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Um ano de desafios

(Última edição: sexta-feira, 21 de outubro de 2005 às 15:56)
2005-09-18 - 00:00:00, Correio da Manhã

Opinião


Um ano de desafios

A Sociedade evolui e por isso a formação a ministrar não pode deixar de lado preocupações de cidadania, de conhecimento, de cultura, de desporto, enfim, da plenitude de uma intervenção cívica que bem alicerce a razão de ser do cidadão de pleno direito.
O início de cada ano lectivo é marcado pela expectativa que todos os que nele se vêm envolvidos colocam, quer sob o ponto de vista do ensino propriamente dito, quer sob o ponto de vista do conjunto das condições que asseguram a sua normalidade.

Este ano, àquelas expectativas acrescem as alterações consagradas na nova Lei de Bases, que acarretarão para o Ensino Superior o colocar de novas hipóteses de trabalho abrangendo a implementação de novas metodologias, novos curricula, novas atitudes face aos processos de ensino e de aprendizagem e, principalmente, as que decorrem do designado Processo de Bolonha.

Na realidade, o Processo de Bolonha traz consigo a exigência de uma maior participação dos professores na vida dos estudantes e, simultaneamente, exige dos estudantes uma nova atitude perante os professores e o ensino, pressupondo uma posição activa e permanente na assimilação dos conhecimentos, com consequente rejeição da passividade apenas alterada pela urgência requerida pela ameaça dos exames.

Daqui decorre também a importância de uma reflexão que tem de ser feita por todos, quer quanto à duração dos ciclos previstos no referido Processo de Bolonha, quer quanto à nova organização de mestrados e ainda ao combate ao insucesso escolar, à boa aceitação dos perfis académicos face às solicitações do mercado de trabalho e, naturalmente, à plena realização pessoal e profissional.

A este novo mundo de desafios deverá corresponder uma atitude positiva por parte da universidade, sabendo bem receber os que a procuram e a ela se acolhem, e que nela confiam, não esquecendo que o seu papel não pode resumir-se ao de mero transmissor de conhecimentos e esgotar a sua capacidade na apresentação de um saber adquirido e consolidado.

A sociedade evolui e por isso a formação a ministrar não pode deixar de lado preocupações de cidadania, de conhecimento, de cultura, de desporto, enfim, da plenitude de uma intervenção cívica que bem alicerce a razão de ser do cidadão de pleno direito.

Dir-se-á que é exigir muito e que, com tanta solicitação, o estudante tem pela frente uma tarefa intransponível.

Mas não pode ser essa a atitude. Há que confiar nas capacidades e nas vontades. E há, acima de tudo, que encontrar o método que permita conciliar os diferentes deveres para os canalizar para o resultado final pretendido: o sucesso. Os alunos não podem ser, hoje, meros espectadores: têm de ser interventivos, participantes e activos.

É com este espírito que temos de partir para o novo ano: a universidade é um local de trabalho em que todos têm de tomar parte, transmitindo saberes já adquiridos, construindo novos mundos de conhecimento, buscando o enriquecimento cultural e científico, com abertura de espírito às inovações dos processos, tendo por meta final o bem-estar da sociedade.

José Lopes da Silva, Presidente do Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas

Um ano de desafios, José Lopes da Silva

(Última edição: domingo, 18 de setembro de 2005 às 15:31)
2005-09-18 - 00:00:00, Correio da Manhã

Opinião


Um ano de desafios

A Sociedade evolui e por isso a formação a ministrar não pode deixar de lado preocupações de cidadania, de conhecimento, de cultura, de desporto, enfim, da plenitude de uma intervenção cívica que bem alicerce a razão de ser do cidadão de pleno direito.

O início de cada ano lectivo é marcado pela expectativa que todos os que nele se vêm envolvidos colocam, quer sob o ponto de vista do ensino propriamente dito, quer sob o ponto de vista do conjunto das condições que asseguram a sua normalidade.

Este ano, àquelas expectativas acrescem as alterações consagradas na nova Lei de Bases, que acarretarão para o Ensino Superior o colocar de novas hipóteses de trabalho abrangendo a implementação de novas metodologias, novos curricula, novas atitudes face aos processos de ensino e de aprendizagem e, principalmente, as que decorrem do designado Processo de Bolonha.

Na realidade, o Processo de Bolonha traz consigo a exigência de uma maior participação dos professores na vida dos estudantes e, simultaneamente, exige dos estudantes uma nova atitude perante os professores e o ensino, pressupondo uma posição activa e permanente na assimilação dos conhecimentos, com consequente rejeição da passividade apenas alterada pela urgência requerida pela ameaça dos exames.

Daqui decorre também a importância de uma reflexão que tem de ser feita por todos, quer quanto à duração dos ciclos previstos no referido Processo de Bolonha, quer quanto à nova organização de mestrados e ainda ao combate ao insucesso escolar, à boa aceitação dos perfis académicos face às solicitações do mercado de trabalho e, naturalmente, à plena realização pessoal e profissional.

A este novo mundo de desafios deverá corresponder uma atitude positiva por parte da universidade, sabendo bem receber os que a procuram e a ela se acolhem, e que nela confiam, não esquecendo que o seu papel não pode resumir-se ao de mero transmissor de conhecimentos e esgotar a sua capacidade na apresentação de um saber adquirido e consolidado.

A sociedade evolui e por isso a formação a ministrar não pode deixar de lado preocupações de cidadania, de conhecimento, de cultura, de desporto, enfim, da plenitude de uma intervenção cívica que bem alicerce a razão de ser do cidadão de pleno direito.

Dir-se-á que é exigir muito e que, com tanta solicitação, o estudante tem pela frente uma tarefa intransponível.

Mas não pode ser essa a atitude. Há que confiar nas capacidades e nas vontades. E há, acima de tudo, que encontrar o método que permita conciliar os diferentes deveres para os canalizar para o resultado final pretendido: o sucesso. Os alunos não podem ser, hoje, meros espectadores: têm de ser interventivos, participantes e activos.

É com este espírito que temos de partir para o novo ano: a universidade é um local de trabalho em que todos têm de tomar parte, transmitindo saberes já adquiridos, construindo novos mundos de conhecimento, buscando o enriquecimento cultural e científico, com abertura de espírito às inovações dos processos, tendo por meta final o bem-estar da sociedade.
José Lopes da Silva, Presidente do Conselho dos Reitores das Universidades Portuguesas

Uma comissão de avaliação de manuais

(Última edição: sábado, 3 de dezembro de 2005 às 22:34)
http://www.criticanarede.com/ed104.html

Uma comissão de avaliação de manuais
Richard Feynman

Nessa altura eu estava a dar uma série de aulas de Iniciação de Física e, depois de uma delas, Tom Harvey, que me ajudava a preparar as demonstrações, disse: "Devia ver o que se passa com a Matemática nos livros escolares! A minha filha chega a casa com uma data de disparates!"

Não prestei muita atenção ao que ele disse.

Mas no dia seguinte recebi um telefonema de um advogado bastante famoso de Pasadena, o Sr. Norris, que nessa altura pertencia à Junta Estadual de Educação. Pediu-me que fizesse parte da Comissão Curricular Estadual, que devia escolher os novos manuais para o estado da Califórnia. Sabem, o estado tem uma lei segundo a qual todos os manuais usados por todos os miúdos em todas as escolas oficiais têm de ser escolhidos pela Junta Estadual de Educação, pelo que formam uma comissão para ver os livros e aconselhar que livros eles devem escolher.

[...] Por esta altura, eu devia ter um sentimento de culpa por não cooperar com o Governo, dado que aceitei fazer parte da Comissão.

Comecei imediatamente a receber cartas e telefonemas dos editores. Diziam coisas como: "Ficámos muito satisfeitos ao saber que o senhor pertence à comissão porque queríamos realmente um homem de ciência..." e "É maravilhoso ter um cientista na comissão, porque os nossos livros têm uma orientação científica...". Mas também diziam coisas como: "Gostaríamos de lhe explicar a intenção do nosso livro..." e "Teremos muito gosto em o ajudar no que pudermos a avaliar os nossos livros...". Aquilo afigurava-se-me um disparate. Sou um cientista objectivo e parecia-me que, como a única coisa que os miúdos iam receber na escola eram os livros (e os professores recebiam o manual do professor, que eu também receberia), qualquer explicação extra seria uma distorção. Por isso não quis falar com nenhum dos editores e respondi sempre: "Não precisam de explicar; estou certo de que os livros falarão por si".

[...] A Sr.ª Whitehouse começou por me falar nas coisas que iam debater na próxima reunião (já tinham tido uma reunião; eu fora nomeado mais tarde). "Vão falar sobre os números de contar". Eu não sabia o que aquilo era, mas afinal era o que eu costumo chamar números inteiros. Tinham nomes diferentes para tudo, pelo que tive imensos problemas logo de início.

Ela contou-me como os membros da Comissão avaliavam os novos livros escolares. Arranjavam um número relativamente grande de exemplares de cada livro e davam-nos a vários professores e administradores do seu distrito. Depois recebiam relatórios do que essas pessoas pensavam sobre os livros. Como não conheço uma data de professores ou administradores, e como achava que, lendo os livros sozinho, podia formar uma opinião sobre o que me pareciam, resolvi ler os livros todos sozinho.

[...] Então fui à primeira reunião. Os outros membros tinham atribuído uma espécie de pontuação a alguns livros e perguntaram-me quais eram as minhas pontuações. Muitas vezes a minha pontuação era diferente da deles e eles perguntavam: "Por que deu uma pontuação tão baixa a esse livro?"

Eu dizia que o problema daquele livro era isto e aquilo na página tal tinha os meus apontamentos.

Descobriram que eu era uma espécie de mina de ouro: dizia-lhes, em detalhe, o que havia de bom e de mau em todos os livros; tinha uma razão para cada pontuação.

Perguntava-lhes por que tinham dado uma pontuação tão alta a determinado livro e eles diziam: "Diga-nos o que pensou do livro tal". Eu nunca descobria porque é que eles tinham pontuado uma coisa de determinada maneira. Em vez disso, estavam sempre a perguntar-me o que eu pensava.

Chegámos a um certo livro que fazia parte de um conjunto de três livros suplementares publicados pela mesma editora e perguntaram-me o que pensava dele.

Eu disse: "O depósito de livros não me mandou esse livro, mas os outros dois eram bons".

Alguém tentou repetir a pergunta: "O que pensa do livro?"

"Já disse que não me mandaram esse, pelo que não tenho opinião sobre ele".

O homem do depósito de livros estava lá e disse: "Desculpem; posso explicar isso. Não lho mandei porque esse livro ainda não estava completo. Há uma regra segundo a qual as entradas têm de ser todas até uma certa altura e o editor atrasou-se uns dias. Por isso nos foi enviado apenas com as capas e o interior em branco. Da companhia mandaram-me uma nota pedindo desculpa e dizendo esperar que pudessem considerar o conjunto dos três livros, apesar de o terceiro vir atrasado".

Verificou-se que o livro em branco tinha pontuação de alguns dos outros membros! Não acreditavam que estivesse em branco porque tinham uma pontuação. Na realidade, a pontuação para o livro que faltava era um pouco mais alta do que para os outros dois. O facto de não haver nada no livro não tinha nada a ver com a pontuação.

Creio que a razão de tudo isto é o sistema funcionar deste modo: quando enchemos as pessoas de livros, elas ficam ocupadas, ficam descuidadas e pensam: "Bem, há muita gente a ler estes livros, pelo que não faz diferença". E põem um número qualquer algumas, pelo menos; não todas, mas algumas.

[...] Esta questão de tentar descobrir se um livro é bom ou mau lendo-o cuidadosamente ou recebendo os relatórios de uma quantidade de pessoas que o lêem descuidadamente é como este famoso problema antigo: ninguém podia ver o imperador da China e a pergunta era: qual o comprimento do nariz do imperador da China? Para o descobrir, percorremos todo o país, perguntando às pessoas que comprimento julgam ter o nariz do imperador da China e calculamos a média. E o cálculo seria muito "preciso" porque considerámos muitas pessoas. Mas esta não é a maneira de descobrir seja o que for.