Florença:
A Capital do Renascimento, provavelmente a capital da Cultura.
Milhões de turistas todos os anos invadem a cidade armados
com máquinas fotográficas e euros no bolso
prontos a serem gastos em típicos artigos
italianos.
E, entretanto os mais pobres (principalmente imigrantes) tratam de se
aproveitar desta situação para lhes impingir os
mais variados artigos, desde uns boxers com o David estampado, a
bonequinhos do Mickey.
E eis que chega o Turista, que tem de fazer uma autentica maratona pela
cidade para conseguir ver tudo. Quando chega ao fim, está
cansado, e tudo o que leva no bolso não é mais do
que algumas fotos e uns boxers do David. Diz aos amigos que viu o que
de mais famoso há mas nunca se poderá gabar de
ter conhecido Itália, ou pelo menos a Cidade. Isto porque
toda a cidade, pouco mais é que um museu ao ar livre,
é um teatro gigante, uma simples
encenação em que só o
cenário é autentico.
Qual é o objectivo do Turista quando escolhe um destino,
quando decide gastar o dinheiro que poupou durante um ano de trabalho?
Ver os monumentos? São, de facto, fantásticos,
imponentes, belos mas nem todos os turistas são
apreciadores de arte que queiram fazer viagens enormes para passar
um(s) dia(s) inteiro(s) por entre obras famosas ancestrais. O turista
quer conhecer um local novo, uma nova cultura e novos
costumes novas formas de estar na vida. E isto, esta cidade
não pode dar porque os seus habitantes não
são autenticos, fazem tudo para agradar, para ganhar mais um
punhado de Euros. Por muito que se tente olhar para as pessoas, sentir
o ambiente local, é absolutamente impossível
porque em toda a volta só estão turistas a olhar
avidamente em redor à procura do melhor enquadramento.
Bem perto estão outras cidades Toscanas, nem com tanta fama,
nem com arquitectura tão esplendorosa, mas bastante mais
calmas e onde podemos conhecer o renascimento italiano, mas
também encontrar restaurantes onde comem os italianos, ouvir
estudantes italianos a tocar guitarra, ver eventos culturais para
italianos, ir a um bar italiano, ver dois amigos que se
encontram Sim, aí podemos ver os verdadeiros
indígenas a agir naturalmente, a viver
como só eles sabem.
Temos de repensar a nossa maneira de fazer turismo, reflectir se nos
devemos esforçar para ver tudo o que é famoso
pela sua beleza e/ou pela especulação
turística.
Que temos como alternativa? Eco turismo? Nem todos apreciam (e ainda
bem, atendendo à consciência ambiental
média do turista). Encaixa bem para os apreciadores da
natureza, tal como Florença para os apreciadores de arte
Renascentista.
No fundo, o mais importante, é não entrar na onda
de querer aproveitar tudo obsessivamente, por que senão
acabamos por não ver o mais importante. É melhor
termos os nossos próprios ritmos e apreciar os pequenos
detalhes à nossa volta sempre em mente que o local mais
famoso nem sempre é o melhor local para nós.
Portugal que também é um país
turístico tem de fazer uma reflexão.
Será que vale a pena? O que é ser um
país turístico? Se é um
país que recebe muitos turistas, óptimo!
Economicamente é vantajoso e pode até ser uma
oportunidade de intercâmbio cultural. Mas se um
país turístico é um país
que se reconverte para atrair turistas devemos parar. Felizmente ainda
não somos um país assim
turístico mas temos umas regiões
assim turísticas: o
Algarve e a
Madeira.
Toda a costa ocupada com hotéis e afins, em detrimento da
qualidade de vida da população local. Esta
mudança foi para atrair outro género de turista:
o que só quer sol e esquecer todos os problemas (talvez o
mais comum). Não somos muitos os que vamos ao Algarve ou
à Madeira para conhecer a cultura local (também
difícil de detectar no Algarve, menos na Madeira). Toda a
reconversão foi para agradar a estes turistas, foi em nome
do factor económico, mas temos de nos perguntar se vale
mesmo a pena continuar tendo em conta que, geralmente, quem mais
beneficia destes euros estrangeiros são os
proprietários de hotéis e restaurantes, e
não as populações locais.