Clima sofre a pior alteração dos últimos cinco mil anos

(Última edición: miércoles, 30 de noviembre de 2005, 19:38)
Clima sofre a pior alteração dos últimos cinco mil anos


rita carvalho, DN 30 Nov 2005

A Europa está a sofrer as piores alterações do clima dos últimos cinco mil anos. As consequências estão à vista 10% dos glaciares alpinos desapareceram em 2003 e os anos mais quentes de que há memória registaram-se em 1998, 2002, 2003 e 2004. Um relatório da Agência Europeia do Ambiente, divulgado ontem, faz um diagnóstico cinzento e não traça cenários risonhos. Portugal não é excepção: por cá os "progressos são pouco animadores", refere o documento.

O desaparecimento dos glaciares no Norte, a expansão dos desertos a Sul e a necessidade de concentrar a população no centro do continente, são alguns corolários do aquecimento global do planeta, que aumenta ao ritmo que crescem as emissões para a atmosfera de gases com efeito de estufa. As mudanças no clima já provocaram a subida de 0.95º C da temperatura média da Europa e prevê-se que, devido a isto, o homem se confronte, num futuro recente, com condições climatéricas com as quais nunca lidou.

Este diagnóstico consta do relatório "O Ambiente na Europa - situação e perspectivas 2005" e faz das alterações climáticas o principal desafio ambiental do futuro. Mas outras questões se colocam, como a perda de biodiversidade, os problemas dos recursos hídricos, da poluição atmosférica, dos ecossistemas marinhos e da desertificação dos solos. A pressão do homem sobre o território é cada vez maior e o aumento das zonas urbanas e edificadas implica a destruição dos recursos naturais.

"Alterámos a composição da atmosfera. Por isso estes dados que reflectem as consequências deste facto não são surpreendentes", considera Filipe Duarte Santos, cientista especialista em alterações climáticas. E explica desde os tempos da revolução industrial, os componentes de dióxido de carbono existentes na atmosfera aumentaram 30%. A libertação destes gases poluentes deve-se à queima dos combustíveis fósseis (petróleo e seus derivados), motivada pelo aumento do tráfego automóvel. A destruição das grandes áreas florestais também contribui para a concentração de gases, pois diminui a acção de sumidouro de dióxido de carbono das árvores. Os efeitos das alterações do clima estão à vista e tenderão a agravar-se, diz o cientista. O aumento de intensidade e capacidade destrutiva dos ciclones tropicais, a manifestação de fenómenos climáticos extremos, como as grandes secas no Sul e as cheias torrenciais no Norte, já fazem parte do presente e vão acentuar-se no futuro.

positivo. Mas nem tudo é mau. O relatório mostra que a implementação da legislação europeia no domínio do ambiente já está a ter resultados positivos, embora alguns efeitos só sejam visíveis ao fim de 10 ou 20 anos. "Conseguimos despoluir as águas e a atmosfera, eliminámos gradualmente algumas substâncias que destroem a camada de ozono e duplicámos as taxas de reciclagem de resíduos. Temos veículos menos poluentes", refere o documento.

À medida que os temas ambientais ganham destaque na agenda política, a sensibilização dos cidadãos cresce e, com ela, a exigência junto dos governantes. As sondagens eurobarómetro indicam que mais de 70% dos europeus desejam que os decisores políticos atribuam igual importância às políticas ambientais, económicas e sociais.

A alteração das regras da fiscalidade é uma medida concreta urgente, pois é uma das formas mais úteis de operar mudanças comportamentais. "Precisamos de reduzir os impostos sobre o trabalho e o investimento", defendeu a directora da Agência Europeia.

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