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Estou profundamente preocupado com a economia portuguesa

(Última edição: sábado, 16 de abril de 2005 às 12:17)
DN Segunda-feira, 11 de Abril de 2005
Entrevista a Miguel Beleza


A economia entrou uma fase dita de "reestruturação" com um desfecho ainda incerto. Concorda com esta análise de alguns economistas?

Eu gostava de acreditar que as medidas e o programa a apresentar pelo Governo irão ter como resultado a recuperação do crescimento potencial da economia. Mas estou profundamente preocupado. Não estou muito optimista em relação ao futuro. O que faz crescer o País é o sector privado, mas nos últimos anos observamos um comportamento do sector privado que se reflecte num crescimento potencial muito baixo.

Não vê dinamismo, entusiasmo, é isso?

Tenho dificuldade em ver... Não estou a criticar ninguém, porque acho ridículo criticar os empresários. Agora, de facto, vejo pouca garra... desde há muitos anos que crescemos muito pouco.

Mas qual a origem desta situação? Baixos níveis de confiança, formação dos empresários, efeitos da subsidiação estatal?

Não é fácil explicar. Existem muitos factores que ajudam a compreender o fenómeno... de entre os quais, com certeza, uma política fiscal e orçamental errada. Uma das explicações podem ainda ser encontradas no enorme boom de consumo e de algum investimento no final dos anos 90, justificadas pelas baixas taxas de juro. Um ciclo que tinha de terminar. Aliás, é o colapso da procura interna a principal razão por que o País entrou em recessão económica. Mas admito que isto explique apenas uma parte da equação...

Talvez a insuficiência das reformas estruturais...

Não vejo as tais reformas estruturais... Fala-se na necessidade de inovação, formação, educação, mas tudo isto não é para amanhã e a urgência era ontem.

Não há prescrições para a economia a curto prazo?

Não conheço.

Alguns economistas falam dos efeitos nefastos do famoso "discurso da tanga" de Durão Barroso...

Não acredito que os agentes económicos vão em histórias, mas de facto vejo pouca "garra".

As últimas previsões da Comissão Europeia indicam uma estimativa de crescimento de 1,6% para a zona euro. qual o significado para Portugal?

Significa uma má notícia. Para Portugal a revisão em baixa da estimativa do crescimento foi ainda mais drástica. Os principais mercados do País na UE vão crescer pouco e teremos mais um factor negativo a acrescentar, que terão como resultado um fraco crescimento da economia portuguesa...

Repercussões nas exportações, turismo...

Temos, basicamente, dois problemas. Portugal tem perdido quotas de mercado e competitividade. Em 2004, a economia terá crescido 1,0% e a procura interna cerca de 2,0%. As exportações nem se portaram muito mal, o problema é que as importações aumentaram muito. Isto sugere que um pequeno impulso na procura interna provoca uma enorme repercussão nas importações. Ou seja, as empresas portuguesas são pouco competitivas. Isto, a par da queda do crescimento potencial da economia, é um problema grave.

Os dados recentes demonstram que o crescimento potencial da economia está num ponto muito baixo...

Neste momento, está à volta de 1,6% do PIB, quando Portugal deveria aspirar a um crescimento potencial bem acima de 3, 4%... Estamos a ter sucessivos crescimentos baixos, e o impulso da procura interna não se repercute no aumento do produto e não tem, naturalmente, repercussões no aumento do emprego. Isto para mim é, neste momento, o maior problema do País.

Até quando teremos estas dificuldades?

Não é fácil responder... Mas podemos ter este problema durante alguns anos.

Posso arriscar mais uns quatro, cinco anos?

Talvez nem tanto, mas... dois, três anos. Tenho alguma esperança na recuperação da competitividade e acredito que as reformas estruturais anunciadas pelos últimos governos, e em particular pelo actual, acabem por produzir algum efeito, num prazo razoável.

As importações estão a provocar um novo disparo no endividamento externo, após uma redução em 2003. Não existe solução para estancar esta tendência?

Enquanto a competitividade não melhorar, teremos esse problema. Preocupa-me que a um crescimento moderado da economia em 2004 reflectiu-se de imediato num aumento muito forte do endividamento externo. É um sintoma do tal crescimento potencial fraco. Mas graças à nossa presença na zona euro, o endividamento externo é um problema solúvel.

Como não bastasse, o contínuo aumento dos preços internacionais do barril do petróleo poderá ter graves reflexos na economia portuguesa...

Isso é um problema muito sério, mais sério do que prevíamos... Para a economia portuguesa é particularmente difícil, dado o alto grau de dependência do petróleo. Significa o empobrecimento do País...


Economia, emprego e factor cultural

(Última edição: segunda-feira, 11 de abril de 2005 às 23:46)
Adelino Torres, Professor  do ISEG
DN, 11 de Abril de 2005


Cultura. Se, de facto, a economia é importante, é duvidoso que, por si só, resolva os problemas da organização da sociedade contemporâ-nea. Os dilemas culturais colocados pela evolução vertiginosa da ciência, da tecnologia e das ideias oferecem desafios urgentes a que apenas pode responder uma sociedade educada

A propósito da crise fala-se muito de economia e de finanças e pouco desse outro pilar do desenvolvimento que é a "cultura", aqui tomada no sentido amplo do termo.

 Se, de facto, a economia é importante, é duvidoso que, por si só, resolva os problemas da organização da sociedade contemporânea. Os dilemas culturais colocados pela evolução vertiginosa da ciência, da tecnologia e das ideias oferecem desafios urgentes a que apenas pode responder uma sociedade educada.

 É por isso que um ensino exclusivamente orientado por uma óptica utilitarista estática, que não esteja, em particular, assente na investigação fundamental, revelar-se-á a prazo inoperante e mesmo factor de retrocesso se, como é previsível num sistema dinâmico, os mercados evoluírem, os objectivos mudarem e o tipo de empregabilidade se transformar radicalmente.

 Desde logo a educação não pode ter uma visão estreita virada para satisfazer apenas as "necessidades da economia" tal como por vezes a vemos, porque é grande o risco de muitas profissões ficarem rapidamente obsoletas e não corresponderem às "necessidades" da sociedade, do mercado e do Estado.

 Sem negligenciar uma determinada especialização e qualificação profissional, importa que se prepare antes de mais a juventude para a mudança, a qual implica abertura de espírito, curiosidade, autonomia, pensamento crítico e criativo. Em resumo tudo o que pressupõe cultura e competitividade.

 Também a "formação ao longo da vida" só é plenamente realizável se as pessoas tiverem ao menos um determinado nível de literacia (no sentido de "cultura geral") articulada com a faculdade de mudar. Essa literacia condiciona em larga medida a atitude e a capacidade dos agentes económicos no âmbito da "actualização de competência".

 Se assim for, limitar-se a avaliar a educação de um ponto de vista exclusivamente "prático" ou utilitarista (satisfazer as necessidades imediatas do mercado em nome de um "realismo" discutível) é uma aporia que pouco resolverá. Como alguém disse (Filipe Botton), não basta agir por reacção, é necessário fazê-lo por antecipação. O imediatismo não é bom conselheiro nem dará resposta aos problemas das empresas e menos ainda aos do país.

 Por outro lado, a cultura excede largamente o que a escola ensina. Na sociedade civil os meios audiovisuais, imprensa, TV, clubes desportivos, associações, partidos, internet etc. têm grande influência, infelizmente nem sempre com os melhores resultados. Por exemplo, certos canais de televisão confundem demasiadas vezes "popular" com rasca e "cultura" com obscuridade. É preciso desmistificar, sem demagogia, a trindade fatídica que, no espírito do cidadão médio, mistura cultura com obscuridade e com tédio, afastando-o em vez de o atrair, diminuindo-o em lugar de o fazer melhor.

 Em televisão há certamente cultura nos populares e pedagógicos programas do brasileiro Jô Soares, infinitamente superiores em humor e inteligência a programas portugueses congéneres, cujo conteúdo pode frequentemente ser classificado como "dissolvente" e anticultural, onde impera o snobismo, a mentalidade paroquial e as personagens patéticas tiradas de uma farsa tonta.

 Por seu turno os clubes desportivos poderiam aproveitar as suas "claques" para favorecer a civilidade e educação da juventude e não para promover tribos de desordeiros; enquanto que os partidos políticos ganhariam em dar às juventudes partidárias uma formação pluridisciplinar séria, em seminários de Verão, a fim de não favorecer a promoção de clientelas de oportunistas incultos sem sentido da causa pública.

 Com estas e outras melhorias, ajudar-se-ia mais seguramente a qualidade dos recursos humanos, a produtividade e a economia do que em descarregar sistematicamente as culpas todas sobre o ensino e a universidade onde finalmente não se trabalha tão mal como alguns dizem...

Destruir para criar

(Última edição: segunda-feira, 11 de abril de 2005 às 23:48)
DN, 11 de Abril de 2005

José Correia Guedes

Professor da Católica

Destruir para criar

Mudança. No futuro, todas as chamadas fixas irão migrar para a Internet e serão suportadas inteiramente por software, dispensando a necessidade de infra- -estrutura dedicada como acontece actualmente. As telecomuni-cações fixas serão um serviço de Internet inteiramente gratuito, tal como é hoje o e-mail e os web-browsers

Grandes transformações económicas, com impacto generalizado no bem-estar da sociedade, conseguiram-se sempre à custa de rupturas com interesses instalados. Foi assim na aurora da revolução industrial, com a introdução do conceito de fábrica no sentido moderno, e é hoje com as novas tecnologias e processos de negócio assentes na Internet.

Há 300 anos atrás a actividade têxtil na Inglaterra baseava-se no sistema de produção domiciliária - o chamado putting-out. Negociantes de têxtil distribuíam pelas famílias das vilas e aldeias matérias-primas para serem tratadas e transformadas nos seus próprios lares, recolhendo, posteriormente, o produto já processado para venda ao consumidor final. Este sistema era extremamente popular. Os trabalhadores gostavam da ausência de supervisão e da possibilidade de poder definir os próprios ritmos de trabalho. Em termos económicos o sistema fazia sentido porque os bens de capital exigidos no processo de transformação eram modestos e não permitiam economias de escala. Para quê juntar toda a produção num local único, sob o mesmo tecto, se daí não decorriam ganhos de eficiência significativos?

Foi a introdução da máquina a vapor - e dos equipamentos complementares que exploravam a energia e a força libertada pela máquina a vapor - que alterou a situação. A máquina a vapor deu uma vantagem decisiva ao modelo de produção centrado numa fábrica e assente na produção em massa. Os produtores domiciliários resistiram enquanto puderam, vituperando a nova tecnologia como uma invenção do diabo, e os novos industriais como piratas do bem-estar alheio. Data desta altura o movimento dos luditas bandos de homens armados assaltavam à noite as fábricas para destruir as máquinas, numa cruzada pela defesa do seu modo de vida. Para os novos industriais, a reacção hostil da população tornou difícil encontrar mão-de-obra disposta a trabalhar nas fábricas. A solução foi procurar entre os mais desfavorecidos e com mais dificuldade em recusar uma oferta de trabalho: crianças, muitas vezes recrutadas dos orfanatos e de asilos para pobres, e mulheres, especialmente as novas e solteiras.

Hoje, é a Internet uma das principais ameaça aos interesses estabelecidos. A indústria discográfica foi uma das suas primeiras vítimas. Empresas como a Napster e depois a KaZaA, com os seus modelos inovadores de partilha de ficheiros, tornaram obsoleto o sistema tradicional de produção e comercialização de música. Os incumbentes usaram todos os meios ao seu alcance para neutralizar os novos piratas; conseguiram, finalmente, fechar a Napster por sentença judicial. Tarde de mais o génio já estava fora da lâmpada. Os gigantes discográficos de uma outra era atrás já tinham sido, irremediavelmente, ultrapassados pela história. Hoje é a Apple com o ipod o modelo de negócio triunfante na distribuição de conteúdos musicais. Paga um montante simbólico por um single (começou por ser 1 dólar) e pode ouvi-la quantas vezes quiser, quando quiser, onde quiser. Há poucas semanas atrás, o Financial Times relatava que a venda de singles descarregados pela Net ultrapassou pela primeira vez a venda de CD por canais tradicionais.

Outro teatro de operações em que a Internet começa a criar carnificina entre os incumbentes é o das telecomunicações fixas. Niklas Zennstrom e Janus Friis, dois jovens escandinavos, depois de fundarem a KaZaA, criaram a Skype, uma incarnação da Napster para o sector das telecomunicações. Enquanto a Napster oferecia a possibilidade de ouvir música de uma forma gratuita, a Skype oferece a possibilidade de fazer chamadas telefónicas sem pagar. Ao contrário de Napster, porém, a Skype tem uma base legal sólida. O modelo da Skype, tal como anteriormente o da Napster, assenta em tecnologia peer-to-peer redes informais de computadores pessoais interligados por conexões de banda larga, via Internet, que permitem a circulação de conteúdos digitais, sejam eles ficheiros musicais ou ficheiros de voz. Enquanto chamadas de voz entre utilizadores de Skype são grátis, chamadas entre utilizadores de Skype e não utilizadores importam um custo, pois utilizam as linhas telefónicas dos operadores incumbentes. Para aderir basta instalar o software num computador pessoal ligado em banda larga à Internet e com sistema operativo Windows. Para já, os utilizadores são maioritariamente empresas, mais sensíveis ao argumento de redução de custos. No entanto, os fundadores da Skype acreditam que no futuro todas as chamadas fixas irão migrar para a Internet e serão suportadas inteiramente por software, dispensando a necessidade de infra-estrutura dedicada como acontece actualmente. As telecomunicações fixas serão um serviço de Internet inteiramente gratuito, tal como é hoje o e-mail e os web-browsers . Se este visionários têm razão, as grandes empresas de telecomunicações fixas irão pelo mesmo caminho de definhamento que as suas congéneres do sector discográfico foram na última década e que a produção têxtil de base domiciliária foi há 300 anos.

A decana de Coimbra

(Última edição: sábado, 16 de abril de 2005 às 12:16)
A decana de Coimbra
Expresso 16.04.2005

Aos 106 anos, Maria Virgínia é a mais antiga aluna viva da Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1917 em Físico-Química. Fundou a primeira república feminina da cidade e lembra-se bem de Salazar a tirar-lhe «chapeladas» de galanteio


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Tive uma vida fora do vulgar. Tão extraordinária... A entoação, aristocrática, pausada, correctíssima, parece saída de uma peça de teatro de época. Maria Virgínia, que há duas semanas completou 106 anos, nasceu em 1899, no Porto, onde o pai, João Ferreira de Almeida, cursava Medicina. A mãe, Beatriz Laura, deu-a à luz em casa, na Rua da Cedofeita, na exacta morada onde outrora vivera Carolina Michaëlis, a primeira mulher a leccionar numa universidade portuguesa. E mandou o acaso que Virgínia lhe seguisse o pioneirismo. Em 1917, num Portugal 70% analfabeto, matricula-se na Universidade de Coimbra (UC) no curso de Físico-Química - é hoje a mais antiga aluna viva deste estabelecimento de ensino. Três anos depois funda, com duas colegas, a primeira Casa Independente de Raparigas, vulgo república feminina, da cidade estudantil.

«Perdoe se já não recordo tudo, a minha memória está fraquinha», desculpa-se em antecipação a anciã, desfazendo-se num risinho bem-disposto. Maria Virgínia mantém uma vivacidade inesperada para quem já conheceu três séculos. O ouvido foi sumindo mas a voz permanece firme. Quase tanto quanto as pernas, que se agitam pela sala quando decide mostrar que ainda sabe dançar um minuete, atrapalhada pelas pantufas pouco propensas a bailes. Sobe e desce as escadas, senta-se e levanta-se com agilidade, tanto mostra como toca violão como se exibe ao piano, ao mesmo tempo que canta modas tradicionais, aprendidas na mocidade.

Vive sozinha, orgulhosa na sua semi-independência apoiada em duas empregadas - uma de dia, outra à noite - e nos filhos que a acarinham como porcelana fina. É Virgínia quem atende o telefone em casa e nunca precisou de usar o 112 preso a fita-cola no portátil, que guarda junto a si. Ao seu lado reside também o álbum fotográfico, que conhece de cor. Puxa-o para ela, folheia-o e pára a admirar um retrato de família, que o tempo tornou sépia. «É este o meu pai. Foi ele que me deu uma mocidade tão especial.»

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1921 - Virgínia com as colegas Olívia Antunes e Teresa Basto no Laboratório de Física da Universidade de Coimbra
 
O dedo aponta um homem alto, altivo, de farfalhuda pêra e bigode e chapéu de feltro. Acabado o curso, João Ferreira de Almeida abandona a Invicta e monta consultório e residência em São Pedro do Sul. Torna-se médico de província, que acode aos enfermos a trote de cavalo. Mais tarde, ascende a Governador Civil de Viseu (de conhecida ideologia republicana), dirigente do jornal «Povo da Beira» e director das termas locais.

É ele a figura tutelar de Maria Virgínia, que perde a mãe aos cinco anos. A orfandade materna desencadeia uma infância de carinho exacerbado - a ela e à irmã Maria Helena -, quer das tias por dever familiar quer das senhoras da sociedade local por interesse casamenteiro no viúvo. «Convivíamos com a fina flor da nobreza beirã», recorda, com uma saudade suspirada dos passeios de «landau» - carruagem com duas capotas de abrir -, puxado a cavalos, conduzido pela baronesa de Palme. Ou das partidas de ténis, em que a elasticidade dos passes era comprometida pelos vestidos compridos. Ou dos banhos no Vouga, tomados longe de olhares indiscretos numa casota de madeira no meio do rio.

Mas aos 18 anos disse ao pai que queria mais. Mais do que o piano, a arte de bem cavalgar, os dotes de sociedade, o francês irrepreensível, queria ir aprender inglês para Londres, onde vivia uma tia. Os estudos eram o escape «para fugir da chateza de mesmice daquela terra pequena». O liceu já fora feito em Viseu, no edifício que alberga hoje o Museu Grão Vasco. O progenitor, que a queria por perto, acenou-lhe com a Universidade de Coimbra. Ela concordou e escolheu Medicina. Ele recusou novamente «porque não era bom para uma mulher que quer casar e ter filhos lidar com doenças», recorda Virgínia. «Então optei por Físico-Química, porque tinha laboratório, não era só teoria. Em São Pedro, não me lembro de outra rapariga que tenha ido para o ensino superior».

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Aos sete anos, com a irmã Maria Helena
 
Não admira. Em 1917, ano de ingresso da portuense na UC, apenas ali estudavam 70 mulheres - em 1.198 inscritos - e só mais dez tinham optado por «sciencias», entre as quais Maria Guardiola, que seria uma das três primeiras deputadas da Assembleia Nacional. Foi o ano das aparições de Fátima, Portugal mergulhara numa crise económica, escasseava o pão e o carvão. Começara a revolução russa, a Finlândia tornara-se independente, nasceram John F. Kennedy e Indira Gandhi, morreram Mata Hari e Rodin.

Em Coimbra, Maria Virgínia partilhava o curso e a casa de caloira - a Casa das Cruzes, nos Palácios Confusos - com Maria Teresa Basto, companheira de Viseu. Passava horas no último andar, onde a janela lhe abria a vista sobre o Mondego. António Salazar, que nesse ano tinha começado a leccionar na Universidade, como assistente de Ciências Económicas, morava perto, na Rua dos Grilos, numa casa partilhada em regime de «república» com o padre - mais tarde cardeal - Cerejeira. «Lembro-me bem quando estava à janela e o Salazar passava. Ele atirava-me cada chapelada. Ai que graça! Depois ficou célebre...», recorda Virgínia num riso envergonhado. Foi fruto desse conhecimento «fenestral» que, ao partir para Lisboa, o professor lhe pediu que guardasse a mobília de jantar. «Eu disse que sim. E aproveitei-me bem. Mais que uma vez lá ofereci jantares a amigos.»

O curso de Físico-Química revelou-se difícil. Ao longo de sete anos - cinco de currículo e dois de Escola Normal Superior, para aceder ao magistério secundário -, cadeiras como Desenho de Máquinas, Cálculo Diferencial ou Cristalografia obrigaram Maria Virgínia a decorar fórmulas sem conta dizendo-as bem alto, repetidamente, enquanto caminhava em pêndulo pela casa. Todos os anos havia novos achados: a Teoria da Relatividade Geral de Einstein e a descoberta da Estrutura Molecular ocorreram pouco antes da sua chegada a Coimbra. «Mas licenciei-me com altos valores: 16!»

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Com a família paterna (o pai é o primeiro da direita)
 
Na universidade, as mulheres eram tratadas por «vossa excelência» e «senhora dona». «Os rapazes iam para ao pé de nós conversar, mas sempre com muito respeito. Éramos novinhas mas era como se fossemos já velhinhas», explica a anciã. Mas nas ruas, quando as avistavam, os mancebos gritavam de janela em janela «venham vê-las passar!», com promessas de rosas e violetas. «Éramos poucas e bonitinhas...» As mulheres não participavam nas actividades da Associação Académica nem entravam na sede. Tinham pasta de fitas, mas não vestiam capa e batina. A primeira Queima das Fitas ocorreu em 1919, andava ela no 2º ano, mas só se lembra de assistir. Respeitosamente.

A 20 de Janeiro de 1920, porém, decide imiscuir-se num universo até então só masculino. Com Maria Teresa Basto, Dionísia Camões e Elisa Vilares funda a primeira Casa Independente de Raparigas de Coimbra, no nº 28 dos Palácios Confusos. A «república» tinha regras: não era permitida a entrada a homens, a não ser acompanhados de uma senhora; era mantido um diário com a colaboração de todas - que está ainda à guarda da família; e era dever das habitantes fundar uma organização católica para estudantes universitárias - o Círculo Académico Feminino Católico.

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Durante a pausa de um jogo de ténis
 
Acabado o curso, Maria Virgínia foi para professora, colocada durante um ano no Liceu Maria Amália, em Lisboa. Rumou depois ao Liceu Infanta D. Maria, em Coimbra, onde ficou até se reformar aos 75 anos. Leccionou Físico-Química, Zoologia, Mineralogia, Botânica e até Trabalhos Manuais. Teolinda Gersão esteve entre as suas «alunas encantadoras», primeiro nas manualidades, depois a Química. «Pôs-nos a fazer coisas que nos pareciam impossíveis, desde pastas para documentos, em cartão, a caixas para bolos, em papel, iguais às que os empregados faziam na Central e no Nicola. E pôs-nos a escrever cartas para delegações de turismo e câmaras municipais, pedindo postais sobre castelos, que nos mandava reproduzir em barro, como se fosse a coisa mais óbvia e natural do mundo. Lembro-me que me calhou o castelo de Leiria, o que me deixou atordoada. Para ela não havia dificuldades, e passava-nos a mensagem de que para nós também não podia haver», recorda a escritora. «E lembro-me de a ver no laboratório sem vestir a bata, com um casaco de felpuda gola de pele e de olharmos, suspensas, não para a experiência mas para ver se a gola de pele se incendiava na lamparina».

Aos 32 anos, Maria Virgínia casa com o capitão Ernesto Pestana, comandante do Quartel de Santa Clara, mais tarde Governador Civil de Coimbra. Antes fora alferes de artilharia no Corpo Expedicionário Português, que participou na I Guerra Mundial. Foi dos poucos que voltou para contar o horror da batalha de La Lys, que vitimou 327 oficiais e 7.098 praças. O gás mostarda usado pelos alemães fragilizou-lhe para sempre a saúde.

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Em sua casa, ao piano
 
O militar conheceu Virgínia ao ouvi-la cantar na Sé Velha e na Igreja de Santa Cruz e dela se tornou admirador. No dia em que recebeu o sim nupcial, mandou-a ir para a janela à noite e olhar na direcção do quartel de Santa Clara. Por ela mandou colocar um soldado em cada janela com uma luminária e a homenagem viu-se em toda a Coimbra. Tiveram seis filhos, o último já tinha Virgínia 47 anos. Amamentou-os todos um ano e como a licença de parto era de apenas um mês, a criada levava-lhe o bebé à escola para a sessão alimentícia.

Dos tempos em que o marido foi Governador Civil, Virgínia recorda as festas. «Quando veio cá a Princesa Margarida, em 1959, fomos a um almoço no Estoril. Fiquei ao lado do Champalimaud. Que antipático!» Na recepção ao Presidente do Brasil, Café Filho, Salazar reconheceu-a e fez questão de ir cumprimentá-la.

Da vida ficou-lhe a pena pelas viagens que não fez. Para compensar, a filha mais nova, Maria Aldegundes, já a levou consigo a Londres e à Grécia, com a provecta idade de 80 anos. Qualquer passeio de carro lhe põe a rir os olhos. Nunca se habituou a ver partir todos os que conheceu. No momento é um choque, que depois aceita com naturalidade.

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Em sua casa, em Coimbra, com a filha Ana, de 70 anos,e três dos onze bisnetos que já tem. Os netos são 13
 
Da mesma forma que passou por inúmeras rupturas históricas - o advento da República, as duas guerras mundiais, a ditadura, o 25 de Abril - sem permitir que estas deixassem marcas na sua memória. Em 1974 porém, vendo a revolução na rua, apanhou um autocarro e foi assistir a um comício do PCP para perceber o que era a Liberdade. Tinha 75 anos. Hoje, atribui a sua longevidade ao optimismo que sempre cultivou, à relativização dos problemas, aos muitos quilómetros andados a pé e à dieta. Há 20 anos que apenas come sopa, fruta e leite. Não tem colesterol e a custo a convenceram a tomar um remédio para a irrigação cerebral. Prefere pedir fotos às pessoas que conhece, escrevendo nas costas o nome respectivo em letrinha elaborada. «E assim construo a memória de todos os dias.»
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Com as colegas de Coimbra
 
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ARQUIVO UNIVERSIDADE DE COIMBRA
 
O diploma que atesta a licenciatura de Maria Virgínia em Físico-Química, em 1922
 


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No rio Vouga
 
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Em 1916, finalista do Liceu de Viseu
 


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Namoro à beira-rio: Virgínia com o noivo, Ernesto Pestana, e as futuras sogra e cunhada
 
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Em 1933, com o primogénito, Nuno
 


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Ernesto, em 1917, na I Guerra Mundial
 
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Texto de Raquel Moleiro
Fotografias actuais de Ana Baião


O que a vida me ensinou, José Manuel de Mello

(Última edição: sábado, 16 de abril de 2005 às 12:27)
  Expresso
16.04.2005

O que a vida me ensinou, José Manuel de Mello
 
Empresário, 78 anos
 
Nasceu rico e em pequeno queria ser «playboy». Retirado da vida activa empresarial, dedica-se à produção de vinho no Alentejo. Na memória de muitos continua a ser o patrão da CUF ou da Lisnave, embora os seus interesses estejam, agora, na Brisa e nas clínicas de saúde.Portugal incomoda-o.Um debate na Assembleia da República deixa-o mal disposto, Quando assim é, pega num avião e sai, a ver se refresca

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LUIZ CARVALHO
No 25 de Abril não fui derrotado, fui confiscado. Tomei conhecimento do que se estava a passar à noite, quando começou o «Grândola, Vila Morena». Passei dois dias no escritório a tentar criar núcleos de resistência no meio empresarial, ainda com a esperança que a coisa não acabasse da forma tão ordinária como acabou. Reuni muita gente. Não tinha ilusões de que o Partido Comunista, mas não só, estava a aproveitar-se e estava por trás de tudo quanto se tinha passado. Vivemos horas e horas com outros empresários a ver se criávamos uma coesão para fazer frente, ou para resistir, ou para encaminhar noutro sentido. Em certa medida isso foi conseguido. Não quero dizer que a CIP tenha nascido destas reuniões, mas tiveram muita influência.

Senti que era um mundo que acabava e um mundo que começava. Daí a minha desilusão quando digo que nunca imaginei que a coisa fosse tão ordinária. Quando digo ordinária, quero dizer com falta de categoria, má qualidade como acabou por ser, com toda a manipulação que houve, nitidamente destrutiva. Faz-me impressão ver pessoas, algumas altamente colocadas na hierarquia do Estado, e que desde essa data fazem parte do sistema. O sistema continua a existir e todos se autoprotegem. Até varrem da memória aquilo em que estiveram envolvidos e hoje aparecem a dar lições e conselhos.

Depois do 25 de Abril fui para o estrangeiro com uma equipa para continuar a trabalhar, sujeitos aos mesmos sacrifícios de não saber se conseguíamos realizar o fim do mês para comer o pão. Pus a minha família na Suíça, junto de amigos. Não tinha dinheiro para lhes dar a educação... mas, enfim, isso tudo já lá vai. O ódio é uma coisa que não move nada. Não faz nada de construtivo. Quando olho para o Parlamento, uma das coisas que me impressiona é a aparência de ódio e inveja que surgem ali. Acho que o amor constrói tudo.

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LUIZ CARVALHO
Sou firmemente crédulo na democracia. Sempre fui. Desde muito novo que andei por fora. Vivi muito. Viajei muito. Comecei a minha vida profissional como funcionário da CUF a vender adubos no Médio Oriente. Estive instalado perto de um ano em Chipre e andava muito pelo Norte da Europa. Depois comecei a ocupar-me da navegação. Tinha uma visão do que era a vida nas democracias estabilizadas do Norte da Europa. Para mim, essa vivência era natural, era intrínseca. Levava-me a concluir que a realidade portuguesa era uma realidade a prazo. Não tinha dúvidas nenhumas sobre isso. Tive a esperança, por ingenuidade, por credulidade, que adviria uma evolução no sentido de nos aproximarmos das regras do Norte da Europa. Pensava numa transição suave. Nunca achei que as revoluções resolvam seja o que for. Às vezes são necessárias, mas sempre pensei que houvesse inteligência bastante para fazer uma evolução.

Não me sinto particularmente orgulhoso de um dia, no Brasil, depois do 25 de Abril, ter virado a cara a Marcello Caetano, quando ele apareceu no mesmo restaurante onde eu estava. Veio para me falar e eu virei a cara. Arrependi-me de ter feito isso. Na altura culpabilizava-o muito de ter permitido que as coisas chegassem ao ponto de justificarem a parte rasca do 25 de Abril. Tive grandes esperanças quando Marcello Caetano foi para o Governo. Cheguei a manifestar-lhe essas esperanças, mas também a minha desilusão. Não sei se na altura em que ele chegou ao poder ainda era possível fazer diferente, mas achava que ele devia tê-lo feito. O problema colonial estava posto em cima da mesa. O livro de Spínola foi publicado por uma editora que estava no meu grupo, mas não sei se foi a parte mais positiva, ou que contribuiu para alguma coisa. Até pelo posterior comportamento de Spínola.

Gosto de viajar. Gosto principalmente de sair deste ambiente asfixiante que acho que é o do meu país, por provincianismo, por falta de objectividade. Acho que o português é o mais provinciano que há. Somos periféricos. O português é essencialmente pouco evoluído. Vive longe da realidade. Tem uma posição quase de espectador permanente. Mesmo todas as ligações com o mar, que é um dos meios de comunicação mais antigos, não tiveram em nós grande influência. Somos burgessos. Somos pequeninos. Temos uma atitude meio saloia. Sinto-me incomodado com o país. Basta assistir a uma sessão da Assembleia da República. Fico mal disposto durante oito dias. A primeira coisa que faço é pegar num avião e sair daqui, para ver se refresco. Porque aquilo é tudo menos um parlamento como devia ser. Incomoda-me a falta de nível, a forma como são discutidos os problemas, onde se debate tudo, menos o essencial. Quanto aos governos, também não temos um grande currículo nos últimos tempos. Desde o Cavaco Silva, que não fugiu, a partir daí nunca mais houve nenhum primeiro-ministro que não tivesse fugido, ou que tivesse acabado o seu mandato. O Cavaco Silva não terá fugido, mas lá que não pretendeu continuar, isso sem dúvida nenhuma.

Custam-me estes processos da Casa Pia, que se prolongam. Custam-me os noticiários, onde a parte essencial não é transmitida. Custa-me a queda da ponte de Entre-os-rios. Ninguém sabe quem é o culpado, mas houve vítimas. Custa-me passar pelo Terreiro do Paço e ver uma obra que não sei se está a fazer-se ou não, e quem é que decidiu. Custam-me estas guerras do túnel do Marquês. E ninguém põe nada em causa. Então, o país? E nós? Estamos a sofrer com isto, lá porque falta o relatório, ou falta a vírgula.

O AR DE PORTUGAL É ATERRORIZADOR

É raro passar um mês seguido em Portugal. Gosto de ir para Londres ou para os EUA. Também gosto de ir a Espanha. O que me atrai na ideia de viajar é o que se respira de ar diferente. Acho que este ar aqui é aterrorizador. Não percebo a capitalização da desgraça que se faz na televisão, cujos noticiários demoram quase uma hora. Não acabam, sequer, com uma história engraçada, positiva, como a televisão inglesa. A louca procura das audiências faz sempre repisar o negativo. Não é que ache que o negativo não deva ser posto ao de cima, para estarmos todos conscientes, mas tudo tem limites.

A minha primeira grande viagem foi a acompanhar o meu pai, mal tinha acabado a II Guerra Mundial, quando ele foi tratar de reequipar a CUF. Durante o período da guerra tinha sido impossível renovar o equipamento das fábricas e os navios estavam velhos. Lembro-me de chegar a Paris e ver senhas de racionamento, que era uma coisa que aqui não se conhecia. Recordo-me de ver Londres destruída. Em Bruxelas e em toda a parte da Bélgica vi as pessoas com fome. Aqui nunca imaginámos essas coisas. A minha família nunca foi profundamente germanófila, embora tivesse um bocadinho o estigma da Guerra Civil de Espanha, em que se envolveu. O meu avô ajudou de várias formas o lado nacionalista, que acabaria por sair vencedor. Em minha casa fizeram-se muitas camisolas para levar a Espanha. O meu pai tinha a carta de pesados e foi em comboios a guiar o camião para levar produtos. O meu avô e a minha família sempre foram gente que acreditaram na autoridade e na ordem. A opinião que corria lá em casa era essa. Mas não se pode deixar de contextualizar isto no tempo em que foi. Impressiona-me esta necessidade de pedir desculpa, como o Papa veio pedir desculpa, ou o Presidente Chissano, que já não é presidente, mas que foi ao Norte e disse que falta aos portugueses pedirem desculpa. Pedirem desculpa de quê? Foi um contexto. Foi uma época, e nessa época era como era. Não éramos diferentes dos outros. Que se capitalize hoje isso por razões políticas ou outras, é um completo exagero.

Os meus pais eram pouco autoritários. Talvez mais disciplinadores. A minha mãe, filha única de Alfredo da Silva, era de formação e educação muito germânica. Tinha um grande respeito pela vida empresarial do pai e incutia-nos essa visão de que o que valia era o trabalho que se fazia nas empresas. Acima de tudo importava o trabalho, criar empresas, criar iniciativas. Mais tarde o meu pai sucedeu ao meu avô e também seguiu a mesma linha, de uma formação de que o que vale é o trabalho e criar riqueza. Para além de, na maioria dos casos, ser a forma de sustentação da família. O trabalho é próprio do homem, o homem que não trabalha não pode ser feliz. Trabalhar é quase tão importante como lavar os dentes e fazer a barba.

Em pequeno, eu dizia que quando fosse grande queria ser «playboy». Sempre gostei de fazer desporto, de andar à vela. Era rico, já tinha herdado, e sempre pensei em comprar um barco à vela para dar a volta ao Mundo. Quando a minha mãe me chamou à realidade, me informou que o meu pai estava gravemente doente e lhe respondi que estava a pensar ir, durante um ano, dar a volta ao Mundo, ela disse-me para nem pensar nisso. A minha obrigação era trabalhar nas empresas que o meu avô tinha criado e o meu pai continuado. Assim foi. Já tinha sinalizado o barco. Foi o sinal à viola e agarrei-me à rabiça. Já nem penso nisso de dar a volta ao Mundo.

TENHO MENOS CERTEZAS E MAIS DÚVIDAS

 

Quando a minha mãe me confrontou com aquele desafio, não tinha remédio. Não tinha alternativa. Se estava preparado, ou não, era aquilo que tinha de fazer. Preparei-me. Mudei de perspectiva. Subconscientemente estava convencido de que era esse o meu caminho.

Não posso dizer que o dinheiro não seja importantíssimo, mas não é isso que me move. Nasci num berço de oiro e por isso sempre tive dinheiro. Em todo o caso, depois do 25 de Abril passei por muitos maus bocados, durante um ano ou dois. Soube adaptar-me a viver «à rasca» para chegar ao fim do mês. O dinheiro é importantíssimo para quem não o tem, por isso é quase uma barbaridade estar a dizer uma coisa destas.

A vida ensinou-me que não sei nada. Cada vez tenho menos certezas e cada vez tenho mais dúvidas. Mas acho que a vida vale a pena ser vivida. Acredito muito no evangelho dos talentos. Quem os tem, tem a obrigação de os fazer render.

Texto de Valdemar Cruz



The Pope's Contradictions

(Última edição: domingo, 17 de abril de 2005 às 20:00)

March 26, 2005

 


CRISIS IN THE CATHOLIC CHURCH

The Pope's Contradictions

By Hans Küng

Outwardly Pope John Paul II, who has been actively involved in battling war and suppression, is a beacon of hope for those who long for freedom. Internally, however, his anti-reformist tenure has plunged the Roman Catholic church into an epochal credibility crisis.

The Catholic church is in dire straits. The pope is deathly ill and deserves every bit of sympathy he can get. But the church must live on, and in light of the selection of a new pope, it will need a diagnosis, an unadorned insider analysis. The therapy will be discussed later.

Many marvel at the staying power of this highly fragile, partially paralyzed head of the Roman Catholic church, a man who, despite all medications, is barely able to speak. He is treated with a sort of reverence that would never be extended to an American president or a German chancellor in a similar state. Others feel put off by a man they see as an obstinate office bearer who, instead of accepting the Christian path to his own eternity, is using all means at his disposal to hold on to power in a largely undemocratic system.

Even for many Catholics, this pope at the end of his physical strength, refusing to relinquish his power, is the symbol of a fraudulent church that has calcified and become senile behind its glittering façade.

The festive mood that prevailed during the Second Vatican Council (1962 to 1965), or Vatican II, has disappeared. Vatican II's outlook of renewal, ecumenical understanding and a general opening of the world now seems overcast and the future gloomy. Many have resigned themselves or even turned away out of frustration from this self-absorbed hierarchy. As a result, many people are confronted with an impossible set of alternatives: "play the game or leave the church." New hope will only begin to take root when church officials in Rome and in the episcopacy reorient themselves toward the compass of the Gospel.

Hans Kung

Hans Kung is one of today's leading Catholic theologians. Küng, a Swiss national living in the southern German city of Tübingen, has been embroiled in an ongoing feud with church authorities for decades. As a result of his critical inquiries on the papacy, the Vatican withdrew his church authority to teach in 1979. Nevertheless, Küng, 75, is still a priest and, until his retirement in 1995, taught ecumenical theology at the University of Tübingen. As president of the Global Ethic Foundation, Küng is also an advisor to the United Nations.

CONTINUE

One of the few glimmers of hope has been the pope's stance against the Iraq war and war in general. The role the Polish pope played in helping bring about the collapse of the Soviet empire is also emphasized, and rightly so. But it's also heavily exaggerated by papal propagandists. After all, the Soviet regime did not fail because of the pope (before the arrival of Gorbachev, the pope was achieving about as little as he is now achieving in China), but instead imploded because of the Soviet system's inherent economic and social contradictions.

In my view, Karol Wojtyla is not the greatest, but certainly the most contradictory, pope of the 20th century. A pope of many great gifts and many wrong decisions! To summarize his tenure and reduce it to a common denominator: His "foreign policy" demands conversion, reform and dialogue from the rest of the world. But this is sharply contradicted by his "domestic policy," which is oriented toward the restoration of the pre-council status quo, obstructing reform, denying dialogue within the church, and absolute Roman dominance. This inconsistency is evident in many areas. While expressly acknowledging the positive sides of this pontificate, which, incidentally, have received plenty of official emphasis, I would like to focus on the nine most glaring contradictions:

HUMAN RIGHTS: Outwardly, John Paul II supports human rights, while inwardly withholding them from bishops, theologians and especially women.

The Vatican -- once a resolute foe of human rights, but nowadays all too willing to become involved in European politics -- has yet to sign the European Council's Declaration of Human Rights. Far too many canons of the absolutist Roman church law of the Middle Ages would have to be amended first. The concept of separation of powers, the bedrock of all modern legal practice, is unknown in the Roman Catholic church. Due process is an unknown entity in the church. In disputes, one and the same Vatican agency functions as lawmaker, prosecutor and judge.

Consequences: A servile episcopate and intolerable legal conditions. Any pastor, theologian or layperson who enters into a legal dispute with the higher church courts has virtually no prospects of prevailing.

THE ROLE OF WOMEN: The great worshiper of the Virgin Mary preaches a noble concept of womanhood, but at the same time forbids women from practicing birth control and bars them from ordination.

Consequences: There is a rift between external conformism and internal autonomy of conscience. This results in bishops who lean towards Rome, alienating themselves from women, as was the case in the dispute surrounding the issue of abortion counseling (in 1999, the Pope ordered German bishops to close counseling centers that issued certificates to women that could later be used to get an abortion). This in turn leads to a growing exodus among those women who have so far remained faithful to the church.

SEXUAL MORALS: This pope, while preaching against mass poverty and suffering in the world, makes himself partially responsible for this suffering as a result of his attitudes toward birth control and explosive population growth.

During his many trips and in a speech to the 1994 United Nations Conference on Population and Development in Cairo, John Paul II declared his opposition to the pill and condoms. As a result, the pope, more than any other statesman, can be held partly responsible for uncontrolled population growth in some countries and the spread of AIDS in Africa.

Consequences: Even in traditionally Catholic countries like Ireland, Spain and Portugal, the pope's and the Roman Catholic church's rigorous sexual morals are openly or tacitly rejected.

CELIBACY AMONG PRIESTS: By propagating the traditional image of the celibate male priest, Karol Wojtyla bears the principal responsibility for the catastrophic dearth of priests, the collapse of spiritual welfare in many countries, and the many pedophilia scandals the church is no longer able to cover up.

Marriage is still forbidden to men who have agreed to devote their lives to the priesthood. This is only one example of how this pope, like others before him, is ignoring the teachings of the bible and the great Catholic tradition of the first millennium, which did not require office bearers to take a vow of celibacy. If someone, by virtue of his office, is forced to spend his life without a wife and children, there is a great risk that healthy integration of sexuality will fail, which can lead to pedophilic acts, for example.

Consequences: The ranks have been thinned and there is a lack of new blood in the Catholic church. Soon almost two-thirds of parishes, both in German-speaking countries and elsewhere, will be without an ordained pastor and regular celebrations of the Eucharist. It's a deficiency that even the declining influx of priests from other countries (1,400 of Germany's priests are from Poland, India and Africa) and the combining of parishes into "spiritual welfare units," a highly unpopular trend among the faithful, can no longer hide. The number of newly ordained priests in Germany dropped from 366 in 1990 to 161 in 2003, and the average age of active priests today is now above 60.

ECUMENICAL MOVEMENT: The pope likes to be seen as a spokesman for the ecumenical movement. At the same time, however, he has weighed heavily on the Vatican's relations with orthodox and reform churches, and has refused to recognize their ecclesiastical offices and Communion services.

The pope could heed the advice of several ecumenical study commissions and follow the practice of many local pastors by recognizing the offices and Communion services of non-Catholic churches and permitting Eucharistic hospitality. He could also tone down the Vatican's excessive, medieval claim to power, in terms of doctrine and church leadership, vis-à-vis eastern European churches and reform churches, and could do away with the Vatican's policy of sending Roman-Catholic bishops to regions dominated by the Russian Orthodox church.

The pope could do these things, but John Paul II doesn't want to. Instead, he wants to preserve and even expand the Roman power system. For this reason, he resorts to a pious two-facedness: Rome's politics of power and prestige are veiled by ecumenical soapbox speeches and empty gestures.

Consequences: Ecumenical understanding was blocked after the council, and relations with the Orthodox and Protestant churches were burdened to an appalling extent. The papacy, like its predecessors in the 11th and 16th centuries, is proving to be the greatest obstacle to unity among Christian churches in freedom and diversity.

PERSONNEL POLICY: As a suffragan bishop and later as archbishop of Krakow, Karol Wojtyla took part in the Second Vatican Council. But as pope, he disregarded the collegiality which had been agreed to there and instead celebrated the triumph of his papacy at the cost of the bishops.

With his "internal policies," this Pope betrayed the council numerous times. Instead of using the conciliatory program words "Aggiornamento - Dialogue and Collegiality -- ecumenical," what's valid now in doctrine and practice is "restoration, lectureship, obedience and re-Romanization." The criteria for the appointment of a bishop is not the spirit of the gospel or pastoral open-mindedness, but rather to be absolutely loyal to the party line in Rome. Before their appointment, their fundamental conformity is tested based on a curial catalog of questions and they are sacrally sealed through a personal and unlimited pledge of obedience to the Pope that is tantamount to an oath to the "Fuehrer."

The Pope's friends among the German-speaking bishops include Cologne's Cardinal Joachim Meisner, the Bishop of Fulda Johannes Dyba, who died in 2000, Hans Hermann Groer, who resigned from his post as Vienna's cardinal in 1995 following allegations that he had sexually abused pupils years before and the Bishop of St. Poeltin, Kurt Krenn, who just lost his post after a sex scandal emerged in his priests' seminary. Those are just the most spectacular mistakes of these pastorally devastating personnel policies, which have allowed the moral, intellectual and pastoral level of the episcopate to dangerously slip.

Consequences: A largely mediocre, ultra-conservative and servile episcopate is possibly the most serious burden of this overly long pontificate. The masses of cheering Catholics at the best-staged Pope manifestations should not deceive: Millions have left the church under this pontificate or they have withdrawn from religious life in opposition.

CLERICALISM: The Polish pope comes across as a deeply religious representative of a Christian Europe, but his triumphant appearances and his reactionary policies unintentionally promote hostility to the church and even an aversion to Christianity.

In the papal campaign of evangelization, which centers on a sexual morality that is out of step with the times, women, in particular, who do not share the Vatican's position on controversial issues like birth control, abortion, divorce and artificial insemination are disparaged as promoters of a "culture of death." As a result of its interventions -- in Germany, for example, where it sought to influence politicians and the episcopacy in the dispute surrounding the issue of abortion counseling -- the Roman Curia creates the impression that it has little respect for the legal separation of church and state. Indeed, the Vatican (using the European People's Party as its mouthpiece) is also trying to exert pressure on the European Parliament by calling for the appointment of experts, in issues relating to abortion legislation, for example, who are especially loyal to Rome. Instead of entering the social mainstream everywhere by supporting reasonable solutions, the Roman Curia, through its proclamations and secret agitation (through nuntiatures, bishops' conferences and "friends"), is in fact fueling the polarization between the pro-life and pro-choice movements, between moralists and libertines.

Consequences: Rome's clericalist policy merely strengthens the position of dogmatic anti-clericalists and fundamentalist atheists. It also creates suspicion among believers that religion could be being misused for political ends.

NEW BLOOD IN THE CHURCH: As a charismatic communicator and media star, this pope is especially effective among young people, even as he grows older. But he achieves this by drawing in large part on the conservative "new movements" of Italian origin, the "Opus Dei" movement that originated in Spain, and an uncritical public loyal to the pope. All of this is symptomatic of the pope's approach to dealing with the lay public and his inability to converse with his critics.

The major regional and international youth events sponsored by the new lay movements (Focolare, Comunione e Liberazione, St. Egidio, Regnum Christi) and supervised by the church hierarchy attract hundreds of thousands of young people, many of them well-meaning but far too many uncritical. In times when they lack convincing leadership figures, these young people are most impressed by a shared "event." The personal magnetism of "John Paul Superstar" is usually more important than the content of the pope's speeches, while their effects on parish life are minimal.

In keeping with his ideal of a uniform and obedient church, the pope sees the future of the church almost exclusively in these easily controlled, conservative lay movements. This includes the Vatican's distancing itself from the Jesuit order, which is oriented toward the tenets of the council. Preferred by earlier popes, the Jesuits, because of their intellectual qualities, critical theology and liberal theological options, are now perceived as spanners in the works of the papal restoration policy.

Instead, Karol Wojtyla, even during his tenure as archbishop of Krakow, placed his full confidence in the financially powerful and influential, but undemocratic and secretive Opus Dei movement, a group linked to fascist regimes in the past and now especially active in the world of finance, politics and journalism. In fact, by granting Opus Dei special legal status, the pope even made the organization exempt from supervision by the church's bishops.

Consequences: Young people from church groups and congregations (with the exception of alter servers), and especially the non-organized "average Catholics," usually stay away from major youth get-togethers. Catholic youth organizations at odds with the Vatican are disciplined and starved when local bishops, at Rome's behest, withhold their funding. The growing role of the archconservative and non-transparent Opus Dei movement in many institutions has created a climate of uncertainty and suspicion. Once-critical bishops have cozied up to Opus Dei, while laypeople who were once involved in the church have withdrawn in resignation.

SINS OF THE PAST: Despite the fact that in 2000 he forced himself through a public confession of the church's historical transgressions, John Paul II has drawn almost no practical consequences from it.

The baroque and bombastic confession of the church's transgressions, staged with cardinals in St. Peter's Cathedral, remained vague, non-specific and ambiguous. The pope only asked for forgiveness for the transgressions of the "sons and daughters" of the church, but not for those of the "Holy Fathers," those of the "church itself" and those of the hierarchies present at the event.

The pope never commented on the Curia's dealings with the Mafia, and in fact contributed more to covering up than uncovering scandals and criminal behavior. The Vatican has also been extremely slow to prosecute pedophilia scandals involving Catholic clergy.

Consequences: The half-hearted papal confession remained without consequences, producing neither reversals nor action, only words.

For the Catholic church, this pontificate, despite its positive aspects, has on the whole proven to be a great disappointment and, ultimately, a disaster. As a result of his contradictions, this pope has deeply polarized the church, alienated it from countless people and plunged it into an epochal crisis -- a structural crisis that, after a quarter century, is now revealing fatal deficits in terms of development and a tremendous need for reform.

Contrary to all intentions conveyed in the Second Vatican Council, the medieval Roman system, a power apparatus with totalitarian features, was restored through clever and ruthless personnel and academic policies. Bishops were brought into line, pastors overloaded, theologians muzzled, the laity deprived of their rights, women discriminated against, national synods and churchgoers' requests ignored, along with sex scandals, prohibitions on discussion, liturgical spoon-feeding, a ban on sermons by lay theologians, incitement to denunciation, prevention of Holy Communion -- "the world" can hardly be blamed for all of this!!

The upshot is that the Catholic church has completely lost the enormous credibility it once enjoyed under the papacy of John XXIII and in the wake of the Second Vatican Council.

If the next pope were to continue the policies of this pontificate, he would only reinforce an enormous backup of problems and turn the Catholic church's current structural crisis into a hopeless situation. Instead, a new pope must decide in favor of a change in course and inspire the church to embark on new paths -- in the spirit of John XXIII and in keeping with the impetus for reform brought about by the Second Vatican Council.




© DER SPIEGEL 13/2005
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MIT students pull prank on conference

(Última edição: quarta-feira, 20 de abril de 2005 às 10:02)
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MIT students pull prank on conference

Computer-generated gibberish submitted, accepted

Thursday, April 14, 2005 Posted: 7:29 PM EDT (2329 GMT)

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CAMBRIDGE, Massachusetts (Reuters) -- In a victory for pranksters at the Massachusetts Institute of Technology, a bunch of computer-generated gibberish masquerading as an academic paper has been accepted at a scientific conference.

Jeremy Stribling said Thursday that he and two fellow MIT graduate students questioned the standards of some academic conferences, so they wrote a computer program to generate research papers complete with "context-free grammar," charts and diagrams.

The trio submitted two of the randomly assembled papers to the World Multi-Conference on Systemics, Cybernetics and Informatics (WMSCI), scheduled to be held July 10-13 in Orlando, Florida.

To their surprise, one of the papers -- "Rooter: A Methodology for the Typical Unification of Access Points and Redundancy" -- was accepted for presentation.

The prank recalled a 1996 hoax in which New York University physicist Alan Sokal succeeded in getting an entire paper with a mix of truths, falsehoods, non sequiturs and otherwise meaningless mumbo-jumbo published in the quarterly journal Social Text, published by Duke University Press.

Stribling said he and his colleagues only learned about the Social Text affair after submitting their paper.

"Rooter" features such mind-bending gems as: "the model for our heuristic consists of four independent components: simulated annealing, active networks, flexible modalities, and the study of reinforcement learning" and "We implemented our scatter/gather I/O server in Simula-67, augmented with opportunistically pipelined extensions."

Stribling said the trio targeted WMSCI because it is notorious within the field of computer science for sending copious e-mails that solicit admissions to the conference.

The idea of a fake submission was to counter "fake conferences...which exist only to make money," explained Stribling and his cohorts' website, "SCIgen - An Automatic CS Paper Generator."

"Our aim is to maximize amusement, rather than coherence," it said. The website allows users to "Generate a Random Paper" themselves, with fields for inserting "optional author names."

"Contrarily, the lookaside buffer might not be the panacea..."

Nagib Callaos, a conference organizer, said the paper was one of a small number accepted on a "non-reviewed" basis -- meaning that reviewers had not yet given their feedback by the acceptance deadline.

"We thought that it might be unfair to refuse a paper that was not refused by any of its three selected reviewers," Callaos wrote in an e-mail. "The author of a non-reviewed paper has complete responsibility of the content of their paper."

However, Callaos said conference organizers were reviewing their acceptance procedures in light of the hoax.

Asked whether he would disinvite the MIT students, Callos replied, "Bogus papers should not be included in the conference program."

Stribling said conference organizers had not yet formally rescinded their invitation to present the paper.

The students were soliciting cash donations so they could attend the conference and give what Stribling billed as a "completely randomly-generated talk, delivered entirely with a straight face."

They exceeded their goal, with $2,311.09 cents from 165 donors.



Copyright 2005 Reuters. All rights reserved.This material may not be published, broadcast, rewritten, or redistributed.

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AS “PALAVRAS VENENO” DO SEMANÁRIO EXPRESSO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

(Última edição: domingo, 29 de maio de 2005 às 23:11)

AS PALAVRAS VENENO DO SEMANÁRIO EXPRESSO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

A % de TRABALHADORES NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA EM PORTUGAL REPRESENTA APENAS />58% DA MÉDIA DOS PAISES DA UNIÃO EUROPEIA

O semanário Expresso de 5 de Maio 2005, caracterizou a situação da Administração Pública em Portugal nos seguintes termos: retrato ainda mais negro, crescimento imparável, o prometido emagrecimento da Função Pública não teve quaisquer resultados, etc., ou seja, utilizou termos que na ciência da comunicação se chamam palavras veneno com o intuito de provocar sentimentos negativos no leitor relativamente à Administração Pública e aos seus trabalhadores.

...


Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive

(Última edição: segunda-feira, 29 de agosto de 2005 às 15:32)

Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive

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Published: August 22, 2005

SAN FRANCISCO, Aug. 21 - Edward Vazquez Jr., 6, has numerous educational tools at his disposal. He learns math from flashcards and the alphabet from a popular electronic gadget called the LeapPad. But when it comes to instruction, the family's personal computer sits dormant.

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Riverdeep

Sales of PC titles like Reader Rabbit are a third of what they were in 2000.

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"He has a lot of toys for learning - not the computer," said his father, Edward Vazquez, 28, a waiter in San Francisco. One reason, Mr. Vazquez said, is "you don't see a lot of that software."

That statement would have been unthinkable a few years ago. In 2000, sales of educational software for home computers reached $498 million, and it was conventional wisdom among investors and educators that learning programs for PC's would be a booming growth market.

Yet in less than five years, that entire market has come undone. By 2004, sales of educational software - a category that includes programs teaching math, reading and other subjects as well as reference works like encyclopedias - had plummeted to $152 million, according to the NPD Group, a market research concern.

"Nobody would have thought those were the golden days," Warren Buckleitner, editor of Children's Technology Review, said of the late 1990's. "Now we're looking back and we're saying, 'Wow, what happened?' "

What happened was an explosion of new, often free technologies competing to entertain and teach children. Young children have long been a primary audience for computer learning games. But with free games and learning sites now available all over the Internet, parents are finding that they do not need to buy software that can teach the A B C's. And the spread of broadband connections has made playing online games far easier.

The preschool and elementary school set is also moving toward portable gadgets like the LeapPad made by LeapFrog Enterprises, and other electronic toys from makers like Fisher-Price and VTech. Older students, industry analysts said, are less likely to buy educational software when reference material and encyclopedias are free online.

And there is the pass-along effect. Simple programs for toddlers and young children are often handed down among brothers and sisters because the titles and curriculums do not change much over the years.

Other industry analysts and executives said that parents' frustration at installing new programs and the nearly universal availability of computers in classrooms have made using home PC's for learning less appealing.

Danisha Floyd, 22, said her 5-year-old son, Edgar, uses a LeapPad and does not have a computer at home. "He uses computers at school," she said.

Alan Zack, product director for Encore Software, a Los Angeles company that makes and distributes educational programs, said, "Kids come home and they don't want to get on the computer."

Basically, said Chris Swenson, an education software analyst for NPD, "the PC has lost its luster as the center for learning at an early age."

The result in business terms has been a downward spiral. Only 222 educational programs for PC's sold more than 10,000 copies in 2004, down from 447 in 2001, according to NPD. As sales began to decrease, retailers devoted less and less shelf space to these titles, making recovery for the industry more difficult.

To regain their footing, some companies are starting to create programs that can connect to the Internet and cater to parents' interest in measuring their children's academic progress.

One reason for hope is that parents are spending more on educational tools and services than ever. Kirsten Edwards, an education software industry analyst with ThinkEquity Partners, a research firm, noted that overall spending on teaching tools and toys had increased. Spending on tutors, she said, rose to $4 billion in 2004, from $3.4 billion a year earlier.

Yet educational software is getting an ever smaller share of that consumer dollar. It is among the lowest-priced of any software category; in 2004 the average price for an educational program was $18, compared with $23 for the average computer game, according to NPD.

Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive

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The fate of the Learning Company, once one of the biggest names in the educational software business - with well-known titles like Reader Rabbit and Carmen Sandiego - underscores the industry's rapid decline.

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Peter DaSilva for The New York Times

Jessica Lindl of Riverdeep, which makes educational software, said future versions would give parents feedback on their children's progress.

In 1998, the company was acquired by Mattel for $3.8 billion, an indication of the expectations for the industry's growth. Quickly, though, the market faltered. In 2001, the company's educational titles were acquired for $40 million by Riverdeep, an Irish education software company. Today, Riverdeep, which has an office in San Francisco, continues to sell Learning Company brands. But it is trying to remake them to cater to new consumer interests.

Last week, it released repackaged versions of Reader Rabbit and Carmen Sandiego, among other titles, that include in the boxes an old-fashioned tool: flashcards intended to complement what students learn on the computer.

Jessica Lindl, vice president for marketing at Riverdeep, said the flashcards are lead-ins to more extensive changes in the software next year. Future versions, she said, will help assess a student's needs and give parents feedback on the child's progress. In future versions of the reading program Reader Rabbit, for example, children who do not master a level will get repeated lessons.

People used to buy educational technology for technology's sake, Ms. Lindl said. "What needs to happen now is there needs to be returns, or results, for the purchase."

One company, Topics Entertainment, of Renton, Wash., is aiming at parents who want to increase student achievement. Programs in its Success line are packaged in clean white boxes without cute cartoon characters, though the programs, which teach math, reading and other classroom subjects, are meant for students in grade school.

Even getting the programs into the stores can be a big challenge. Max Cowsert, director of product development for Topics Entertainment, said that retailers like Best Buy had reduced the shelf space they allot to educational software, and some video game retailers had eliminated the category altogether. "It's not going to continue to slide at this rate," Mr. Cowsert said. "It has to stop declining, or we'll disappear."

Educational software makers in the consumer market are not alone in their struggles. Those making software for schools have suffered too, executives and analysts said, from cutbacks in school budgets. Overall spending on software by K-12 schools was $2.3 billion in 2004, up 2 percent from a year earlier but down from $3.4 billion in 2001, according to ThinkEquity Partners.

Nonetheless, some say that children's software can make a comeback. Mr. Buckleitner, an occasional contributor to the Circuits section of The New York Times, says there is still a future for teaching tools for the PC, especially as high-speed Internet access permits the delivery of richer content.

As for the drop in sales, he said, "it's like a forest fire has burned through," making the scorched earth ready for future growth.


Um ano de desafios, José Lopes da Silva

(Última edição: domingo, 18 de setembro de 2005 às 15:31)
2005-09-18 - 00:00:00, Correio da Manhã

Opinião


Um ano de desafios

A Sociedade evolui e por isso a formação a ministrar não pode deixar de lado preocupações de cidadania, de conhecimento, de cultura, de desporto, enfim, da plenitude de uma intervenção cívica que bem alicerce a razão de ser do cidadão de pleno direito.

O início de cada ano lectivo é marcado pela expectativa que todos os que nele se vêm envolvidos colocam, quer sob o ponto de vista do ensino propriamente dito, quer sob o ponto de vista do conjunto das condições que asseguram a sua normalidade.

Este ano, àquelas expectativas acrescem as alterações consagradas na nova Lei de Bases, que acarretarão para o Ensino Superior o colocar de novas hipóteses de trabalho abrangendo a implementação de novas metodologias, novos curricula, novas atitudes face aos processos de ensino e de aprendizagem e, principalmente, as que decorrem do designado Processo de Bolonha.

Na realidade, o Processo de Bolonha traz consigo a exigência de uma maior participação dos professores na vida dos estudantes e, simultaneamente, exige dos estudantes uma nova atitude perante os professores e o ensino, pressupondo uma posição activa e permanente na assimilação dos conhecimentos, com consequente rejeição da passividade apenas alterada pela urgência requerida pela ameaça dos exames.

Daqui decorre também a importância de uma reflexão que tem de ser feita por todos, quer quanto à duração dos ciclos previstos no referido Processo de Bolonha, quer quanto à nova organização de mestrados e ainda ao combate ao insucesso escolar, à boa aceitação dos perfis académicos face às solicitações do mercado de trabalho e, naturalmente, à plena realização pessoal e profissional.

A este novo mundo de desafios deverá corresponder uma atitude positiva por parte da universidade, sabendo bem receber os que a procuram e a ela se acolhem, e que nela confiam, não esquecendo que o seu papel não pode resumir-se ao de mero transmissor de conhecimentos e esgotar a sua capacidade na apresentação de um saber adquirido e consolidado.

A sociedade evolui e por isso a formação a ministrar não pode deixar de lado preocupações de cidadania, de conhecimento, de cultura, de desporto, enfim, da plenitude de uma intervenção cívica que bem alicerce a razão de ser do cidadão de pleno direito.

Dir-se-á que é exigir muito e que, com tanta solicitação, o estudante tem pela frente uma tarefa intransponível.

Mas não pode ser essa a atitude. Há que confiar nas capacidades e nas vontades. E há, acima de tudo, que encontrar o método que permita conciliar os diferentes deveres para os canalizar para o resultado final pretendido: o sucesso. Os alunos não podem ser, hoje, meros espectadores: têm de ser interventivos, participantes e activos.

É com este espírito que temos de partir para o novo ano: a universidade é um local de trabalho em que todos têm de tomar parte, transmitindo saberes já adquiridos, construindo novos mundos de conhecimento, buscando o enriquecimento cultural e científico, com abertura de espírito às inovações dos processos, tendo por meta final o bem-estar da sociedade.
José Lopes da Silva, Presidente do Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas


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