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Paris viveu durante algumas semanas, um cenário de
guerra. Mas não falamos de uma
guerra qualquer. Não são
exércitos que se opõem uns aos outros.
São populações que se viram contra as
autoridades. São jovens, na sua maioria mais novos que
qualquer FCTense que causam os desacatos. E quais as razões
para assistirmos a uma revolta de que não há
memória, desde os acontecimentos de Los Angeles, na
década de 80? |
Paris
sempre nos habituou a grandes manifestações e
revoluções sociais,
veja-se a Revolução Francesa, e o na altura
denominado Terror,
veja-se o caso da Comuna de Paris, na segunda metade do
século XIX, ou
o Maio de 68. Mas nunca se tinha visto, com esta dimensão,
uma revolta
que, tal como em Los Angeles ou noutras cidades, fosse motivada
não por
fins políticos mas contra tudo e todos.
Vamos por partes. Uma
coisa são os motivos que, inicialmente, levaram aos
protestos, outra
coisa são as pilhagens, o vandalismo e o terror que grupos
de bandidos
e oportunistas têm levado a caso. Estes últimos
não passam de
destabilizadores que, nestas situações, aparecem
sempre.
Agora, o que motivou esta situação inicial
é que tem de ser estudado. |
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Tudo começa com a morte
de dois jovens imigrantes africanos, numa
central eléctrica, ao fugirem de uma
perseguição policial. Acusados de
racistas pelas populações imigrantes, as
forças policiais, quando os
protestos começaram, tomaram medidas que ainda mais
justificaram este
rotulo, ao destruírem uma mesquita e ao tratarem todo o
imigrante como
terrorista, como aliás desde o 11 de
Setembro alguns governos têm
tratado a questão da imigração
(lembremos-nos do caso do cidadão
brasileiro morto em Inglaterra, no Verão.). Ora tudo isto
gerou um
descontentamento por parte das comunidades imigrantes, em especial os
Jovens, criando-se uma enorme bola de neve, fomentada por
comentários
racistas de um ministro. |
Ora
esta bola de neve tem raízes mais profundas do que a
lamentável
morte dos dois jovens. Estas populações
têm sido constantemente votadas
à marginalização. Oriundos de
países pobres, chegam à Europa em busca
duma vida melhor à qual todos os seres humanos têm
direito. Acabam por
ser explorados, mal pagos, vítimas de
discriminações, considerados
sempre o bode expiatório do problema do desemprego.
São colocados em
bairros que são autênticos guetos, que se tornam
barris de pólvora, que
neste caso acabaram por explodir. Os jovens destes bairros pouca ou
nenhuma motivação têm, derivada
à situação em que vivem. É
obvio que
algum dia esta situação aconteceria. A
discriminação, o racismo, a
xenofobia, os apartheids urbanos, a pobreza e o
desemprego só podem
gerar estas lamentáveis guerras
urbanas.
E muito se tem falado que
qualquer dia acontece o mesmo em Portugal. Com ou sem alarmismos,
é
algo bem possível. Os sintomas são os mesmos.
Lá, como cá a solução
não
passa por simples cargas policiais. Lá, como cá,
é preciso reivindicar
e fomentar politicas que combatam a pobreza, que impulsionem Emprego
para Franceses (Portugueses, no nosso caso) e Imigrantes com os mesmos
direitos, é necessário eliminar o racismo e
impulsionar a paz e amizade
entre todos, é urgente defender um ordenamento do
território que não
gere exclusão. Está nas nossas mãos
prevenir estes males.
Créditos
das fotos: Agências noticiosas Lusa e
FrancePress. |
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