category altogether. "It's not going to continue to slide at this rate," Mr. Cowsert said. "It has to stop declining, or we'll disappear."

Educational software makers in the consumer market are not alone in their struggles. Those making software for schools have suffered too, executives and analysts said, from cutbacks in school budgets. Overall spending on software by K-12 schools was $2.3 billion in 2004, up 2 percent from a year earlier but down from $3.4 billion in 2001, according to ThinkEquity Partners.

Nonetheless, some say that children's software can make a comeback. Mr. Buckleitner, an occasional contributor to the Circuits section of The New York Times, says there is still a future for teaching tools for the PC, especially as high-speed Internet access permits the delivery of richer content.

As for the drop in sales, he said, "it's like a forest fire has burned through," making the scorched earth ready for future growth.

Os elementos fundamentais da cultura portugues, Jorge Dias

(Última edição: segunda-feira, 7 de novembro de 2005 às 12:58)

OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA CULTURA PORTUGUESA

Jorge Dias

No estado actual dos nossos conhecimentos não é possível desenvolver satisfatoriamente o tema que me foi designado neste Colóquio. Estabelecer os elementos fundamentais duma cultura representa o fim máximo a que a etnologia (antropologia cultural) se propõe; é, digamos, a cúpula dum edifício que ainda está nos alicerces. A vastidão e a complexidade do assunto não permitiram sequer que nestes escassos meses se pudesse traçar uma visão panorâmica da cultura portuguesa com a solidez científica indispensável. Pode dizer-se que tal tema é a tarefa de toda a vida daqueles que se lhe dediquem. O mérito desta tentativa não será mais do que quebrar o encanto de penetrar num mundo que a todos atrai, mas onde ninguém ousa afoitamente entrar, pelos perigos que encerra. São de molde a assustar qualquer um os juizos precipitados ou superficiais, de sobejo conhecidos, emitidos por vários jongleurs do espírito, que pretendem classificar um povo salientando só algumas características, muitas vezes bem pouco típicas, que mais se poderiam classificar anedóticas, quando não malevolentes.

Se definir os elementos culturais duma sociedade tribal demanda já um longo trabalho de análise e boas qualidades de observação, interpretação e síntese, o que não será estabelecer as bases culturais permanentes dum povo estratificado e com oito séculos de história? Aliás, não está mesmo demonstrada a permanência de características através do tempo, nem que a tradição cultural apresente a estabilidade rígida que muitos lhe atribuem. A herança cultural dum povo é fatalmente afectada por influências do exterior (aculturações) e por transformações de estrutura determinadas pela sua própria evolução'. Além disso, todos nós conhecemos a diversidade cultural das várias regiões naturais da nação portuguesa, agravada ainda pelas diferenças culturais próprias dos estratos sociais que a formam.

Posto isto, pode parecer que o problema se apresenta sem solução. É, contudo, indubitável que os vários povos mostram dife renças sensíveis entre si, que, embora difíceis de definir, nos garantem não ser em vão o esforço de o tentar. Creio mesmo que virá um dia em que o progresso dos estudos etnológicos permitirá uma síntese perfeita e cientificamente fundamentada do que é culturalmente especifico do povo português. Mas para isso é necessário abandonar as intuições mais ou menos brilhantes e os juizos superficiais ou aprioristicos e seguir um caminho penoso de análises sucessivas e de interpretações e sínteses parciais, até se poder alcançar esse fim superior que todos nos propomos.

Perante a dificuldade deste tema, cheguei a pensar fugir-lhe, limitando-me a apresentar aqui um método de estudo da personalidade-base e dos elementos fundamentais da cultura portuguesa. Era mais fácil, e seria talvez mais útil, começar por indicar o caminho que a investigação devia seguir perante a heterogeneidade cultural que se verifica no espaço (sincrónica) e no tempo (diacrónica), complicada ainda pela heterogeneidade vertical dos vários estratos sociais. Porém, embora venha em breve a publicar esse tentame metodológico, não quero iludir a dificuldade e vou-me esforçar por estabelecer, pelo menos, alguns dos elementos fundamentais da cultura portuguesa.

Quando nos referimos à cultura dum povo civilizado, formado por um conjunto de áreas culturais distintas e de classes estratificadas, não nos podemos necessariamente deter nas formas e instituições, e temos antes de lhe procurar o conteúdo espiritual. Só ele deixa compreender a evolução cultural do povo, porque só esse conteúdo espiritual pode ter carácter de permanência através das transformações morfológicas e ideológicas que se vão sucedendo no tempo. A única constante dum povo é o seu fundo temperamental, e não os múltiplos aspectos que a cultura reveste, porque é ele que os selecciona e transforma de acordo com a sua sensibilidade específica. Porém, nem sempre existe uma constante temperamental-base nas nações de composição heterogénea. Às vezes não há mais do que várias mentalidades em conflito real ou latente, que, com o decorrer da história, vão tomando alternadamente a orientação do conjunto. Convém compreender como tal fenómeno se passa, pois, muitas vezes, podem tomar-se como características dum povo aspectos culturais duma só região. Também pode suceder que tomemos por cultura nacional as características duma classe que deixou de ser a expressão superior de todo o povo, para ser simplesmente uma autocracia que impõe a esse povo normas de conduta e cuja cultura não corresponde à personalidade-base da nação.

Há povos em que a homogeneidade das partes que os constituem e a colaboração extensiva de indivíduos de todas as classes, por um elevado nível de instrução geral, tornam particularmente fácil o estudo da sua cultura. Estão neste caso, por exemplo, as nações escandinavas e a Holanda. Noutros casos, as diferenças regionais muito acentuadas impediram ou dificultaram a unificação, que só se fez tardiamente ou por imposição mais ou menos forçada duma dessas regiões sobre as outras. São estes, por exemplo, os casos da Itália e da Alemanha, onde ainda hoje se mantêm dialectos e formas de cultura superior que são simplesmente regionais. De qualquer maneira, a unificação das nações com regiões culturais heterogéneas tem de se apoiar num poderoso elemento polarizador das energias nacionais. A maior parte das vezes esse elemento é político e resulta da imposição, mais ou menos violenta, dos padrões de cultura duma província às outras que com ela formam um conjunto nacional. Na Alemanha foi a Prússia e em Espanha Castela que desempenharam esse papel unificador. Portugal, porém, apresenta uma curiosa particularidade de unificação. Embora a origem da Nação se deva também à política, à vontade dum príncipe, que naturalmente se aproveitou de certas aspirações de independência latentes nas populações de Entre Douro e Minho, a unificação e a permanência da Nação deve-se ao mar. Foi a grande força atractiva do Atlântico que amontoou no litoral a maior densidade da população portuguesa do Norte, criando como que um vácuo para o interior. Desde Caminha a Lisboa estabeleceram-se inúmeras amarras que defenderam Portugal da força centrípeta de Castela. Mas foi sobretudo o estuário do Tejo, esse forte abraço do mar com a terra, que definitivamente presidiu aos destinos de Portugal. Não houve o domínio duma região sobre outras, antes se encontraram todas num ponto natural de convergência. É por isso que, ao contrário de Berlim ou de Madrid, capitais no centro das regiões dominadoras, Lisboa, na foz do Tejo, está mais apoiada no mar do que na terra. Além disso, Lisboa pode dizer-se formada por habitantes oriundos de todas as provincias do País, quase que sem predomínio de qualquer delas. A este facto deve Portugal certa homogeneidade cultural permanente. Contudo, não devemos esquecer que, a par da cultura nacional, existem ainda hoje regiões naturais muito definidas, com culturas próprias bem caracterizadas, fruto, não só de condições ambientais diferentes, como de ascendência cultural e possivelmente étnica diversas'. Convém recordar que muitas características atribuídas aos Portugueses não passam de meros aspectos culturais duma só região. Se existe uma cultura com longa tradição, também é certo que são poucos os que nela participam, pois, por razões de educação e instrução, a maior parte da população recebe sobretudo a cultura tradicional da sua região.

A cultura nacional é um curioso fenómeno do espírito colectivo e resulta da combinação de muitos elementos. No momento em que na combinação entrem elementos novos, ou faltem outros, o composto que daí resulta já não pode ser o mesmo. Passa-se isto quase como num composto químico formado de elementos simples. O resultado não é a soma de todos eles, mas um corpo novo, com características próprias. Quer isto dizer que, se a cultura de um povo encerra em si, transformados, todos os elementos que a constituem (culturas locais), nem por isso esses elementos, tomados separadamente, permitem compreender o conjunto. Igualmente a perda de uma das partes ou a anexação de uma parcela nova acaba por afectar, com o tempo, as características da cultura nacional.

No caso especial português, a cultura superior não é também um somatório das diferentes culturas regionais, mas uma integração destas, de que resultou uma coisa nova em que elas estão contidas, embora transformadas por uma espécie de fenómeno de sublimação espiritual. Enquanto a cultura local tem carácter quase ecológico e resulta do conflito entre a vontade do homem, o ambiente e a tradição, a cultura superior transpõe esse conflito para o plano espiritual, porque o elemento ambiente natural é substituído pela história. Os factores mesológicos continuam a actuar, mas de maneira menos visível e, em parte, já contidos nas culturas regionais, que dão o seu contributo para a cultura superior. É possivel que, se um dia o nível de instrução e de educação for tão elevado que todo o povo participe mais intimamente na cultura nacional, desapareçam as culturas regionais, completamente absorvidas e sublimadas pelo espírito geral. Mas tal hipótese não se pode verificar, por enquanto, e temos de proceder cuidadosamente à análise das partes, sem cair no erro de as tomar pelo todo. A tendência a generalizar é um perigo frequente. Em Portugal muita gente julga os Espanhóis pelos centos de galegos que aí vivem e trabalham. Contudo, esses espanhóis são quase todos da Galiza, uma das provincias que mais se afastam da personalidade-base espanhola. É possível que tal erro de apreciação se repita noutros países em relação aos Portugueses. Os Brasileiros, os Americanos, os Franceses e os Marroquinos devem ter dos Portugueses uma ideia que corresponde principalmente ao Minhoto, ou ao Transmontano, ou ao Beirão, ou ao Açoriano, ou ao Algarvio, etc., e não ao Português-base.

Se para os estudos dos elementos fundamentais da cultura portuguesa tal distinção é menos importante, já se não dá o mesmo ao querer estudar as aculturações portuguesas fora do País. Para tais estudos convém conhecer em primeiro lugar as origens dessa colonização e fazer a análise cuidadosa da cultura da região donde provieram os colonizadores. Embora a Reconquista se tivesse feito do norte para o sul, e muitos territórios fossem repovoados com gente do Norte, ou esta se tivesse misturado em proporções várias com as populações existentes, isso não impediu que se formassem regiões culturais distintas. Contribuiu para isso não só o substrato cultural anterior, como a acção dos agentes naturais, diferentes nas várias regiões. Se os factores mesológicos são insuficientes para explicar os fenómenos culturais, nem por isso podemos negar a sua acção profunda.

Como o carácter deste trabalho não permite entrar nos estudos regionais - degraus necessários para quem quiser chegar ao cimo donde se domina o conjunto -, teremos de abordar directamente a essência do problema e deixar para outra ocasião esse importante assunto.

A cultura portuguesa tem carácter essencialmente expansivo, determinado em parte por uma situação geográfica que lhe confe riu a missão de estreitar os laços entre os continentes e os homens. Este carácter expansivo tem raízes bem fundas no tempo, se quisermos lembrar a cultura dolménica, que, segundo grandes autoridades, teve como centro de difusão o litoral português nortenho'. Porém, a expansão portuguesa, ao contrário da espanhola, é mais marítima e exploradora do que conquistadora. Desde muito cedo existem notícias de navegadores portugueses e, entre as medidas de fomento comercial-maritimo, distingue-se a criação da bolsa de mercadores, que veio a ser a primeira companhia de seguros marítimos mútuos (Companhia das Naus [século XIV]) .

A força atractiva do Atlântico, esse grande mar povoado de tempestades e de mistérios, foi a alma da Nação e foi com ele que se escreveu a história de Portugal. Como disse um professor alemão, a literatura portuguesa medieval já está cheia de motivos marítimos que se podiam procurar em vão em qualquer outra literatura latina'. De facto, antes de se empreenderem as grandes viagens oceânicas já o motivo marítimo impressionava a sensibilidade portuguesa. Porém, só mais tarde, depois de se ter levado a cabo a grande tarefa que a história universal nos tinha destinado, é que a arte portuguesa atingiu o seu máximo como glorificação das empresas marítimas. Os quatro pilares do génio criador português: Os Lusíadas, os Jerónimos, o Políptico de Nuno Gonçalves e os Tentos de Manuel Coelho, são quatro formas de expressão, verdadeiramente superiores e originais, dum povo que durante mais de um século esquadrinhou todos os mares e se extasiou perante as naturezas mais variadas e exóticas.

Se a situação geográfica contribuiu indiscutivelmente para o carácter expansivo da cultura portuguesa, ela só não basta para explicar tudo. Além dela, temos de considerar a feição psíquica portuguesa e a maneira como esta actuou perante as circunstâncias.

A personalidade psicossocial do povo português é complexa e envolve antinomias profundas, que se podem talvez explicar pe las diferentes tendências das populações que formaram o País. Da mesma maneira que Portugal representa o ponto de encontro natural das linhas de navegação entre a Europa, a África e a América, a sua população é constituída pela fusão de elementos étnicos do Norte e do Sul. Apesar da relativa homogeneidade da população actual, no Norte do País abundam elementos da Europa Setentrional e Central (celtas e germanos), enquanto no Sul predominam os elementos do Sul da Europa e do Norte de África (mediterrâneos e berberes).

Situado no extremo sudoeste da Europa, a poucos passos da África, o País estava destinado a ser ponto de passagem e de encontro das mais variadas raças, umas vindas dos confins do Mediterrâneo, como os Fenícios, que lhe demandaram os portos, outras cio extremo setentrião, como os Normandos, que lhe invadiram as costas. Mas as influências destes foram superficiais e só se fizeram sentir no litoral. Foram mais importantes as invasões celtas, sobretudo a partir do século VI a. C. Estes povos, senhores da técnica do ferro e da superioridade militar e económica que daquela derivava, acabaram por se fundir com a raça autóctone. Os Lusitanos, que resultaram desta fusão, eram um povo rude, sóbrio e espantosamente resistente e aguerrido. Era tal o amor da independência que os Romanos, quando quiseram conquistar a Península Ibérica, viram fracassar umas atrás das outras as tentativas para os dominar. Só ao fim de mais de um século, com a vinda de Augusto à Península, foi possível a subjugação deste povo, considerado um dos mais indómitos daquele tempo. Viriato ficou na história como um dos grandes heróis lusitanos e as suas campanhas chegaram a atingir o Norte de África, com a expedição de Kaukeno. Mas o Império Romano acabou por dominar inteiramente e, durante uns séculos, reinou a paz romana. Quando os povos germânicos, aproveitando-se da fraqueza do velho império, começam a invadi-lo em bandos sucessivos, modifica-se novamente a estrutura étnica e cultural das populações que correspondem ao Portugal actual. Logo nos começos do século V os Suevos distribuem terras entre si e se fixam na actual província de Entre Douro e Minho. Estes povos, saídos poucos anos antes do coração da Baviera, trouxeram com as mulheres e os filhos os usos e costumes e as técnicas agrárias do seu pais'. A pouco e pouco fundem-se também com as populações anteriores, formando um reino que tinha Braga por capital. O reino dos Suevos não pode resistir às investidas dos Visigodos, seus irmãos de sangue, mas mais práticos nas artes da guerra e da política. Os Visigodos acabam por se assenhorear de toda a Península, durante o século VI, formando um grande reino cristão. Porém, logo nos princípios do século VIII, os Árabes, movidos por um vivo impulso religioso, lançam-se na Península e conquistam-na com rapidez vertiginosa. Todavia, à medida que ganham em extensão, vão perdendo em ímpeto e, ao fim de alguns anos, o núcleo de resistência cristã, formado nas Astúrias, começa a repelir o inimigo. Vão-se assim formando novos reinos cristãos, entre os quais Portugal.

Portugal nasce desta luta contra os Mouros. É uma guerra política e religiosa. Enquanto se reconquista o solo da Pátria expulsa-se o inimigo da Fé. Atrás do conquistador vai logo o lavrador e constrói-se o templo. A espada que luta precisa de se apoiar no pão dos campos e na fé em Deus. Em 1249 acabava a luta porque não havia mais terra a conquistar, tinha-se chegado ao extremo sul da faixa portuguesa. Nesta ocasião já se tinha repovoado grande parte dos territórios e, além de muitas capelas românicas, já se erguiam as Sés de Braga, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora. Era chegado o momento de ir mais além. Não no espaço, que não havia, mas na organização interna do País. Os reis que se seguem cuidam das letras, da justiça, e promovem medidas de fomento agrícola e de alcance marítimo. Em 1290 fundam-se os Estudos Gerais, o embrião da Universidade portuguesa. Nos fins do século XIII Portugal já exportava cereais. Parecia que tinham terminado as lutas e inquietações e que ia começar a vida próspera, pacifica e apagada dum pequeno povo à beira-mar. Mas não; os vizinhos Espanhóis começavam a cobiçar Portugal. Surgem novamente lutas e incertezas, que terminam pela vitória decisiva dos portugueses em 1385, no campo de Aljubarrota. Esta afirmação da força nacional parece ter despertado novas energias, e surge a ideia de ir contra o antigo inimigo de tantos séculos. Portugal já possuía então embarcações que lhe permitiam uma expedição militar ao Norte de África e, em 1415, os Portugueses conquistam Ceuta aos Mouros. Era o começo da fase de expansão marítima. Em 1418-19 descobre-se a ilha da Madeira, a seguir os Açores, depois vai-se explorando a costa africana com o propósito de chegar à índia pelo mar, ao mesmo tempo que se mandam exploradores por terra. Desde então, até aos nossos dias, toda a cultura portuguesa está impregnada de influências marítimas e ultramarinas.

A história de Portugal teve um período extraordinariamente glorioso, que definitivamente passou. Uma das nações mais pequenas da Europa foi senhora de um dos maiores impérios de todos os tempos e teve a maior armada da época. Embora Portugal ainda enfileire entre as grandes nações com territórios ultramarinos, todos nós sabemos que os destinos do mundo saíram há muito das suas mãos. A mesma sorte coube ultimamente a nações consideradas colossosos invencíveis. A grandeza e a decadência das nações tanto se devem à evolução íntima do seu povo como ao jogo dos acontecimentos. Às vezes, o que foram virtudes numa época podem ser defeitos noutra, e uma mutação de culturas pode alterar inteiramente os destinos às nações. O próprio temperamento português explica muitas das feições da sua história, mas há causas exteriores que também nos dão a chave de culpas que lhe são injustamente atribuídas. Se o carvão e o aço, que constituíram a base da última fase da civilização ocidental, existissem no nosso subsolo, é natural que tivéssemos desempenhado um papel bem diferente daquele a que fomos obrigados. Mas um país que deu madeiras e pano para caravelas e foi farto de pão para uma população de menos de 2 milhões de habitantes pode não ter riquezas nem abundância para alimentar uma população que cresce vertiginosamente.

Vamos agora tentar definir as constantes culturais deste povo, já velho de tantos séculos, comparando as características culturais de nossos dias com aquelas que a história nos fornece, em função da sua personalidade-base.

O Português é um misto de sonhador e de homem de acção, ou, melhor, é um sonhador activo, a que não falta certo fundo prático e realista'. A actividade portuguesa não tem raizes na vontade fria, mas alimenta-se da imaginação, do sonho, porque o Português é mais idealista, emotivo e imaginativo do que homem de reflexão. Compartilha com o Espanhol o desprezo fidalgo pelo interesse mesquinho, pelo utilitarismo puro e pelo conforto, assim como o gosto paradoxal pela ostentação de riqueza e pelo luxo. Mas não tem, como aquele, um forte ideal abstracto, nem acentuada tendência mística. O Português é, sobretudo, profundamente humano, sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco. Não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas, ferido no seu orgunho, pode ser violento e cruel. A religiosidade apresenta o mesmo fundo humano peculiar ao Português. Não tem o carácter abstracto, místico ou trágico próprio da espanhola, mas possui uma forte crença no milagre e nas soluções milagrosas.

Há no Português uma enorme capacidade de adaptação a todas as coisas, ideias e seres, sem que isso implique perda de ca rácter. Foi esta faceta que lhe permitiu manter sempre a atitude de tolerância e que imprimiu à colonização portuguesa um carácter especial inconfundível: assimilação por adaptação. O Português tem vivo sentimento da natureza e um fundo poético e contemplativo estático diferente do dos outros povos latinos. Falta-lhe também a exuberância e a alegria espontânea e ruidosa dos povos mediterrâneos. É mais inibido que os outros meridionais pelo grande sentimento do ridículo e medo da opinião alheia. É, como os Espanhóis, fortemente individualista, mas possui grande fundo de solidariedade humana. O Português não tem muito humor, mas um forte espírito crítico e trocista e uma ironia pungente.

A mentalidade complexa que resulta da combinação de factores diferentes e, às vezes, opostos dá lugar a um estado de alma sui generis que o Português denomina saudade. Esta saudade é um estranho sentimento de ansiedade que parece resultar da combinação de três tipos mentais distintos: o lírico sonhador - mais aparentado com o temperamento céltico -, o fáustico de tipo germânico e o fatalístico de tipo oriental. Por isso, a saudade é umas vezes um sentimento poético de fundo amoroso ou religioso, que pode tomar a forma panteista de dissolução na natureza, ou se compraz na repetição obstinada das mesmas imagens ou sentimentos. Outras vezes é a ânsia permanente da distância, de outros mundos, de outras vidas. A saudade é então a força activa, a obstinação que leva à realização das maiores empresas; é a saudade fáustica. Porém, nas épocas de abatimento e de desgraça, a saudade toma uma forma especial, em que o espírito se alimenta morbidamente das glórias passadas e cai no fatalismo de tipo oriental, que tem como expressão magnífica o fado, canção citadina, cujo nome provém do étimo latino fatu (destino, fadário, fatalidade).

Este temperamento paradoxal explica os períodos de grande apogeu e de grande decadência da história portuguesa. Ao contrá rio do que muitos disseram, o Português não degenerou; as virtudes e os defeitos mantiveram-se os mesmos através dos séculos, simplesmente as suas reacções é que variam conforme as circunstâncias históricas. No momento em que o Português é chamado a desempenhar qualquer papel importante, põe em jogo todas as suas qualidades de acção, abnegação, sacrifício e coragem e cumpre como poucos. Mas se o chamam a desempenhar um papel medíocre, que não satisfaz a sua imaginação, esmorece e só caminha na medida em que a conservação da existência o impele. Não sabe viver sem sonho e sem glória.

Esta maneira de ser torna particularmente difícil a tarefa dos governantes, sobretudo em períodos históricos em que as circunstâncias não permitem desempenhar uma acção que lhes agrade e desencadeie as energias.

Nas épocas extraordinárias, quando acontecimentos históricos puseram à prova o valor do povo, ou lhe abriram perspecti vas novas, que o encheram de esperança, então brotaram por si, naturalmente, as melhores obras do seu génio. Porém, nos períodos de estagnamento nasce a apatia do espírito, a relutância contra a mediania, a crítica acerba contra o que não está àquela altura a que se aspira, ou cai-se na saudade negativa, espécie de profunda melancolia.

Percorrendo a história, podemos facilmente verificar como estas características apontadas se repetem em diferentes épocas, explicando certas acções e demonstrando a constância de alguns elementos fundamentais da cultura portuguesa.

Em todas as épocas se verifica o temperamento expansivo e dinâmico do Português. Sem ir à cultura dolménica, desde as épocas mais remotas, nos tempos em que a actividade era a guerra, os Lusitanos foram a expressão mais acabada da luta permanente e sem tréguas, que se prolongou pela Idade Média nas lutas da Reconquista contra os Mouros, para se transformar, finalmente, nas viagens de descobrimentos e de colonização. É também sintomático os Portugueses terem participado em grande parte das guerras europeias, mesmo quando não tinham interesses directamente ligados a tais conflitos. Até a série de revoluções fratricidas do século XIX e princípios do século XX provam o fundo de permanente inquietação e actividade. Porém, essa actividade traz sempre consigo um cunho de ideal. Quase nunca se verifica a acção precedida de cálculo interesseiro e frio. Embora não lhe falte, por vezes, um fundo prático e utilitário, o grande móbil é sempre de tipo ideal. Nas lutas da Reconquista não se procura só reaver o solo que os Muçulmanos tinham conquistado: lutava-se por um ideal religioso e expulsava-se o inimigo da Fé. A grande empresa marítima visa, é certo, a descoberta do caminho da índia e os negócios das especiarias, mas, além de se pretender dilatar o Império, pretende-se dilatar a Fé. A última ideia justificava a primeira, e não o inverso. Nunca soubemos separar o sonho da realidade, ao contrário do Inglês, que procede friamente, orientado pelo seu sentido prático. A maior desgraça da nossa história, a infeliz campanha de Alcácer Quibir, em que desapareceu D. Sebastião com a élite militar do seu tempo, não passou dum grande sonho vivido, de trágicas consequências. Mas a história está cheia de curiosos episódios, como o do Magriço e o dos Doze de Inglaterra, que vão defender em torneio umas damas ultrajadas por cavaleiros ingleses, a comprovar o fundo de sonhador activo do Português. Além disso, o desprezo pelo interesse mesquinho e o gosto pela ostentação e pelo luxo nunca nos permitiram o aproveitamento eficaz das grandes fontes de riqueza exploradas. Os tesouros passavam pelas nossas mãos e iam-se acumular nos povos mais práticos e bem dotados para capitalizar, como os Holandeses e os Ingleses. Soubemos traficar, mas faltou-nos sempre o sentido capitalista. No século XVI, quando Lisboa era o grande empério do mundo, sob o brilho do luxo já se ocultava a miséria. Gil Vicente descreve os fidalgos cobertos de rendas e brocados, com a sua coorte de lacaios, mas sem dinheiro para comer. O gosto pelas jóias, pela pompa, pelo luxo, é uma constante da nossa cultura. Desde as estações proto-históricas do Noroeste, tão ricas em magníficos exemplares de jóias de ouro, e, depois, nos períodos áureos, de que podemos citar a embaixada de Tristão da Cunha ao papa e as magnificências do reinado de D. João V, até aos nossos dias, tudo confirma o gosto pela ostentação e pelo espavento. Contudo, poucos povos têm menos necessidade de conforto do que o português. Ao contrário dos povos burgueses do Norte e Centro da Europa, o nosso luxo não é um requinte que resulte do conforto, é-lhe quase que oposto; é mero produto da imaginação, e não dos sentidos. Ainda hoje temos as camas mais duras da Europa, e as ruas estão repletas de automóveis de luxo. São poucas as casas ricas com aquecimento e muitas delas não têm uma sala de estar. Mas essas mesmas casas têm salas de visitas ou até salões de baile cheios de porcelanas da Índia e da China. As pessoas modestas, cujas casas são despidas do mínimo conforto, andam nas ruas vestidas com elegância ou com luxo. Um pequeno empregado do comércio, de pouca ilustração e educação, faz mais figura na rua do que um intelectual alemão ou suíço, de boa família e com recursos. Da mesma maneira, qualquer empregadita, que mal ganha para se alimentar, anda vestida impecavelmente e pela última moda. É tal a importância que se atribui ao exterior que, mesmo no Verão e no campo, as pessoas da classe média não se atrevem a tirar o casaco e a gravata. Só nos últimos anos, por influência do cinema e do desporto, isso vai sucedendo. Mas não se concebe que, por exemplo, um estudante universitário aparecesse nas ruas de calção.

Outra constante da cultura portuguesa é o profundo sentimento humano, que assenta no temperamento afectivo, amoroso e bondoso. Para o Português o coração é a medida de todas as coisas.

O sentimento amoroso é muito forte em todas as classes sociais e, fora o aspecto grosseiro, que se compraz em anedotas eró ticas, são inúmeros os exemplos de grande e profunda dedicação, acompanhada de gestos de verdadeiro sacrifício. Não só a história como a literatura nos dão a prova irrefutável da permanência desta característica através dos tempos. O exemplo mais curioso foi a grande paixão de D. Pedro por D. Inês de Castro, que nem a morte conseguiu extinguir e que ainda hoje serve de motivo poético e impressiona as sensibilidades. Na literatura basta lembrar a poesia medieval, tão sentida e original, em que com frequência se canta o amor da mulher pelo homem. A lírica de Camões, esse grande amoroso, dá-nos exemplos da mais bela e mais repassada emoção. As cartas de Soror Mariana Alcoforado, palpitantes de paixão veemen. te, os sonetos de Florbela Espanca, as poe. sias de João de Deus e muitos outros, sem esquecer a riquíssima poesia popular, parti cularmente impregnada de sentimento amoroso, são outras tantas afirmações desta constante da alma portuguesa.

Mas, além de forma puramente amorosa, a afectividade portuguesa revela-se em relação aos parentes, aos amigos e aos vizi nhos. O Português não gosta de ver sofrer e desagradam-lhe os fins demasiado trágicos. Daí talvez a pobreza do género dramática da nossa literatura e as soluções felizes que Gil Vicente soube dar a casos de traiçãc conjugal, que em Lope de Vega ou Calderón acabam em vingança sangrenta 9. Ainda hoje o público gosta dos filmes de happy ending. Outro aspecto curioso dessa característica são as touradas portuguesas, em que o touro não morre e vem embolado, para não ferir os cavalos nem matar os homens. O espectáculo perdeu a intensidade dramática que tem em Espanha, mas ganhou em beleza, pela valorização do toureio, e mantém a nota viril da coragem física com as pegas, em que os homens medem forças com o touro, que é dominado a pulso. Cabe aqui acrescentar que em Portugal não existe a pena de morte, certamente como consequência dessa maneira de ser.

Como representantes do sentimento humano na literatura, temos, por exemplo, Augusto Gil, João de Deus, Júlio Dinis, Trindade Coelho e António Nobre. É este sentimento que explica muitas atitudes desconhecidas noutros países e tão frequentes em Portugal, como a do filho a quem oferecem uma boa situação no estrangeiro e que renuncia por ver umas lágrimas nos olhos da mãe; prefere arruinar as suas esperanças à ideia de a fazer sofrer. É também ele que determina um sem-número de casamentos injustificáveis, em que o homem se sacrifica para evitar o desgosto a uma rapariga com quem namorou algum tempo. Quando vê o sofrimento que provoca a ideia do rompimento, decide-se a casar e aguentar toda a vida uma situação que não foi determinada pela íntima necessidade.

Contudo o Português não é fraco nem covarde. Detesta as soluções trágicas e não é vingativo, mas o seu temperamento brioso leva-o com excessiva frequência a terríveis lutas sangrentas. Quando o ferem na sua sensibilidade e se sente ultrajado, ou perante um ponto de honra, é capaz de reacções de extraordinária violência. São testemunho disso os jornais diários, que relatam rixas tremendas entre amigos e vizinhos. Antigamente, e hoje mais raramente, pela repressão que o Estado tem criado, as lutas entre aldeias vizinhas tomavam aspectos de batalhas campais. Mas, tirando o crime passional, são raros os casos de homicídio perverso. Não se conhecem vampiros, como no Norte da Europa, nem os assassinos que cortam as mulheres aos pedaços e os queimam ou deitam aos rios, como em outros países sucede.

A própria religião tem o mesmo cunho humano, acolhedor e tranquilo. Não se erguem nas aldeias portuguesas essas igrejas enormes e solenes, tão características da paisagem espanhola, que na sua imponência apagam a nota humana. A igreja portuguesa, ora caiada e sorridente entre ramadas, ora singela e sóbria na pureza do granito, é simplesmente a casa do Senhor. É sempre um templo acolhedor, habitado por santos bons e humanos. Não se vêem os Cristos lívidos e torturados de Espanha. A sensibilidade portuguesa não suporta essa visão trágica e dolorosa.

A prova mais evidente deste sentimento humano e terreno da nossa religiosidade verifica-se na extraordinária expansão do estilo românico, com o seu arco singelo bem apoiado na terra, e na falta de assimilação do estilo gótico. Nunca sentimos esse profundo arroubo místico, essa ânsia de ascensão que caracteriza o gótico. O nosso espírito assimilou mal um estilo cuja expressão nos era estranha. Em todos os monumentos arquitectónicos caracteristicamente portugueses perdura uma certa espessura dos pilares, uma nítida tendência para a profundidade e para a horizontalidade, contrária à ânsia de verticalidade ascensional do gótico. O espírito português é avesso às grandes abstracções, às grandes ideias que ultrapassam o sentido humano. A prova disso está na falta de grandes filósofos e de grandes místicos. Nem compartilha do racionalismo mediterrâneo, da luminosidade greco-latina, nem da abstracção francesa, de grandes linhas puras, nem do arrebatamento místico espanhol. Em vez das grandes catedrais góticas da França e da Espanha, ou dos templos clássicos da Renascença italiana, que não sentia, o Português acabou por criar um estilo próprio, onde a sua religiosidade típica melhor se exprime: o manuelino.

Foi no clima de exaltação dos descobrimentos marítimos que os elementos psíquicos dispares da população portuguesa se fundiram e alcançaram as suas expressões mais elevadas. O Atlântico atraíra sempre com a sua magia um certo fundo sonhador e vago das populações costeiras, enquanto as do interior se agarravam fortemente à solidez do solo conquistado. Nas cantigas de amigo perpassava já o perfume dos ventos do mar, enquanto nas pequenas igrejas românicas, fortemente fincadas no chão, se exprimia a solidez rústica duma crença firmemente enraizada na terra. Mas o Atlântico venceu. Os Portugueses lançam-se na grande aventura e desviam a civilização do Mediterrâneo para o Atlântico, mudando o curso à história universal. O velho do Restelo era o homem da terra em face da loucura marítima. Porém, solidário como nos tempos da Reconquista, quando ficava a cultivar as terras recém-conquistadas, o camponês também não falhou a colonizar as terras recém-descobertas. Apesar de a população metropolitana ser insignificante, a Madeira e os Açores começam a ser colonizados em 1425 e 1439, isto é, 6 e 12 anos logo após o seu descobrimento. Por fim descobre-se o caminho marítimo para a índia e toma-se posse oficial do Brasil 'o. O profundo sentimento da natureza, já patente na Lírica Medieval e na Menina e Moça, robustece-se em contacto com os grandes horizontes abertos, com as tempestades e com os mundos exóticos, povoados de animais e de gentes estranhas ". Os Lusíadas, que entusiasmaram Humboldt pelo seu enorme encanto ao descrever os fenómenos marítimos, são o grande poema do mar. Sente-se nele o deslumbramento do poeta e de toda a geração o que precedeu:
Digam agora os sábios da Escritura Que segredos são estes da Natura...
Perante a grandeza e os mistérios da natureza, que os Portugueses vão a pouco e pouco descobrindo, nasce uma atitude espe cial, não destituída dum certo fundo místico-naturalista, com tintas de panteismo. Não panteísmo filosófico, mas sentimental. O Deus que se adorava continuava a ser o mesmo, dentro da ortodoxia católica, mas o mundo por Ele criado era muito mais variado e rico. É então que surgem os Jerónimos como expressão arquitectónica máxima da religiosidade portuguesa. A grande novidade era a decoração naturalista, inspirada em motivos do mar e na exuberância da vegetação exótica. O antigo sentimento da natureza, que só encontra até então expressão poética, transporta-se agora para a forma plástica. Os templos enchem-se de elementos da natureza, impregnados de sentido religioso, de evocações de mundos longínquos e estranhos e dos mistérios do mar. Era natural que esse povo de marinheiros quisesse decorar os seus templos com as belezas do mundo recém-descoberto. Ainda hoje os pescadores rudes do Norte de Portugal costumam levar como ex-votos ao santo da sua devoção miniaturas de navios ou quadros alegóricos de qualquer naufrágio ou perigo de que escapam. Porém, se na decoração há novidade arquitectónica, a sensibilidade portuguesa manteve-se presa ao atavismo românico, na solidez das proporções e no arco redondo. A sua religiosidade rude e simples sente confiança num templo fortemente apoiado na terra, onde paira uma obscuridade doce que repousa o espírito.

O manuelino é, pela sua decoração, uma espécie de estilo barroco, razão por que Eugénio d'Ors diz que o barroco nasceu em Portugal '2. Contudo, no manuelino e, mais tarde, no nosso barroco falta por completo o movimento musical que se verifica noutros países, sobretudo na Áustria e nos arredores alpinos. Se o movimento é uma das características mais salientes do barroco, temos de ver que esse movimento toma entre nós uma feição especial que o afasta inteiramente do pais das valsas. É um movimento parado, uma espécie de imóvel « perpetuum mobile», como diz Santiago Kastner ao referir-se aos ostinati dos compositores portugueses ". De facto, a actividade portuguesa é de tipo flsico, embora seja determinada pela imaginação, mas há qualquer coisa de estático na emoção portuguesa. O fundo contemplativo da alma lusitana compraz-se na repetição ou na imobilidade da imagem.

Uma das características mais importantes da saudade é precisamente essa fixidez da imaginação, que, por intensidade, se pode tornar em ideia motora e conduzir à acção. A poesia medieval impressiona tanto pela imobilidade dos pequeninos quadros, que se repetem, que até houve quem lhe procurasse uma origem oriental". Além disso, a literatura portuguesa manteve até hoje o carácter lírico. A vocação para o género épico e dramático foi sempre menor, e até mesmo Os Lusíadas valem muito pelo seu fundo lírico. Os romances actuais são, da mesma maneira, falhos de acção, parados. Mas na música repete-se exactamente o mesmo fenómeno. Em quase todos os compositores se verifica a imobilidade, o apego a meia dúzia de desenhos musicais fixos, às sequências obstinadas. Falta-nos a animação própria dos Espanhóis e a predisposição para encadeamento de movimentos, frequente noutros povos. Diz Santiago Kastner a propósito de Duarte Lobo que este «logrou expressividade penetrante, que deriva antes da atitude contemplativa e do ensinamento do que do afã de dramatização estilizada e porventura excessiva» .

Não será isto, afinal, uma constante da alma portuguesa, que se revela particularmente neste compositor? O «ostinatismo» que se verifica na música erudita portuguesa, e que, parece, veio influenciar a música europeia da época, é um dos aspectos do temperamento português, que se pode notar em outras manifestações artísticas. O manuelino ´esse mesmo ostianismo tão português como marítimo, feito de ondas e de espuma e de vago apelo da distância. Onde há movimento mais imóvel que o das ondas a rolar os seixos das praias?

É possível que o fundo histórico da imobilidade e do «ostinatismo» da música erudita portuguesa sejam os intervalos paralelos e isométricos das canções corais alentejanas e minhotas, que na sua essência representam também a ideia do ostinato, mas a sua verdadeira origem deve estar na alma contemplativa e obstinada dos Portugueses. Foi a própria obstinação que tornou possível a realização dum sonho que parecia superior às forças daqueles que o realizaram. O manuelino, afinal, é a expressão arquitectónica desse sonho materializado; é, como disse Reinaldo dos Santos, a «arte dos Descobrimentos '°.

O «ostinatismo» tem, como a saudade, mais que uma face. Se por trás dele existe uma ideia grande pode ser fértil em resultados, pela sua enorme capacidade de penetração, de movimento em profundidade. Mas, sem esse amparo, tem o perigo de conduzir à imobilidade mental, ou ao movimento aparente e sem sentido, porque lhe alta a força de coesão social, que leva o 'ortuguês a ultrapassar o seu individualismo e a colaborar. De facto, o Português tem um forte sentimento de individualismo, que se não deve confundir com o de personalidade. Enquanto a personalidade anglo-saxónica ou germânica não colide geralmente com os interesses sociais e só preza a sua liberdade íntima, o Português, da mesma maneira que o Espanhol, tem uma forte ânsia de liberdade individual, que muitas vezes é anti-social. A tendência a opor-se a tudo que se lhe não apresente com carácter humano obriga-o a lutar contra as leis ou organizações gerais. Detesta o impessoal e o abstracto e põe acima de tudo as relações humanas. 0 seu fundo humano torna-o extraordinariamente solidário com os vizinhos, e em poucas regiões da Europa existirá ainda vivo como em Portugal o espírito comunitário e de auxílio mútuo`. Mas qualquer organização geral que limite as liberdades individuais produz imediatamente um movimento de reacção em que todos são solidários. Um pequeno exemplo anedótico verifica-se no costume de os automobilistas fazerem sinais com os faróis a todos os carros com que se cruzam, sempre que tenham visto a polícia das estradas, para os porem de sobreaviso. A policia, como representante da lei geral, é considerada como inimigo, e logo surge a reacção.

Da mesma maneira o funcionário, até quando veste uma farda e obriga a cumprir a lei, tem idêntica dificuldade em represen tar um papel impessoal. Esta tipica feição portuguesa dá origem a uma das burocracias mais rígidas que até hoje conheci na Europa. O funcionário menor agarra-se desesperadamente à letra da lei, sem tentar compreender-lhe o espírito. Qualquer caso menos corrente já o não quer resolver e atira-o para o seu superior hierárquico. Sente-se mal e pouco à vontade metido naquela camisa de forças, que o impede de ser ele próprio e de se apoiar no seu instinto humano. A própria tristeza e má vontade que, em geral, traz estampadas no rosto devem ser a consequência do violento esforço de adaptação a funções para as quais não sente vocação. Esta tendência a sobrepor a simpatia humana às prescrições gerais da lei fez com que durante muito tempo a vida social e pública girasse à volta do empenho ou do pedido de qualquer amigo. Pedia-se para passar nos exames, para ficar livre do serviço militar, para conseguir um emprego, para ganhar uma questão, enfim, para todas as dificuldades da vida. Hoje em dia tal hábito tradicional tem sido contrariado e já quase não existe. Porém, este fundo de simpatia que regula as relações entre os Portugueses está tão entranhado que até no comércio, onde o interesse se devia sobrepor a tudo, ele se verifica. Disse-me um vendedor alemão, que viveu muitos anos em Portugal, que para fazer negócio no nosso país era indispensável conquistar a simpatia do comprador. Uma vez isto conseguido, tinha-se a certeza de obter a preferência. Pelo contrário, noutros países, a única maneira de vender é oferecer maiores vantagens materiais, independentemente de toda a amizade pessoal.

É a sobreposição dos valores humanos ao lucro e ao utilitário que explica muitos capítulos da nossa história e que deixa compreender muitas formas da sociedade actual. Tal mentalidade é a negação do espírito capitalista. No campo, sobretudo, é ainda viva a mentalidade patriarcal, onde a mesa está pronta para quem se quiser sentar e onde se não nega o pão e o caldo ao mendigo que passa. De dinheiro podem ser avaros, mas não fazem as contas ao que é da sua lavoura. Chegam a vender coisas mais baratas do que elas lhes custam. Porém, nas próprias empresas comerciais e industriais existem ainda muitos casos de absoluta falta de racionalização. O Português gosta de fazer projectos vagos, castelos no ar que não pensa realizar. Mas no seu intimo alberga uma certa esperança de que' as coisas aconteçam milagrosamente. Esta forte crença no milagre, cujo aspecto mais grosseiro é a enorme popularidade do jogo da lotaria, chega a tomar aspectos curiosos, dos quais sobressai o sebastianismo. Todos esperavam que o rei D. Sebastião, morto em África, surgisse numa manhã de nevoeiro montado no seu cavalo de guerra. A crença viva é decididamente uma força, mas, quando toma aspectos irracionais e supersticiosos, pode ser uma fraqueza. Um dos aspectos maus e muito correntes é a crença na sorte: «Fulano tem sorte» e «eu não tenho sorte» servem para diminuir as qualidades dos outros e justificar a própria incapacidade.

A imaginação sonhadora, a antipatia pela limitação que a razão impõe e a crença milagreira levam-no com frequência a situa ções perigosas, de que se salva pela invulgar capacidade de improvisação de que é dotado. Quando se aproxima a catástrofe, abrem-se-lhe os olhos da razão, e então é capaz de desenvolver tal energia e com tal eficiência que a isso é que se poderia chamar milagre. O facto de se repetirem tais situações deve explicar-se pela confiança que o Português tem na facilidade das soluções da última hora. Nesses momentos a sua inteligência viva, a enorme capacidade de adaptação a todas as circunstâncias e o jeito para tudo permitem-lhe dominar as situações com êxito.

É ainda essa enorme capacidade de adaptação uma das constantes da alma portuguesa. O Português adapta-se a climas, a profissões, a culturas, a idiomas e a gentes de maneira verdadeiramente excepcional. 0 Português foi sempre poliglota. Já os nossos clássicos escreveram quase todos em mais de uma língua, e mesmo as pessoas de pouca ilustração aprendem e sabem com frequência falar um idioma estrangeiro. Mas a capacidade de adaptação é geral; podia ilustrar-se com inúmeros exemplos. É, porém, curioso que o Português se adapta a outro ambiente cultural tão bem que parece ter sido assimilado; mas volta para Portugal e em pouco tempo já não se distingue dos outros. Enquanto o Inglês fica sempre inglês em toda a parte, e o Alemão, quando deixa de o ser, dificilmente volta a tornar-se alemão, o Português assimilou completamente o provérbio que diz: «Em Roma sê romano.» Mas só enquanto está em Roma.

A capacidade de adaptação, a simpatia humana e o temperamento amoroso são a chave da colonização portuguesa. O Portu guês assimilou adaptando-se. Nunca sentiu repugnância por outras raças e foi sempre relativamente tolerante com as culturas e religiões alheias. A miscigenação portuguesa não tem só uma explicação sensual, embora a caracterize uma forte sexualidade. Ainda hoje o Português tem decidida inclinação por mulheres doutras raças e é capaz de mostrar grande afeição ou profundo amor. É célebre o amor de Camões por uma escrava, cantado em versos sentidos. Mas o Português não gosta só de certas raças, gosta de quase todas. Um dia, ao folhear um livro de registo de portugueses no consulado de Berlim, fiquei espantado com o elevado número de casamentos de portugueses com alemãs, e já tenho encontrado, mesmo em aldeias primitivas, mulheres francesas, espanholas e italianas (estas residentes no Brasil) casadas com antigos emigrantes.

O Português é menos exuberante, ruidoso e expansivo que os outros meridionais. Um só espanhol, numa carruagem de com boio, abafa com a sua voz a de todos os portugueses. Além disso, o Português é inibido por um forte sentimento do ridiculo. Como é muito sensível e dotado da faculdade de se aperceber do que vai nos outros, receia ser vítima da ironia e da crítica trocista, tão comum em Portugal. De facto, a ironia, muito mais do que o humor, tem fundas raizes na cultura portuguesa; desde as cantigas de escárnio e maldizer da Idade Média até à ironia de Eça de Queirós há toda uma gama de coloridos. Temos a ironia benévola de Gil Vicente, a mordente de Nicolau Tolentino e de Bocage e a ironia pungente ou sarcástica de Fialho e de Camilo. Mas o próprio povo, com as suas certeiras alcunhas e apelidos, ou com os apodos tópicos, ou com os cantares ao desafio, etc., mostra a terrível arma de que é dotado. Por isso, a sensibilidade, que é um dos grandes elementos positivos da mentalidade portuguesa, é também um dos grandes elementos da sua fraqueza. O sentimento do ridículo e o medo da opinião alheia abafam nele muitos impulsos generosos, deformam a sua naturalidade e impedem-no de se entregar livremente aos prazeres simples e à alegria espontânea. Nas classes populares tal sentimento é moderado, mas nas outras classes é tão saliente que se tornam com frequência ridículos pelo medo de o parecer. Tal sentimento complica-se pela consciência das glórias passadas, pelo desprezo paradoxal pelos valores burgueses e pela admiração pelas realizações alheias. O Português, muito intimamente, é incapaz de ambicionar para a sua pátria o bem-estar e a prosperidade que, por exemplo, o Suíço conseguiu pelo esforço pertinaz e constante. É certo que o Português se envergonha perante um suíço, pelo elevado nível de vida que aquele soube conquistar, mas se fosse ele o suíço, envergonhar-se-ia da mesma maneira, por ter conseguido um bem-estar sem glória.

É um povo paradoxal e difícil de governar. Os seus defeitos podem ser as suas virtudes e as suas virtudes os seus defeitos, conforme a égide do momento.

Os mitos

(Última edição: terça-feira, 20 de dezembro de 2005 às 23:18)

Os mitos


Público, 20 de Dezembro de 2005


Jesus não nasceu a 25 de Dezembro, não foi dado à luz numa gruta, não havia burro ou vaca a assistir, os magos não eram reis nem eram três, não houve pastores a adorá-lo, não fugiu para o Egipto. As histórias de Natal estão cheias de pormenores que têm apenas uma intencionalidade teológica. Apenas? Não fossem essas histórias e onde estaria a dimensão do maravilhoso no Natal?


Por António Marujo


No cristianismo, o ponto de partida está na encarnação do Verbo. Aqui, não é apenas o homem a procurar Deus, mas é Deus que vem em pessoa falar de si ao homem e mostrar-lhe o caminho por onde é possível atingi-lo.

(João Paulo II, Carta apostólica Tertio Millenio Adveniente, sobre o início do terceiro milénio)


Nenhuma das histórias é verdade? A vinda dos magos do oriente, a acção da estrela, a conversa dos magos com Herodes, que pôs em alvoroço a cidade de Jerusalém, a adoração dos magos, o prazo de dois anos entre a vinda dos magos e a matança dos inocentes, a ida de Jesus, Maria e José para o exílio no Egipto, onde permanecem dois anos, é uma narrativa midráchica, artificial.

O padre Joaquim Carreira das Neves, biblista, sintetizava deste modo, a 6 de Outubro deste ano, na sua última lição pública, o modo como a exegese bíblica contemporânea olha para as narrativas da infância de Jesus contidas nos evangelhos. Midráchica designa uma narrativa maravilhosa para referir um facto de fé.

Nessa intervenção, que será em breve publicada na revista Didaskalia, da Universidade Católica, Carreira das Neves acrescentava: É anti-racional que Herodes tenha mandado matar as crianças de Belém e arredores, precisamente dois anos depois do aparecimento dos magos. A ser verdade, e não obstante os crimes do rei, Flávio Josefo [historiador do século I, autor de Antiguidades  Judaicas] não deixaria de apresentar este crime como o maior de todos os crimes.

Não há que enganar: as narrativas da infância de Jesus apenas contidas nos Evangelhos de Mateus e Lucas, e mesmo assim com elementos contraditórios
entre ambas servem propósitos bem determinados: pretendem ser uma teologia ou catequese em que cada evangelista escolhe a melhor pedagogia e linguagem para o anúncio do mesmo salvador a destinatários diferentes, escreve frei Lopes Morgado (Entrai, Pastores, Entrai, catálogo da exposição de presépios de Dezembro de 2002, em Évora). Ou, na expressão de Carreira das Neves (Jesus Cristo História e Mistério, ed. Franciscana), esses relatos que datam dos anos 75 a 85 pretendem informar não sobre a história do nascimento e da infância de Jesus, mas sobre a modalidade do ser dessa criança. Porque surgiram então tais relatos? Muitos dos mitos ligados ao Natal devem-se às histórias dos evangelhos apócrifos (reunidos na Biblioteca de Nag Hammadi, que acaba de ser editada em Portugal pela Esquilo). Esses textos, dos séculos III e IV, que ajudam a entender o gnosticismo cristão daquela época, retratam um Jesus que faz milagres desde bebé, que se zanga facilmente ou, pelo contrário, é capaz de ajudar intensa e miraculosamente
fazendo brotar água, por exemplo.

Uma espécie de um ser humano que se quer mais divino que o divino. Os dois evangelistas da infância Mateus e Lucas traduzem a mentalidade cristã do final do primeiro século, como explica ainda Charles Perrot (Narrativas da
Infância de Jesus, ed. Difusora Bíblica). Mas o seu maravilhoso, escreve France Queré (Os Evangelhos Apócrifos, ed. Estampa), tem a intenção de mostrar que o nascimento de Jesus dá um corpo sensível à devoção, começa-se a amar a Deus como a uma pessoa. O cristianismo insere-se na história, porque Deus se
tornou humano. E Jesus, o Deus que se torna homem, é o libertador para os tempos novos, um novo Moisés.

Overhaul of Linux License Could Have Broad Impact

(Última edição: quarta-feira, 30 de novembro de 2005 às 10:35)

Overhaul of Linux License Could Have Broad Impact

Published: NYT, November 30, 2005
 

The rules governing the use of most free software programs will be revised for the first time in 15 years, in an open process that begins today.

Free software, once regarded as a tiny counterculture in computing, has become a mainstream technology in recent years, led by the rising popularity of programs like the GNU Linux operating system.

Industry analysts estimate that the value of hardware and software that use the Linux operating system is $40 billion. And Linux has become a competitive alternative to Microsoft's Windows, especially in corporate data centers.

So the overhaul of the General Public License, which covers Linux and many other free software programs, is an issue of far greater significance today than before.

"The big boys, corporations and governments, have far more reason to be interested and concerned this time," said Eben Moglen, general counsel to the Free Software Foundation, which holds the license, commonly known as the G.P.L.

The process will also be closely watched for how the new G.P.L. will take account of software patents, which have exploded among proprietary software developers since 1991, the last time the license was revised.

A document that describes the principles and timeline for updating the G.P.L., as well as the process for public comment and resolving issues, was to be posted today at www.gplv3.fsf.org. A first draft will be presented at a conference at the Massachusetts Institute of Technology, scheduled for Jan. 16 and 17.

A second draft is expected by summer. If a third draft is required, it should be completed by the fall of 2006. The process, Mr. Moglen said, could involve comments from thousands of corporations and individuals, but the Free Software Foundation will make the final judgments.

The revision process promises to be intriguing because of the man behind the G.P.L., Richard Stallman, the founder of the Free Software Foundation.

The G.P.L., according to Mr. Stallman, is an effort to use copyright law to protect what he calls the "four basic freedoms of software" - the unrestricted right to use, study, copy and modify software. The license also requires that any modifications be redistributed with the same unrestricted rights.

Mr. Stallman is renowned as both a brilliant computer programmer and a person of emphatic views on matters of software. At the Artificial Intelligence Lab at M.I.T. in the 1980's, Mr. Stallman began writing a free version of the proprietary Unix operating system, which he called GNU, and he distributed his work free.

Mr. Stallman, working as a lone craftsman, wrote a huge amount of code for the operating system and software tools for building it. But he had not gotten around to designing the "kernel" of the free operating system - the core of the program, controlling a computer's most basic functions.

In 1991, Linus Torvalds, a university student in Finland, wrote a kernel and wrapped much of the GNU code around it. The completed operating system attracted a following of programmers, working collaboratively to debug and improve the program. The operating system became known as Linux, and the networked style of work was called open source.

In Mr. Stallman's view, proprietary software is an unwarranted restriction on the freedom of information. The revision of the G.P.L., he said, is "part of something bigger - part of the long-term effort to liberate cyberspace." Software patents, he said, are "utterly insane."

For Microsoft's part, Steven A. Ballmer, its chief executive, has called the G.P.L. a "cancer."

Yet in his way, Mr. Stallman is also quite pragmatic. Proprietary software applications can run on Linux without restrictions, which is important for the survival of Linux as a viable alternative to commercial operating systems.

Mr. Stallman also acknowledged that patent rights are a sticky issue for free software, because any attempt in the G.P.L. to counteract the spread of patented software could backfire by making it difficult for free and proprietary software to run on the same computer.

"Patents are a serious issue we have to address, but we have limited leverage," he said. "Sometimes, if you push too hard, you end up pushing yourself back instead of hurting your adversary."

P

PetroCollapse

(Última edição: sábado, 15 de abril de 2006 às 13:46)

Home

PetroCollapse New York Conference
October 5, 2005

Remarks by James Howard Kunstler
Author of The Long Emergency

In the waning months of 2005, our failure to face the problems before us as a society is a wondrous thing to behold. Never before in American history have the public and its leaders shown such a lack of resolve, or even interest, in circumstances that will change forever how we live.

Even the greatest convulsion in our national experience, the Civil War, was preceded by years of talk, if not action. But in 2005 we barely have enough talk about what is happening to add up to a public conversation. We're too busy following Paris Hilton and Michael Jackson, or the NASCAR rankings, or the exploits of Donald Trump. We're immersed in a national personality freak show soap opera, with a side order of sports 24-7.

Our failure to pay attention to what is important is unprecedented, even supernatural.

This is true even at the supposedly highest level. The news section of last Sunday's New York Times did not contain one story about oil or gas - a week after Hurricane Rita destroyed or damaged hundreds of drilling rigs and production platforms in the Gulf of Mexico - which any thought person can see leading directly to a winter of hardship for many Americans who can barely afford to heat their homes - and the information about the damage around the Gulf was still just then coming in.

What is important?

We've entered a permanent world-wide energy crisis. The implications are enormous. It could put us out-of-business as a cohesive society.

We face a crisis in finance, which will be a consequence of the energy predicament as well as a broad and deep lapse in our standards, values, and behavior in financial affairs.

We face a crisis in practical living arrangements as the infrastructure of suburbia becomes hopelessly unaffordable to run. How will fill our gas tanks to make those long commutes? How will we heat the 3500 square foot homes that people are already in? How will we run the yellow school bus fleets? How will we heat the schools?

What will happen to the economy connected with the easy motoring utopia - the building of ever more McHouses, WalMarts, office parks, and Pizza Huts? Over the past thirty days, with gasoline prices ratcheting above $3 a gallon, individuals all over America are deciding not to buy that new house in Partridge Acres, 34 miles from Dallas (or Minneapolis, or Denver, or Boston). Those individual choices will soon add up, and an economy addicted to that activity will be in trouble.

The housing bubble has virtually become our economy. Subtract it from everything else and there's not much left besides haircutting, fried chicken, and open heart surgery.

And, of course, as the housing bubble deflates, the magical mortgage machinery spinning off a fabulous stream of hallucinated credit, to be re-packaged as tradable debt, will also stop flowing into the finance sector.

We face a series of ramifying, self-reinforcing, terrifying breaks from business-as-usual, and we are not prepared. We are not talking about it in the traditional forums - only in the wilderness of the internet.

Mostly we face a crisis of clear thinking which will lead to further crises of authority and legitimacy - of who can be trusted to hold this project of civilization together.

Americans were once a brave and forward-looking people, willing to face the facts, willing to work hard, to acknowledge the common good and contribute to it, willing to make difficult choices. We've become a nation of overfed clowns and crybabies, afraid of the truth, indifferent to the common good, hardly even a common culture, selfish, belligerent, narcissistic whiners seeking every means possible to live outside a reality-based community.

These are the consequences of a value system that puts comfort, convenience, and leisure above all other considerations. These are not enough to hold a civilization together. We've signed off on all other values since the end of World War Two. Our great victory over manifest evil half a century ago was such a triumph that we have effectively - and incrementally - excused ourselves from all other duties, obligations and responsibilities.

Which is exactly why we have come to refer to ourselves as consumers. That's what we call ourselves on TV, in the newspapers, in the legislatures. Consumers. What a degrading label for people who used to be citizens.

Consumers have no duties, obligations, or responsibilities to anything besides their own desire to eat more Cheez Doodles and drink more beer. Think about yourself that way for twenty or thirty years and it will affect the collective spirit very negatively. And our behavior. The biggest losers, of course, end up being the generations of human beings who will follow us, because in the course of mutating into consumers, preoccupied with our Cheez Doodle consumption, we gave up on the common good, which means that we gave up on the future, and the people who will dwell in it.

There are a few other impediments to our collective thinking which obstruct a coherent public discussion of the events facing us which I call the Long Emergency. They can be described with precision.

Because the creation of suburbia was the greatest misallocation of resources in the history of the world, it has entailed a powerful psychology of previous investment - meaning, that we have put so much of our collective wealth into a particular infrastructure for daily life, that we can't imagine changing it, or reforming it, or letting go of it. The psychology of previous investment is exactly what makes this way of life non-negotiable.

Another obstacle to clear thinking I refer to as the Las Vegas-i-zation of the American mind. The ethos of gambling is based on a particular idea: the belief that it is possible to get something for nothing. The psychology of unearned riches. This idea has now insidiously crept out of the casinos and spread far-and-wide and lodged itself in every corner of our lives. It's there in the interest-only, no down payment, quarter million-dollar mortgages given to people with no record of ever paying back a loan. It's there in the grade inflation of the ivy league colleges where everybody gets As and Bs regardless of performance. It's in the rap videos of young men flashing 10,000-dollar watches acquired by making up nursery rhymes about gangster life - and in the taboos that prevent us from even talking about that. It's in the suburbanite's sense of entitlement to a supposedly non-negotiable easy motoring existence.

The idea that it's possible to get something for nothing is alive and rampant among those who think we can run the interstate highway system and Walt Disney World on bio-diesel or solar power.

People who believe that it is possible to get something for nothing have trouble living in a reality-based community.

This is even true of the well-intentioned lady in my neighborhood who drives a Ford Expedition with the War Is Not the Answer bumper sticker on it. The truth, for her, is that War IS the Answer. She needs to get down with that. She needs to prepare to send her children to be blown up in Asia.

The Las Vegas-i-zation of the American mind is a pernicious idea in itself, but it is compounded by another mental problem, which I call the Jiminy Cricket syndrome. Jiminy Cricket was Pinocchio's little sidekick in the Walt Disney Cartoon feature. The idea is that when you wish upon a star, your dreams come true. It's a nice sentiment for children, perhaps, but not really suited to adults who have to live in a reality-based community, especially in difficult times.

The idea - that when you wish upon a star, your dreams come true - obviously comes from the immersive environment of advertising and the movies, which is to say, an immersive environment of make-believe, of pretend. Trouble is, the world-wide energy crisis is not make-believe, and we can't pretend our way through it, and those of us who are adults cannot afford to think like children, no matter how comforting it is.

Combine when you wish upon a star, your dreams come true with the belief that it is possible to get something for nothing, and the psychology of previous investment and you get a powerful recipe for mass delusional thinking.
As our society comes under increasing stress, we're liable to see increased delusional thinking, as worried people retreat further into make-believe and pretend.

The desperate defense of our supposedly non-negotiable way of life may lead to delusional politics that we have never seen before in this land. An angry and grievance-filled public may turn to political maniacs to preserve their entitlements to the easy motoring utopia - even while reality negotiates things for us.

I maintain that we may see leaders far more dangerous in our future than George W. Bush.

The last thing that this group needs is to get sidetracked in paranoid conspiracy politics, such as the idea that Dick Cheney orchestrated the World Trade Center attacks, which I regard as just another form of make-believe.

This is what we have to overcome to face the reality-based challenges of our time.

At the bottom of the Peak Oil issue is the fear that we're not going to make it.

The Long Emergency looming before us is going to produce a lot of losers. Economic losers. People who will lose jobs, vocations, incomes, possessions, assets - and never get them back. Social losers. People who will lose position, power, advantage. And just plain losers, people who will lose their health and their lives.

There are no magic remedies for what we face, but there are intelligent responses that we can marshal individually and collectively. We will have to do what circumstances require of us.

We are faced with the necessity to downscale, re-scale, right-size, and reorganize all the fundamental activities of daily life: the way we grow food; the way we conduct everyday commerce and the manufacture of things that we need; the way we school our children; the size, shape, and scale of our towns and cities.

These are huge tasks. How can we bring a reality-based spirit to them?

I have a suggestion. Let's start with one down-to-earth project that we can take on with confidence, something we have a reasonable shot at accomplishing, and fairly quickly, something that will address our energy problems directly and will make a difference for the better. Let's get started rebuilding the passenger railroad system in our country.
Nothing else we might do would make such a substantial impact on our outlandish oil consumption.

We have a railroad system that the Bulgarians would be ashamed of.

The fact that we are not talking about this shows how deeply unserious we are - especially the Democratic party. I am a registered Democrat. Where is my party on this issue? Where was John Kerry? Where are Senators Hillary Clinton and Charles Schumer? We should demand that they get serious about rebuilding the public transit of America - not next month or next year but tomorrow, starting at the crack of dawn.

Any person or any group who finds themselves in trouble has to begin somewhere. They have to take a step that will prove to themselves that they are not helpless, that they are capable of accomplishing something, and accomplishing that first thing will build the confidence to move on to the next step.

That's how people save themselves, how they reconnect with reality-based virtue.

We were once such a people. We were brave, resourceful, generous, and earnest. The last thing we believed was the idea that it was possible to get something for nothing. That we were entitled to a particular outcome in life, apart from the choices we made and how we acted. We can recover those forsaken elements of our collective character. We can be guided, as Abraham Lincoln said, by the better angels of our nature.

We lived in a beautiful country with vibrant towns and cities, and a gorgeous, productive rural landscape, and we were sufficiently rewarded by them so we did feel driven to seek refuge in make-believe all the livelong day. When we wanted to accomplish something we set out to do it, to make it happen, not merely to wish for it. We knew the difference between wishing and doing - which is probably the most important thing that adult human beings can know.

I hope we can get back to being that kind of people. This effort here today is a good start.

Please sir, can we have some more?

(Última edição: sábado, 5 de novembro de 2005 às 15:42)
Please sir, can we have some more?

Virtual learning environments are getting kids excited about education. Teesside pupils have developed an appetite for a piece of software called Moodle - and grades have improved as a result. Irene Krechowiecka reports

Tuesday October 4, 2005
The Guardian

When Darren Smith returned to work at Egglescliffe school in Teesside after a couple of months' absence, his pupils were pleased to see him, of course, but their most pressing question was would they be able to continue using Moodle? While Smith had been off sick he'd kept in touch with exam classes, setting and marking work remotely, courtesy of this brilliant piece of software. Brilliant because it's simple to use, is designed for educators by educators, has an ever growing range of powerful features and, perhaps most important of all, is open source (free).
"When I realised I'd be off for a while I decided using a virtual learning environment (VLE) would enable me to keep working with pupils. Moodle appealed because I could use it straight away without going through lots of sales. The pupils responded really well, with many spending considerable time out of school working through materials again and re-reading comments I'd made on their work. The results were good that year - in the GCSE class everyone got C or above and there had been several borderline students."

Teachers can use Moodle to publish course materials, set up discussions, send messages, hand out and mark assignments, create self-marking tests, and have live chats or one-to-one private discussions with their pupils. Students can access their courses from any internet-linked computer and everything anyone does is logged - even if they tell you they spent hours struggling with a task, there's a foolproof way of checking.

Smith was worried that pupils might find this intrusive but that's not so: "They see it as being of benefit. Moodle has now spread across the school, and resources and homework for most subjects can be accessed on line. Parents often worry that, when children say they're using the internet for homework, they're really playing games, but the Moodle logs show that's not the case."

The word, Moodle, is an acronym for modular object-oriented dynamic learning environment. But for its Australian creator, Martin Dougiamas, it's also a verb that describes "an enjoyable tinkering that leads to insight and creativity".

When Dougiamas started work on Moodle he imagined it would largely be used by higher education. So he's been surprised to find the biggest user group around the world are secondary schools. "They've turned out to be a vocal bunch and have driven a lot of the recent changes, which is great. Change, collaboration and learning from each other are very much features of any open source community. Software works better when it's free, a concept that can be hard to grasp if you're used to paying for it."

He's passionate about the idea of Moodle remaining free: "It feels wrong to put a cost on educational software. Not only does it open up experimentation and contributions from the community, but software costs nothing to replicate once you have written it. I prefer to find other ways to fund development."

The ethos of collaboration has spread to Moodle content, too. Darren Smith has made all the ICT courses he's created for years 7, 8 and 9 freely available for download from www.e-subjects.co.uk. These zipped files can be dropped into Moodle and Smith hopes that, as other teachers edit and change his work, they will likewise share, creating a repository of high-quality teaching materials.

Teachers involved in the new DiDA ICT qualification will soon be able to drop the free materials being developed by North West Grid for Learning into Moodle. The DiDA-delivered materials use technologies such as 3D Game Based Learning and chromakey video. To register an interest use the "contact us" section at http:// dida.nwlg.org.

In a virtual world it's easy to blur the distinction between who is the learner and who is the teacher; several schools have experimented by allowing pupils editing rights so they can work alongside teachers, creating and designing courses. At Perins school in Hampshire, Moodle courses are being developed by a team of students (gurus) and teachers (specialists). The gurus come from years 7 -11, and are led by year 10 and 11 ICT students.

Gideon Williams, head of ICT, says there is no problem with giving pupils full editing rights. "Students think it's a fantastic way to learn, and they provide great insight for the teachers because they know what works for them as pupils. We want to encourage independent learning and thinking, and Moodle is an excellent tool for this."

Amy Johnson, a year 11 guru, says she's really enjoyed working with teachers on the project: "We all learnt a lot about what lessons need to include and what students like in their lessons. Moodle gives everyone a chance to get their say about how and what they want to learn."

Colin Charde, the school's head of English, was suspicious at first. "I expected it to be another bandwagon, something I would forget about after the training, but it's not. It enhances teaching and learning and has become an invaluable tool."

Simplicity

Part of Moodle's appeal is its simplicity. It doesn't have special pages for editing purposes - as you're viewing a page you can make changes to it by turning the editing function on. Anyone who can create an email with an attachment has the skills to start using Moodle. As you delve into its potential there's more you'll want to learn, but it's extremely intuitive. The contextual help is excellent and the busy global message boards on the main Moodle site (http://moodle.org) provide answers to everything. For those who prefer their help notes as hard copy, Jason Cole's Using Moodle (O'Reilly Community Press) is a comprehensive guide. Buy it from www.helpusgettobett.com and you'll be helping the UK Moodle community's effort to pay for a stand at the Bett show.

Creating courses, no matter how intuitive the interface, is time-consuming. For those who want an easy introduction to the power of a VLE, Moodle offers some quick wins that save teachers time and extend their reach. Setting up message boards or chat sessions to support homework and revision takes little effort and is an effective way of providing out-of-lesson support - pupils often end up helping each other, with the teacher keeping an eye on what's happening.

At Parrs Wood in Manchester, Moodle was initially used to deliver personal development courses at key stage 3. Deputy head Jo MacKinnon chose Moodle because it was so user-friendly, quick to set up and adaptable. "We started using it to provide skills-based activities which students could work on in our independent learning centre when staff were absent. It proved effective and a growing number of teachers now use it for a range of subjects.

"This term we've moved to using it for all staff communication and the feedback from teachers has been very positive."

Parrs Wood also provides support to other schools interested in exploring Moodle through the Specialist Schools Trust ICT register (www.ict-register.net).
Q

Quem nos liberta desta cruz?

(Última edição: segunda-feira, 12 de dezembro de 2005 às 21:54)

Quem nos liberta desta cruz?

Expresso, 10 de Dezembro de 2005

«Esta religião, baseada num incontrolável relativismo é o 'eduquês'.»

DEPOIS de muito se discutir a famosa questão dos crucifixos nas salas de aula (onde apenas resistia em 20 escolas, por todo o país), talvez seja altura de discutir algo verdadeiramente importante para a educação dos nossos filhos. Porque é uma cruz bem mais pesada do que qualquer crucifixo o ataque sistemático que vem sendo feito ao conhecimento científico, ao saber e aos valores.

Vejamos um exemplo esclarecedor: está numa comunicação de João Filipe de Matos, um dos dirigentes do Centro de Investigação em Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e director da sua «Revista de Educação». Este académico, responsável pela formação de professores, parte de um princípio claro, recorrendo a uma citação: «nas sociedades capitalistas, a escola justifica e produz desigualdades».

Por isso, defende que - e cito para que não restem dúvidas - «a disciplina de matemática deve ser urgentemente eliminada dos currículos do ensino básico». Matos prefere que se ensine - volto a citar - «educação matemática». Ou seja, o professor tem uma religião e quer impô-la. E o seu primeiro mandamento é que nada se deve ensinar, salvo ensinar a aprender.

O mesmo responsável dá exemplos delirantes. Se o casal Silva quer ir do Campo Grande ao Parque das Nações, com os seus dois filhos, e a viagem de autocarro custa um euro por bilhete, quanto irá pagar?

Ora a resposta normal seria quatro euros. Mas isso é matemática antiga, cheia de mitos a que Matos quer pôr um fim. Ao cabo de vários argumentos sociais, ecológicos e políticos, Matos acha que quatro é muito, porque deveria haver desconto.

EU SEI que para a maioria dos leitores o professor Matos parece fruto da minha imaginação. Mas não é. Existe e, como ele, existem inúmeros seguidores desta religião que, um pouco por todo o Ministério da Educação, alastra as suas influências. Não só em Portugal, mas à volta do mundo. Esta espécie de religião, baseada num incontrolável relativismo, assentou arraiais na política da educação e criou o seu próprio credo - o «eduquês».

Graças a ela, os nossos filhos sofrem com reformas atrás de reformas. Cada vez sabem menos e, paradoxalmente, cada vez gastam mais tempo na escola.

Graças a esta religião, de que o prof. João Filipe Matos é um dos mais distintos hierofantas, os valores, a sabedoria e o conhecimento são constantemente postos em causa, como se fosse possível educar sem regras, mas apenas com excepções. A viagem do casal Silva ao Campo Grande é esclarecedora do seu incontrolável relativismo: 4x1 nem sempre são quatro; a resposta certa depende do ponto de vista do observador. E qual é o ponto de vista do prof. Matos? Lembrem-se da citação inicial: nas sociedades capitalistas, a escola justifica e produz desigualdades. Ele quer-nos todos iguais, autómatos de um sistema comandado pelas suas ideias sobre o mundo e a vida. Do seu lugar da academia, o prof. Matos forma os professores dos nossos filhos. E todos nós acabamos a carregar a cruz que é a desgraça do seu ensino. Quem nos liberta desta cruz?

hmonteiro@mail.expresso.pt


Do crucifixo à cruzada contra as ciências da educação

(Direito de resposta)

Os meios de comunicação social desempenham um papel fundamental na nossa sociedade informando, esclarecendo, questionando, perturbando. O sarcasmo é um recurso fundamental do jornalista e do comentador, que procura ironizar, estremar e até deformar uma situação, para a tornar cómica e objecto de desprezo dos respectivos leitores. No entanto, há um ponto para além do qual o exercício do humor deixa de ser saudável e passa a ser mistificador, ofensivo e socialmente inaceitável.

É o que se passa com a prosa de Henrique Monteiro, na sua coluna no Expresso de 10.Dez.2005. Esta coluna dedica-se a caricaturar as posições de João Filipe Matos, que, de resto, falsamente apresenta como um dos dirigentes do centro de investigação em educação, entidade em que este docente não assume qualquer cargo de responsabilidade. Interpretando a seu gosto a escrita académica marcada por uma linguagem própria e por categorias necessariamente diversas das do senso comum , não é difícil ao comentador encontrar múltiplos pontos de admiração e até de escândalo nas palavras deste docente, que é livre de ter as suas opiniões e perspectivas próprias sobre os problemas educativos e sociais.

Gostaria, no entanto, de deixar claro que no Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa defende-se a importância de um ensino da Matemática de qualidade, alicerçado em programas e políticas educativas que valorizem esta disciplina como um elemento fundamental do património cultural de todos nós e numa formação de professores contemplando as vertentes científica, educacional e prática, preocupações que naturalmente estendemos a todas as disciplinas científicas. Defende-se e pratica-se igualmente um ensino e uma formação de professores marcada por valores de respeito pela verdade, pelo rigor, pela cultura, pela diferença, pela dignidade e pela atenção aos interesses e necessidades dos educandos.

Henrique Monteiro nem consegue ser original. Limita-se a repetir a lengalenga de uns tantos outros que, sem perceber grande coisa do que falam (o que sabe ele sobre o ensino da Matemática nas escolas?), se limitam a procurar nas instituições de formação de professores um bode expiatório para os problemas de que, reconhecidamente, padece a educação em Portugal. Não deixa de ser curioso vê-lo a esgrimir o fantasma da religião e seguir, ele próprio, a lógica de cruzada, procurando queimar o inimigo na praça pública com base num libelo acusatório sumário, que no fundo se resume ao estafado fantasma do eduquês.

Um Subdirector pode ter os acessos de mau humor que entender mas não deve ser confundido com o órgão de comunicação social onde escreve. Estamos, por isso, à disposição do Expresso, como temos estado de outros órgãos de comunicação social, para dar a conhecer o nosso trabalho, as nossas posições sobre a educação, as nossas preocupações e projectos. Os jornalistas e comentadores inteligentes percebem que os problemas da educação são sobretudo reflexo dos problemas da sociedade e das políticas educativas e não o resultado da aplicação das teorias dos investigadores cujo impacto na cena educativa é de resto muito desigual. Por isso mesmo, mais vale procurar contar com o contributo de quem estuda as questões da educação para compreender e enfrentar estes problemas do que prosseguir a campanha primária e inútil que só desvaloriza aqueles que nela se envolvem.

João Pedro da Ponte

Presidente do Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Coordenador Científico do Centro de Investigação em Educação


A qualidade da formação dos professores, como a dos médicos, engenheiros ou jornalistas, é um problema sempre em aberto e a merecer questionamento. A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa é uma das instituições que ao longo dos anos tem prestado esse serviço a um nível que reputamos de valor mas que caberá a outros reconhecer e qualificar.

Os maus resultados que observamos no Ensino em Portugal são inquestionáveis e alguma responsabilidade pode ser atribuída às instituições de formação de professores, como a muitos outros factores que recentemente temos visto discutidos publicamente. Não é abonatório de um jornal de referência a invocação primária de um Grande Satã como a causa única de um qualquer problema.

Mais grave do que a ligeireza do artigo parece ser a inconsciência por parte do autor da peça sobre o que é a Universidade. As palavras referenciadas são retiradas de um texto de cariz universitário onde, por definição de Universidade, o autor pôde exprimir livremente a sua teoria, por bizarra ou incompreensível que possa parecer.

O método do jornalista é o da crucificação das ideias na praça pública. O passo seguinte é queimar a publicação e se a fogueira for suficiente podemos incluir o autor. Esta percepção sobre a Universidade, tão tradicionalmente Inquisitorial e tão vivamente expressa pelo Subdirector do Expresso é uma das razões do persistente atraso cultural e intelectual de Portugal (mas não será decerto a única). O Expresso presta assim um serviço inestimável à atávica burrice nacional mas ainda assim mostra o cuidado que se deve ter quando se escreve sobre cruzes.

Nota : ao autor e leitores interessados posso recomendar a edição de 27 de Abril de 2000 do jornal New York Times, onde na primeira página se pode ler o artigo The New, Flexible Math meets Parental Rebellion. Facilmente se compreende que o problema não é local, não é novo, não é simples, e que se pode tratar jornalisticamente a um nível muito mais elevado.

Nuno M. Guimarães

Presidente do Conselho Científico e Directivo

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Quem nos liberta desta cruz? Resposta de João Filipe Matos

(Última edição: terça-feira, 27 de dezembro de 2005 às 00:01)
Quem nos liberta desta cruz? Resposta de João Filipe Matos
R

Remarks in Hudson

(Última edição: sábado, 15 de abril de 2006 às 13:50)

Remarks in Hudson, NY

http://www.kunstler.com/


January 8, 2005
James Howard Kunstler

My last three books were concerned with the physical arrangement of life in our nation, in particular suburban sprawl, the most destructive development pattern the world has ever seen, and perhaps the greatest misallocation of resources the world has ever known.
The world - and of course the US - now faces an epochal predicament: the global oil production peak and the arc of depletion that follows. We are unprepared for this crisis of industrial civilization. We are sleepwalking into the future.

The global peak oil production event will change everything about how we live. It will challenge all of our assumptions. It will compel us to do things differently - whether we like it or not.

Nobody knows for sure when the absolute peak year of global oil production will occur. You can only tell for sure in the "rear-view mirror," seeing the data after the fact. The US oil production peak in 1970 was not really recognized until the numbers came in over the next couple of years. By 1973 it was pretty clear that US oil production was in decline - the numbers were there for anyone to see, because the US oil industry was fairly transparent. They had to report their production to regulatory agencies. And low and behold American production was going down - despite the fact that we were selling more cars and more suburban houses. Of course we had been making up for falling production by increasing our oil imports.

1973 was the yea r of the Yom Kippur War. With encouragement from the old Soviet Union, Syria and Egypt ganged up on Israel and after a rough start, Israel kicked their asses. The Islamic world was very ticked off - especially at the assistance that the US had given Israel in airlifted military equipment. So a lot of pressure was brought to bear on the leaders of the Arab oil states to punish the US and we got the famous OPEC embargo of 1973.

But it was more than that. The OPEC embargo was effective precisely because it was now recognized by everybody that the US had passed its all time oil production peak. We no longer had surplus capacity. We weren't the swing producer anymore, OPEC was. We were pumping flat-out just to stay in place, and depending on imports to make up for the rest.

That was a tectonic shift in world economics.

That's exactly when OPEC seized pricing control of the oil markets. We had a very rough decade. 20 percent interest rates. "Stagflation." High unemployment. Stock market in the toilet.

We had a second oil crisis in 1979 when the shah of Iran was overthrown. The 1970s closed on a note of desperation. Everything we did in America was tied to oil and foreigners were jerking our economy around, and it led the worst recession since the 1930s.

But we got over it and a lot of Americans drew the false conclusion that the these oil crises were a shuck and jive on the part of business and Arab oil sheiks.

How did we get over it? The oil crises of the 70s prompted a frantic era of drilling, and the last great oil discoveries came on line in the 1980s - chiefly the North Sea fields of England and Norway, and the Alaska fields of the North Slope and Prudhoe Bay. They literally saved the west's ass for 20 years. In fact, so much oil flowed out of them that the markets were glutted, and by the era of Bill Clinton, oil prices were headed down to as low as $10 a barrel.

It was all an illusion. The North Sea and Alaska are now well into depletion - they were drilled with the newest technology and - guess what - we depleted them more efficiently! England is now becoming a new oil importer again after a 20 year fiesta. The implications are very grim.

Now, some of the most knowledgeable geologists in the world believe we have reached the global oil production peak. Unlike the US oil industry, the foreign producers do not give out their production data so transparently. We may never actually see any reliable figures. The global production peak may only show up in the strange behavior of the markets.

The global peak is liable to manifest as a "bumpy plateau." Prices will wobble. Markets will wobble - as the oil markets have been doing the past year. International friction will increase, especially around the places where the oil is - and two-thirds of the world's remaining oil is in the states around the Persian Gulf where, every week, a half dozen US soldiers and many more Iraqis are getting blown up, beheaded, or shot.

The "bumpy plateau" is where all kind of market signals and political signals are telling you that "something is happening, Mr. Jones, but you don't know what it is." We'll only know in the rear-view mirror.

As of the past 12 months, Saudi Arabia seems to have lost the ability to function as 'swing producer.' The swing producer is the one with a lot of excess supply, who can just open the valves and let more oil out on the world markets, which inevitably drives the price down. Saudi Arabia has kept saying they would produce a million more barrels a day, but there's no evidence that they really have.

Well, the good news is that Saudi Arabia and OPEC can no longer set the price of oil. The bad news is that nobody can. When there is no production surplus in the world, that's a pretty good sign that the world is at peak.

Princeton Geologist Kenneth Deffeyes says that peak production will occur in 2005. We're there. Others, like Colin Campbell, former chief geologist for Shell Oil, put it more conservatively as between now and 2007. But by any measure of rational planning or policy-making, these differences are insignificant.

The meaning of the oil peak and its enormous implications are generally misunderstood even by those who have heard about it - and this includes the mainstream corporate media and the Americans who make plans or policy.

The world does not have to run out of oil or natural gas for severe instabilities, network breakdowns, and systems failures to occur. All that is necessary is for world production capacity to reach its absolute limit - a point at which no increased production is possible and the long arc of depletion commences, with oil production then falling by a few percentages steadily every year thereafter. That's the global oil peak: the end of absolute increased production and beginning of absolute declining production.

And, of course, as global oil production begins to steadily decline, year after year, the world population is only going to keep growing - at least for a while - and demand for oil will remain very robust. The demand line of the graph will pass the production line, and in doing so will set in motion all kinds of problems in the systems we rely on for daily life.

One huge implication of the oil peak is that industrial societies will never again enjoy the 2 to 7 percent annual economic growth that has been considered healthy for over 100 years. This amounts to the industrialized nations of the world finding themselves in a permanent depression.

Long before the oil actually depletes we will endure world-shaking political disturbances and economic disruptions. We will see globalism-in-reverse. Globalism was never an 'ism,' by the way. It was not a belief system. It was a manifestation of the 20-year-final-blowout of cheap oil. Like all economic distortions, it produced economic perversions. It allowed gigantic, predatory organisms like WalMart to spawn and reproduce at the expense of more cellular fine-grained economic communities.

The end of globalism will be hastened by international competition over the world's richest oil-producing regions.

We are already seeing the first military adventures over oil as the US attempts to pacify the Middle East in order to assure future supplies. This is by no means a project we can feel confident about. The Iraq war has only been the overture to more desperate contests ahead. Bear in mind that the most rapidly industrializing nation in the world, China, is geographically closer to Caspian Region and the Middle East than we are. The Chinese can walk into these regions, and someday they just might.

In any case, and apart from the likelihood of military mischief, as the world passes the petroleum peak the global oil markets will destabilize and the industrial nations will have enormous problems with both price and supply. The effect on currencies and international finance will, of course, be equally severe.

Some of you may be aware that the US faces an imminent crisis with natural gas, at least as threatening as the problems we face over oil. By natural gas I mean methane, the stuff we run our furnaces and kitchen stoves on.
Over the past two decades - in response to the OPEC embargoes of the 70s and the Chernobyl and Three Mile Island emergencies of the 80s -- we have so excessively shifted our electric power generation to dependence on natural gas that no amount of drilling can keep up with current demand. The situation is very ominous now.
The United States, indeed North America, including Canada and Mexico, is technically way past peak production in natural gas and there is a special problem with gas that you don't have with oil: you tend to get your gas from the continent you are on. It comes out of the ground and is distributed around the continent in a pipeline network.
If you have to get your natural gas from another continent, it has to be compressed at low temperature, transported in special ships with pressurized tanks, and delivered to special terminals where it is re-gasified. All this is tremendously more expensive than what we do now. Moreover, there are very few natural gas port terminals in the US and nobody wants them built anywhere near them because they are dangerous. They can blow up.
We have been making up for our shortfall in gas in recent years by buying a lot of gas from Canada. The NAFTA treaty compels them to sell us their gas, and they are technically in depletion too. They're not happy about this.
About half the houses in America are heated with natural gas. Nobody know what we are going to do when the depletion arc gets steeper.
Oh, another problem with gas. The wells run dry just like this (snap!). Unlike oil wells, which go from gusher to steady stream to declining stream, gas wells either put out gas or they stop. And there's no warning when they are close to running out. Because, the gas is coming out of the ground under its own pressure. As the gas wells of North America continue to deplete, we will have little warning

Right here I am compelled to inform you that the prospects for alternative fuels are poor. We suffer from a kind of Jiminy Cricket syndrome in this country. We believe that if you wish for something, it will come true. Right now a lot of people - including people who ought to know better - are wishing for some miracle technology to save our collective ass.

There is not going to be a hydrogen economy. The hydrogen economy is a fantasy. It is not going to happen. We may be able to run a very few things on hydrogen - but we are not going to replace the entire US automobile fleet with hydrogen fuel cell cars.

" Getting hydrogen
" Transport

Nor will we replace the current car fleet with electric cars or natural gas cars. We're just going to use cars a lot less. Fewer trips. Cars will be a diminished presence in our lives.
Not to mention the political problem that kicks in when car ownership and driving becomes incrementally a more elite activity. The mass motoring society worked because it was so profoundly democratic. Practically anybody in America could participate, from the lowliest shlub mopping the floor at Pizza Hut to Bill Gates. What happens when it is no longer so democratic? And what is the tipping point at which it becomes a matter of political resentment: 12 percent? 23 percent? 38 percent?

Wind power and solar electric will not produce significant amounts of power within the context of the way we live now.

Ethanol and bio-deisel are a joke. They require more energy to produce than they give back. You know how you get ethanol: you produce massive amounts of corn using huge oil and gas 'inputs' of fertilizer and pesticide and then you use a lot more energy to turn the corn into ethanol. It's a joke.

No combination of alternative fuel systems currently known will allow us to run what we are running, the way we're running it, or even a substantial fraction of it.

The future is therefore telling us very loudly that we will have to change the way we live in this country. The implications are clear: we will have to downscale and re-scale virtually everything we do.

The downscaling of America is a tremendous and inescapable project. It is the master ecological project of our time. We will have to do it whether we like it or not. We are not prepared.

Downscaling America doesn't mean we become a lesser people. It means that the scale at which we conduct the work of American daily life will have to be adjusted to fit the requirements of a post-globalist, post-cheap-oil age.

We are going to have to live a lot more locally and a lot more intensively on that local level. Industrial agriculture, as represented by the Archer Daniels Midland / soda pop and cheez doodle model of doing things, will not survive the end of the cheap oil economy.
The implication of this is enormous. Successful human ecologies in the near future will have to be supported by intensively farmed agricultural hinterlands. Places that can't do this will fail. Say goodbye to Phoenix and Las Vegas.

I'm not optimistic about most of our big cities. They are going to have to contract severely. They achieved their current scale during the most exuberant years of the cheap oil fiesta, and they will have enormous problems remaining viable afterward.
Any mega-structure, whether it is a skyscraper or a landscraper - buildings that depend on huge amounts of natural gas and electricity - may not be usable a decade or two in the future.

What goes for the scale of places will be equally true for the scale of social organization. All large-scale enterprises, including many types of corporations and governments will function very poorly in the post-cheap oil world. Do not make assumptions based on things like national chain retail continuing to exist as it has.

Wal Mart is finished. [More below]

Many of my friends and colleagues live in fear of the federal government turning into Big Brother tyranny. I'm skeptical Once the permanent global energy crisis really gets underway, the federal government will be lucky if it can answer the phones. Same thing for Microsoft or even the Hannaford supermarket chain.

All indications are that American life will have to be reconstituted along the lines of traditional towns, villages, and cities much reduced in their current scale. These will be the most successful places once we are gripped by the profound challenge of a permanent reduced energy supply.

The land development industry as we have known it is going to vanish in the years ahead. The production home-builders, as they like to call themselves. The strip mall developers. The fried food shack developers. Say goodbye to all that.

We are entering a period of economic hardship and declining incomes. The increment of new development will be very small, probably the individual building lot.
The suburbs as are going to tank spectacularly. We are going to see an unprecedented loss of equity value and, of course, basic usefulness. We are going to see an amazing distress sale of properties, with few buyers. We're going to see a fight over the table scraps of the 20th century. We'll be lucky if the immense failure of suburbia doesn't result in an extreme political orgy of grievance and scapegoating.

The action in the years ahead will be in renovating existing towns and villages, and connecting them with regions of productive agriculture. Where the big cities are concerned, there is simply no historical precedent for the downscaling they will require. The possibilities for social and political distress ought to be obvious, though. The process is liable to be painful and disorderly.

The post cheap oil future will be much more about staying where you are than about being mobile. And, unless we rebuild a US passenger railroad network,a lot of people will not be going anywhere. Today, we have a passenger railroad system that the Bulgarians would be ashamed of.

Don't make too many plans to design parking structures. The post cheap oil world is not going to be about parking, either.

But it will be about the design and assembly and reconstituting of places that are worth caring about and worth being in. When you have to stay where you are and live locally, you will pay a lot more attention to the quality of your surroundings, especially if you are not moving through the landscape at 50 miles-per-hour.

Some regions of the country will do better than others. The sunbelt will suffer in exact proportion to the degree that it prospered artificially during the cheap oil blowout of the late 20th century. I predict that the Southwest will become substantially depopulated, since they will be short of water as well as gasoline and natural gas. I'm not optimistic about the Southeast either, for different reasons. I think it will be subject to substantial levels of violence as the grievances of the formerly middle class boil over and combine with the delusions of Pentecostal Christian extremism.

All regions of the nation will be affected by the vicissitudes of this Long Emergency, but I think New England and the Upper Midwest have somewhat better prospects. I regard them as less likely to fall into lawlessness, anarchy, or despotism, and more likely to salvage the bits and pieces of our best social traditions and keep them in operation at some level.

There is a fair chance that the nation will disaggregate into autonomous regions before the 21st century is over, as a practical matter if not officially. Life will be very local.

These challenges are immense. We will have to rebuild local networks of economic and social relations that we allowed to be systematically dismantled over the past fifty years. In the process, our communities may be able to reconstitute themselves.

The economy of the mid 21st century may center on agriculture. Not information. Not the digital manipulation of pictures, not services like selling cheeseburgers and entertaining tourists. Farming. Food production. The transition to this will be traumatic, given the destructive land-use practices of our time, and the staggering loss of knowledge. We will be lucky if we can feed ourselves.

The age of the 3000-mile-caesar salad will soon be over. Food production based on massive petroleum inputs, on intensive irrigation, on gigantic factory farms in just a few parts of the nation, and dependent on cheap trucking will not continue. We will have to produce at least some of our food closer to home. We will have to do it with fewer fossil-fuel-based fertilizers and pesticides on smaller-scaled farms. Farming will have to be much more labor-intensive than it is now. We will see the return of an entire vanished social class - the homegrown American farm laboring class.

N

We are going to have to reorganize everyday commerce in this nation from the ground up. The whole system of continental-scale big box discount and chain store shopping is headed for extinction, and sooner than you might think. It will go down fast and hard. Americans will be astonished when it happens.

Operations like WalMart have enjoyed economies of scale that were attained because of very special and anomalous historical circumstances: a half century of relative peace between great powers. And cheap oil - absolutely reliable supplies of it, since the OPEC disruptions of the 1970s.

WalMart and its imitators will not survive the oil market disruptions to come. Not even for a little while. WalMart will not survive when its merchandise supply chains to Asia are interrupted by military contests over oil or internal conflict in the nations that have been supplying us with ultra-cheap manufactured goods. WalMart's "warehouse on wheels" will not be able to operate in a non-cheap oil economy

It will only take mild-to-moderate disruptions in the supply and price of gas to put WalMart and all operations like it out of business. And it will happen. As that occurs, America will have to make other arrangements for the distribution and sale of ordinary products.

It will have to be reorganized at the regional and the local scale. It will have to be based on moving merchandise shorter distances at multiple increments and probably by multiple modes of transport. It is almost certain to result in higher costs for the things we buy, and fewer choices of things. We are not going to rebuild the cheap oil manufacturing facilities of the 20th century.

We will have to recreate the lost infrastructures of local and regional commerce, and it will have to be multi-layered. These were the people that WalMart systematically put out of business over the last thirty years. The wholesalers, the jobbers, the small-retailers. They were economic participants in their communities; they made decisions that had to take the needs of their communities into account. they were employers who employed their neighbors. They were a substantial part of the middle-class of every community in America and all of them together played civic roles in our communities as the caretakers of institutions - the people who sat on the library boards, and the hospital boards, and bought the balls and bats and uniforms for the little league teams.
We got rid of them in order to save nine bucks on a hair dryer. We threw away uncountable millions of dollars worth of civic amenity in order to shop at the Big Box discount stores. That was some bargain.
This will all change. The future is telling us to prepare to do business locally again. It will not be a hyper-turbo-consumer economy. That will be over with. But we will still make things, and buy and sell things.

A lot of the knowledge needed to do local retail has been lost, because in the past the ownership of local retail businesses was often done by families. The knowledge and skills for doing it was transmitted from one generation to the next. It will not be so easy to get that back. But we have to do it.

Education is another system that will probably have to change. Our centralized schools are too big and too dependent on fleets of buses. Children will have to live closer to the schools they attend. School will have to be reorganized on a neighborhood basis, at a much smaller scale, in smaller buildings -- and they will not look like medium security prisons.

The psychology of previous investment is a huge obstacle to the reform of education. We poured fifty years of our national wealth into gigantic sprawling centralized schools - but that investment itself does not guarantee that these schools will be able to function in a future that works very differently.
In the years ahead college will no longer be just another "consumer product." Fewer people will go to them. They will probably revert to their former status as elite institutions, whether we like it or not. Many of them will close altogether.

Change is coming whether we like it or not; whether we are prepared for it or not. If we don't begin right away to make better choices then we will face political, social, and economic disorders that will shake this nation to its foundation.

I hope you will go back to your offices and classrooms and workplaces with these ideas in mind and think about what your roles will be in this challenging future. Good luck. Prepare for a different America, perhaps a better America. And prepare to be good neighbors.

End