Factus FCT

O Mundo Turístico

por Factus FCT - quinta-feira, 9 de novembro de 2006 às 13:47
 
Florença: A Capital do Renascimento, provavelmente a capital da Cultura. Milhões de turistas todos os anos invadem a cidade armados com máquinas fotográficas e euros no bolso prontos a serem gastos em típicos artigos italianos.
E, entretanto os mais pobres (principalmente imigrantes) tratam de se aproveitar desta situação para lhes impingir os mais variados artigos, desde uns boxers com o David estampado, a bonequinhos do Mickey.
E eis que chega o Turista, que tem de fazer uma autentica maratona pela cidade para conseguir ver tudo. Quando chega ao fim, está cansado, e tudo o que leva no bolso não é mais do que algumas fotos e uns boxers do David. Diz aos amigos que viu o que de mais famoso há mas nunca se poderá gabar de ter conhecido Itália, ou pelo menos a Cidade. Isto porque toda a cidade, pouco mais é que um museu ao ar livre, é um teatro gigante, uma simples encenação em que só o cenário é autentico.
O Mundo Túristico
Qual é o objectivo do Turista quando escolhe um destino, quando decide gastar o dinheiro que poupou durante um ano de trabalho? Ver os monumentos? São, de facto, fantásticos, imponentes, belos mas nem todos os turistas são apreciadores de arte que queiram fazer viagens enormes para passar um(s) dia(s) inteiro(s) por entre obras famosas ancestrais. O turista quer conhecer um local novo, uma nova cultura e novos costumes novas formas de estar na vida. E isto, esta cidade não pode dar porque os seus habitantes não são autenticos, fazem tudo para agradar, para ganhar mais um punhado de Euros. Por muito que se tente olhar para as pessoas, sentir o ambiente local, é absolutamente impossível porque em toda a volta só estão turistas a olhar avidamente em redor à procura do melhor enquadramento.
O Mundo Túristico
Bem perto estão outras cidades Toscanas, nem com tanta fama, nem com arquitectura tão esplendorosa, mas bastante mais calmas e onde podemos conhecer o renascimento italiano, mas também encontrar restaurantes onde comem os italianos, ouvir estudantes italianos a tocar guitarra, ver eventos culturais para italianos, ir a um bar italiano, ver dois amigos que se encontram Sim, aí podemos ver os verdadeiros indígenas a agir naturalmente, a viver como só eles sabem.
Temos de repensar a nossa maneira de fazer turismo, reflectir se nos devemos esforçar para ver tudo o que é famoso pela sua beleza e/ou pela especulação turística.
Que temos como alternativa? Eco turismo? Nem todos apreciam (e ainda bem, atendendo à consciência ambiental média do turista). Encaixa bem para os apreciadores da natureza, tal como Florença para os apreciadores de arte Renascentista.
No fundo, o mais importante, é não entrar na onda de querer aproveitar tudo obsessivamente, por que senão acabamos por não ver o mais importante. É melhor termos os nossos próprios ritmos e apreciar os pequenos detalhes à nossa volta sempre em mente que o local mais famoso nem sempre é o melhor local para nós.
Portugal que também é um país turístico tem de fazer uma reflexão. Será que vale a pena? O que é ser um país turístico? Se é um país que recebe muitos turistas, óptimo! Economicamente é vantajoso e pode até ser uma oportunidade de intercâmbio cultural. Mas se um país turístico é um país que se reconverte para atrair turistas devemos parar. Felizmente ainda não somos um país assim turístico mas temos umas regiões assim turísticas: o Algarve e a Madeira.
Toda a costa ocupada com hotéis e afins, em detrimento da qualidade de vida da população local. Esta mudança foi para atrair outro género de turista: o que só quer sol e esquecer todos os problemas (talvez o mais comum). Não somos muitos os que vamos ao Algarve ou à Madeira para conhecer a cultura local (também difícil de detectar no Algarve, menos na Madeira). Toda a reconversão foi para agradar a estes turistas, foi em nome do factor económico, mas temos de nos perguntar se vale mesmo a pena continuar tendo em conta que, geralmente, quem mais beneficia destes euros estrangeiros são os proprietários de hotéis e restaurantes, e não as populações locais.
O Mundo Túristico