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C'est Paris por vous!

por Factus FCT - quarta-feira, 18 de outubro de 2006 às 15:03
 
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Paris viveu durante algumas semanas, um cenário de guerra. Mas não falamos de uma guerra qualquer. Não são exércitos que se opõem uns aos outros. São populações que se viram contra as autoridades. São jovens, na sua maioria mais novos que qualquer FCTense que causam os desacatos. E quais as razões para assistirmos a uma revolta de que não há memória, desde os acontecimentos de Los Angeles, na década de 80?
Paris sempre nos habituou a grandes manifestações e revoluções sociais, veja-se a Revolução Francesa, e o na altura denominado Terror, veja-se o caso da Comuna de Paris, na segunda metade do século XIX, ou o Maio de 68. Mas nunca se tinha visto, com esta dimensão, uma revolta que, tal como em Los Angeles ou noutras cidades, fosse motivada não por fins políticos mas contra tudo e todos.
Vamos por partes. Uma coisa são os motivos que, inicialmente, levaram aos protestos, outra coisa são as pilhagens, o vandalismo e o terror que grupos de bandidos e oportunistas têm levado a caso. Estes últimos não passam de destabilizadores que, nestas situações, aparecem sempre.
Agora, o que motivou esta situação inicial é que tem de ser estudado.
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643381.jpg Tudo começa com a morte de dois jovens imigrantes africanos, numa central eléctrica, ao fugirem de uma perseguição policial. Acusados de racistas pelas populações imigrantes, as forças policiais, quando os protestos começaram, tomaram medidas que ainda mais justificaram este rotulo, ao destruírem uma mesquita e ao tratarem todo o imigrante como terrorista, como aliás desde o 11 de Setembro alguns governos têm tratado a questão da imigração (lembremos-nos do caso do cidadão brasileiro morto em Inglaterra, no Verão.). Ora tudo isto gerou um descontentamento por parte das comunidades imigrantes, em especial os Jovens, criando-se uma enorme bola de neve, fomentada por comentários racistas de um ministro.
Ora esta bola de neve tem raízes mais profundas do que a lamentável morte dos dois jovens. Estas populações têm sido constantemente votadas à marginalização. Oriundos de países pobres, chegam à Europa em busca duma vida melhor à qual todos os seres humanos têm direito. Acabam por ser explorados, mal pagos, vítimas de discriminações, considerados sempre o bode expiatório do problema do desemprego. São colocados em bairros que são autênticos guetos, que se tornam barris de pólvora, que neste caso acabaram por explodir. Os jovens destes bairros pouca ou nenhuma motivação têm, derivada à situação em que vivem. É obvio que algum dia esta situação aconteceria. A discriminação, o racismo, a xenofobia, os apartheids urbanos, a pobreza e o desemprego só podem gerar estas lamentáveis guerras urbanas.
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E muito se tem falado que qualquer dia acontece o mesmo em Portugal. Com ou sem alarmismos, é algo bem possível. Os sintomas são os mesmos. Lá, como cá a solução não passa por simples cargas policiais. Lá, como cá, é preciso reivindicar e fomentar politicas que combatam a pobreza, que impulsionem Emprego para Franceses (Portugueses, no nosso caso) e Imigrantes com os mesmos direitos, é necessário eliminar o racismo e impulsionar a paz e amizade entre todos, é urgente defender um ordenamento do território que não gere exclusão. Está nas nossas mãos prevenir estes males.

Créditos das fotos: Agências noticiosas Lusa e FrancePress.