Nos Jornais, Revistas e Blogs
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Economia, emprego e factor cultural | ||
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Adelino Torres, Professor do ISEG DN, 11 de Abril de 2005 Cultura. Se, de facto, a economia é importante, é duvidoso que, por si só, resolva os problemas da organização da sociedade contemporâ-nea. Os dilemas culturais colocados pela evolução vertiginosa da ciência, da tecnologia e das ideias oferecem desafios urgentes a que apenas pode responder uma sociedade educada A propósito da crise fala-se muito de economia e de finanças e pouco desse outro pilar do desenvolvimento que é a "cultura", aqui tomada no sentido amplo do termo. Se, de facto, a economia é importante, é duvidoso que, por si só, resolva os problemas da organização da sociedade contemporânea. Os dilemas culturais colocados pela evolução vertiginosa da ciência, da tecnologia e das ideias oferecem desafios urgentes a que apenas pode responder uma sociedade educada. É por isso que um ensino exclusivamente orientado por uma óptica utilitarista estática, que não esteja, em particular, assente na investigação fundamental, revelar-se-á a prazo inoperante e mesmo factor de retrocesso se, como é previsível num sistema dinâmico, os mercados evoluírem, os objectivos mudarem e o tipo de empregabilidade se transformar radicalmente. Desde logo a educação não pode ter uma visão estreita virada para satisfazer apenas as "necessidades da economia" tal como por vezes a vemos, porque é grande o risco de muitas profissões ficarem rapidamente obsoletas e não corresponderem às "necessidades" da sociedade, do mercado e do Estado. Sem negligenciar uma determinada especialização e qualificação profissional, importa que se prepare antes de mais a juventude para a mudança, a qual implica abertura de espírito, curiosidade, autonomia, pensamento crítico e criativo. Em resumo tudo o que pressupõe cultura e competitividade. Também a "formação ao longo da vida" só é plenamente realizável se as pessoas tiverem ao menos um determinado nível de literacia (no sentido de "cultura geral") articulada com a faculdade de mudar. Essa literacia condiciona em larga medida a atitude e a capacidade dos agentes económicos no âmbito da "actualização de competência". Se assim for, limitar-se a avaliar a educação de um ponto de vista exclusivamente "prático" ou utilitarista (satisfazer as necessidades imediatas do mercado em nome de um "realismo" discutível) é uma aporia que pouco resolverá. Como alguém disse (Filipe Botton), não basta agir por reacção, é necessário fazê-lo por antecipação. O imediatismo não é bom conselheiro nem dará resposta aos problemas das empresas e menos ainda aos do país. Por outro lado, a cultura excede largamente o que a escola ensina. Na sociedade civil os meios audiovisuais, imprensa, TV, clubes desportivos, associações, partidos, internet etc. têm grande influência, infelizmente nem sempre com os melhores resultados. Por exemplo, certos canais de televisão confundem demasiadas vezes "popular" com rasca e "cultura" com obscuridade. É preciso desmistificar, sem demagogia, a trindade fatídica que, no espírito do cidadão médio, mistura cultura com obscuridade e com tédio, afastando-o em vez de o atrair, diminuindo-o em lugar de o fazer melhor. Em televisão há certamente cultura nos populares e pedagógicos programas do brasileiro Jô Soares, infinitamente superiores em humor e inteligência a programas portugueses congéneres, cujo conteúdo pode frequentemente ser classificado como "dissolvente" e anticultural, onde impera o snobismo, a mentalidade paroquial e as personagens patéticas tiradas de uma farsa tonta. Por seu turno os clubes desportivos poderiam aproveitar as suas "claques" para favorecer a civilidade e educação da juventude e não para promover tribos de desordeiros; enquanto que os partidos políticos ganhariam em dar às juventudes partidárias uma formação pluridisciplinar séria, em seminários de Verão, a fim de não favorecer a promoção de clientelas de oportunistas incultos sem sentido da causa pública. Com estas e outras melhorias, ajudar-se-ia mais seguramente a qualidade dos recursos humanos, a produtividade e a economia do que em descarregar sistematicamente as culpas todas sobre o ensino e a universidade onde finalmente não se trabalha tão mal como alguns dizem... | ||
Destruir para criar | ||
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DN, 11 de Abril de 2005 José Correia Guedes Professor da Católica Destruir para criar Mudança. No futuro, todas as chamadas fixas irão migrar para a Internet e serão suportadas inteiramente por software, dispensando a necessidade de infra- -estrutura dedicada como acontece actualmente. As telecomuni-cações fixas serão um serviço de Internet inteiramente gratuito, tal como é hoje o e-mail e os web-browsers Grandes transformações económicas, com impacto generalizado no bem-estar da sociedade, conseguiram-se sempre à custa de rupturas com interesses instalados. Foi assim na aurora da revolução industrial, com a introdução do conceito de fábrica no sentido moderno, e é hoje com as novas tecnologias e processos de negócio assentes na Internet. Há 300 anos atrás a actividade têxtil na Inglaterra baseava-se no sistema de produção domiciliária - o chamado putting-out. Negociantes de têxtil distribuíam pelas famílias das vilas e aldeias matérias-primas para serem tratadas e transformadas nos seus próprios lares, recolhendo, posteriormente, o produto já processado para venda ao consumidor final. Este sistema era extremamente popular. Os trabalhadores gostavam da ausência de supervisão e da possibilidade de poder definir os próprios ritmos de trabalho. Em termos económicos o sistema fazia sentido porque os bens de capital exigidos no processo de transformação eram modestos e não permitiam economias de escala. Para quê juntar toda a produção num local único, sob o mesmo tecto, se daí não decorriam ganhos de eficiência significativos? Foi a introdução da máquina a vapor - e dos equipamentos complementares que exploravam a energia e a força libertada pela máquina a vapor - que alterou a situação. A máquina a vapor deu uma vantagem decisiva ao modelo de produção centrado numa fábrica e assente na produção em massa. Os produtores domiciliários resistiram enquanto puderam, vituperando a nova tecnologia como uma invenção do diabo, e os novos industriais como piratas do bem-estar alheio. Data desta altura o movimento dos luditas bandos de homens armados assaltavam à noite as fábricas para destruir as máquinas, numa cruzada pela defesa do seu modo de vida. Para os novos industriais, a reacção hostil da população tornou difícil encontrar mão-de-obra disposta a trabalhar nas fábricas. A solução foi procurar entre os mais desfavorecidos e com mais dificuldade em recusar uma oferta de trabalho: crianças, muitas vezes recrutadas dos orfanatos e de asilos para pobres, e mulheres, especialmente as novas e solteiras. Hoje, é a Internet uma das principais ameaça aos interesses estabelecidos. A indústria discográfica foi uma das suas primeiras vítimas. Empresas como a Napster e depois a KaZaA, com os seus modelos inovadores de partilha de ficheiros, tornaram obsoleto o sistema tradicional de produção e comercialização de música. Os incumbentes usaram todos os meios ao seu alcance para neutralizar os novos piratas; conseguiram, finalmente, fechar a Napster por sentença judicial. Tarde de mais o génio já estava fora da lâmpada. Os gigantes discográficos de uma outra era atrás já tinham sido, irremediavelmente, ultrapassados pela história. Hoje é a Apple com o ipod o modelo de negócio triunfante na distribuição de conteúdos musicais. Paga um montante simbólico por um single (começou por ser 1 dólar) e pode ouvi-la quantas vezes quiser, quando quiser, onde quiser. Há poucas semanas atrás, o Financial Times relatava que a venda de singles descarregados pela Net ultrapassou pela primeira vez a venda de CD por canais tradicionais. Outro teatro de operações em que a Internet começa a criar carnificina entre os incumbentes é o das telecomunicações fixas. Niklas Zennstrom e Janus Friis, dois jovens escandinavos, depois de fundarem a KaZaA, criaram a Skype, uma incarnação da Napster para o sector das telecomunicações. Enquanto a Napster oferecia a possibilidade de ouvir música de uma forma gratuita, a Skype oferece a possibilidade de fazer chamadas telefónicas sem pagar. Ao contrário de Napster, porém, a Skype tem uma base legal sólida. O modelo da Skype, tal como anteriormente o da Napster, assenta em tecnologia peer-to-peer redes informais de computadores pessoais interligados por conexões de banda larga, via Internet, que permitem a circulação de conteúdos digitais, sejam eles ficheiros musicais ou ficheiros de voz. Enquanto chamadas de voz entre utilizadores de Skype são grátis, chamadas entre utilizadores de Skype e não utilizadores importam um custo, pois utilizam as linhas telefónicas dos operadores incumbentes. Para aderir basta instalar o software num computador pessoal ligado em banda larga à Internet e com sistema operativo Windows. Para já, os utilizadores são maioritariamente empresas, mais sensíveis ao argumento de redução de custos. No entanto, os fundadores da Skype acreditam que no futuro todas as chamadas fixas irão migrar para a Internet e serão suportadas inteiramente por software, dispensando a necessidade de infra-estrutura dedicada como acontece actualmente. As telecomunicações fixas serão um serviço de Internet inteiramente gratuito, tal como é hoje o e-mail e os web-browsers . Se este visionários têm razão, as grandes empresas de telecomunicações fixas irão pelo mesmo caminho de definhamento que as suas congéneres do sector discográfico foram na última década e que a produção têxtil de base domiciliária foi há 300 anos. | ||
A decana de Coimbra | |||||||||||||||||||||||||||||
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A decana de Coimbra
Expresso 16.04.2005 Aos 106 anos, Maria Virgínia é a mais antiga aluna viva da Universidade de Coimbra, onde ingressou em 1917 em Físico-Química. Fundou a primeira república feminina da cidade e lembra-se bem de Salazar a tirar-lhe «chapeladas» de galanteio «Perdoe se já não recordo tudo, a minha memória está fraquinha», desculpa-se em antecipação a anciã, desfazendo-se num risinho bem-disposto. Maria Virgínia mantém uma vivacidade inesperada para quem já conheceu três séculos. O ouvido foi sumindo mas a voz permanece firme. Quase tanto quanto as pernas, que se agitam pela sala quando decide mostrar que ainda sabe dançar um minuete, atrapalhada pelas pantufas pouco propensas a bailes. Sobe e desce as escadas, senta-se e levanta-se com agilidade, tanto mostra como toca violão como se exibe ao piano, ao mesmo tempo que canta modas tradicionais, aprendidas na mocidade. Vive sozinha, orgulhosa na sua semi-independência apoiada em duas empregadas - uma de dia, outra à noite - e nos filhos que a acarinham como porcelana fina. É Virgínia quem atende o telefone em casa e nunca precisou de usar o 112 preso a fita-cola no portátil, que guarda junto a si. Ao seu lado reside também o álbum fotográfico, que conhece de cor. Puxa-o para ela, folheia-o e pára a admirar um retrato de família, que o tempo tornou sépia. «É este o meu pai. Foi ele que me deu uma mocidade tão especial.»
É ele a figura tutelar de Maria Virgínia, que perde a mãe aos cinco anos. A orfandade materna desencadeia uma infância de carinho exacerbado - a ela e à irmã Maria Helena -, quer das tias por dever familiar quer das senhoras da sociedade local por interesse casamenteiro no viúvo. «Convivíamos com a fina flor da nobreza beirã», recorda, com uma saudade suspirada dos passeios de «landau» - carruagem com duas capotas de abrir -, puxado a cavalos, conduzido pela baronesa de Palme. Ou das partidas de ténis, em que a elasticidade dos passes era comprometida pelos vestidos compridos. Ou dos banhos no Vouga, tomados longe de olhares indiscretos numa casota de madeira no meio do rio. Mas aos 18 anos disse ao pai que queria mais. Mais do que o piano, a arte de bem cavalgar, os dotes de sociedade, o francês irrepreensível, queria ir aprender inglês para Londres, onde vivia uma tia. Os estudos eram o escape «para fugir da chateza de mesmice daquela terra pequena». O liceu já fora feito em Viseu, no edifício que alberga hoje o Museu Grão Vasco. O progenitor, que a queria por perto, acenou-lhe com a Universidade de Coimbra. Ela concordou e escolheu Medicina. Ele recusou novamente «porque não era bom para uma mulher que quer casar e ter filhos lidar com doenças», recorda Virgínia. «Então optei por Físico-Química, porque tinha laboratório, não era só teoria. Em São Pedro, não me lembro de outra rapariga que tenha ido para o ensino superior».
Em Coimbra, Maria Virgínia partilhava o curso e a casa de caloira - a Casa das Cruzes, nos Palácios Confusos - com Maria Teresa Basto, companheira de Viseu. Passava horas no último andar, onde a janela lhe abria a vista sobre o Mondego. António Salazar, que nesse ano tinha começado a leccionar na Universidade, como assistente de Ciências Económicas, morava perto, na Rua dos Grilos, numa casa partilhada em regime de «república» com o padre - mais tarde cardeal - Cerejeira. «Lembro-me bem quando estava à janela e o Salazar passava. Ele atirava-me cada chapelada. Ai que graça! Depois ficou célebre...», recorda Virgínia num riso envergonhado. Foi fruto desse conhecimento «fenestral» que, ao partir para Lisboa, o professor lhe pediu que guardasse a mobília de jantar. «Eu disse que sim. E aproveitei-me bem. Mais que uma vez lá ofereci jantares a amigos.» O curso de Físico-Química revelou-se difícil. Ao longo de sete anos - cinco de currículo e dois de Escola Normal Superior, para aceder ao magistério secundário -, cadeiras como Desenho de Máquinas, Cálculo Diferencial ou Cristalografia obrigaram Maria Virgínia a decorar fórmulas sem conta dizendo-as bem alto, repetidamente, enquanto caminhava em pêndulo pela casa. Todos os anos havia novos achados: a Teoria da Relatividade Geral de Einstein e a descoberta da Estrutura Molecular ocorreram pouco antes da sua chegada a Coimbra. «Mas licenciei-me com altos valores: 16!»
A 20 de Janeiro de 1920, porém, decide imiscuir-se num universo até então só masculino. Com Maria Teresa Basto, Dionísia Camões e Elisa Vilares funda a primeira Casa Independente de Raparigas de Coimbra, no nº 28 dos Palácios Confusos. A «república» tinha regras: não era permitida a entrada a homens, a não ser acompanhados de uma senhora; era mantido um diário com a colaboração de todas - que está ainda à guarda da família; e era dever das habitantes fundar uma organização católica para estudantes universitárias - o Círculo Académico Feminino Católico.
Aos 32 anos, Maria Virgínia casa com o capitão Ernesto Pestana, comandante do Quartel de Santa Clara, mais tarde Governador Civil de Coimbra. Antes fora alferes de artilharia no Corpo Expedicionário Português, que participou na I Guerra Mundial. Foi dos poucos que voltou para contar o horror da batalha de La Lys, que vitimou 327 oficiais e 7.098 praças. O gás mostarda usado pelos alemães fragilizou-lhe para sempre a saúde.
Dos tempos em que o marido foi Governador Civil, Virgínia recorda as festas. «Quando veio cá a Princesa Margarida, em 1959, fomos a um almoço no Estoril. Fiquei ao lado do Champalimaud. Que antipático!» Na recepção ao Presidente do Brasil, Café Filho, Salazar reconheceu-a e fez questão de ir cumprimentá-la. Da vida ficou-lhe a pena pelas viagens que não fez. Para compensar, a filha mais nova, Maria Aldegundes, já a levou consigo a Londres e à Grécia, com a provecta idade de 80 anos. Qualquer passeio de carro lhe põe a rir os olhos. Nunca se habituou a ver partir todos os que conheceu. No momento é um choque, que depois aceita com naturalidade.
Texto de Raquel Moleiro | |||||||||||||||||||||||||||||
O que a vida me ensinou, José Manuel de Mello | |||||||
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Expresso 16.04.2005 O que a vida me ensinou, José Manuel de Mello
Senti que era um mundo que acabava e um mundo que começava. Daí a minha desilusão quando digo que nunca imaginei que a coisa fosse tão ordinária. Quando digo ordinária, quero dizer com falta de categoria, má qualidade como acabou por ser, com toda a manipulação que houve, nitidamente destrutiva. Faz-me impressão ver pessoas, algumas altamente colocadas na hierarquia do Estado, e que desde essa data fazem parte do sistema. O sistema continua a existir e todos se autoprotegem. Até varrem da memória aquilo em que estiveram envolvidos e hoje aparecem a dar lições e conselhos. Depois do 25 de Abril fui para o estrangeiro com uma equipa para continuar a trabalhar, sujeitos aos mesmos sacrifícios de não saber se conseguíamos realizar o fim do mês para comer o pão. Pus a minha família na Suíça, junto de amigos. Não tinha dinheiro para lhes dar a educação... mas, enfim, isso tudo já lá vai. O ódio é uma coisa que não move nada. Não faz nada de construtivo. Quando olho para o Parlamento, uma das coisas que me impressiona é a aparência de ódio e inveja que surgem ali. Acho que o amor constrói tudo.
Não me sinto particularmente orgulhoso de um dia, no Brasil, depois do 25 de Abril, ter virado a cara a Marcello Caetano, quando ele apareceu no mesmo restaurante onde eu estava. Veio para me falar e eu virei a cara. Arrependi-me de ter feito isso. Na altura culpabilizava-o muito de ter permitido que as coisas chegassem ao ponto de justificarem a parte rasca do 25 de Abril. Tive grandes esperanças quando Marcello Caetano foi para o Governo. Cheguei a manifestar-lhe essas esperanças, mas também a minha desilusão. Não sei se na altura em que ele chegou ao poder ainda era possível fazer diferente, mas achava que ele devia tê-lo feito. O problema colonial estava posto em cima da mesa. O livro de Spínola foi publicado por uma editora que estava no meu grupo, mas não sei se foi a parte mais positiva, ou que contribuiu para alguma coisa. Até pelo posterior comportamento de Spínola. Gosto de viajar. Gosto principalmente de sair deste ambiente asfixiante que acho que é o do meu país, por provincianismo, por falta de objectividade. Acho que o português é o mais provinciano que há. Somos periféricos. O português é essencialmente pouco evoluído. Vive longe da realidade. Tem uma posição quase de espectador permanente. Mesmo todas as ligações com o mar, que é um dos meios de comunicação mais antigos, não tiveram em nós grande influência. Somos burgessos. Somos pequeninos. Temos uma atitude meio saloia. Sinto-me incomodado com o país. Basta assistir a uma sessão da Assembleia da República. Fico mal disposto durante oito dias. A primeira coisa que faço é pegar num avião e sair daqui, para ver se refresco. Porque aquilo é tudo menos um parlamento como devia ser. Incomoda-me a falta de nível, a forma como são discutidos os problemas, onde se debate tudo, menos o essencial. Quanto aos governos, também não temos um grande currículo nos últimos tempos. Desde o Cavaco Silva, que não fugiu, a partir daí nunca mais houve nenhum primeiro-ministro que não tivesse fugido, ou que tivesse acabado o seu mandato. O Cavaco Silva não terá fugido, mas lá que não pretendeu continuar, isso sem dúvida nenhuma. Custam-me estes processos da Casa Pia, que se prolongam. Custam-me os noticiários, onde a parte essencial não é transmitida. Custa-me a queda da ponte de Entre-os-rios. Ninguém sabe quem é o culpado, mas houve vítimas. Custa-me passar pelo Terreiro do Paço e ver uma obra que não sei se está a fazer-se ou não, e quem é que decidiu. Custam-me estas guerras do túnel do Marquês. E ninguém põe nada em causa. Então, o país? E nós? Estamos a sofrer com isto, lá porque falta o relatório, ou falta a vírgula.
O AR DE PORTUGAL É ATERRORIZADOR É raro passar um mês seguido em Portugal. Gosto de ir para Londres ou para os EUA. Também gosto de ir a Espanha. O que me atrai na ideia de viajar é o que se respira de ar diferente. Acho que este ar aqui é aterrorizador. Não percebo a capitalização da desgraça que se faz na televisão, cujos noticiários demoram quase uma hora. Não acabam, sequer, com uma história engraçada, positiva, como a televisão inglesa. A louca procura das audiências faz sempre repisar o negativo. Não é que ache que o negativo não deva ser posto ao de cima, para estarmos todos conscientes, mas tudo tem limites. A minha primeira grande viagem foi a acompanhar o meu pai, mal tinha acabado a II Guerra Mundial, quando ele foi tratar de reequipar a CUF. Durante o período da guerra tinha sido impossível renovar o equipamento das fábricas e os navios estavam velhos. Lembro-me de chegar a Paris e ver senhas de racionamento, que era uma coisa que aqui não se conhecia. Recordo-me de ver Londres destruída. Em Bruxelas e em toda a parte da Bélgica vi as pessoas com fome. Aqui nunca imaginámos essas coisas. A minha família nunca foi profundamente germanófila, embora tivesse um bocadinho o estigma da Guerra Civil de Espanha, em que se envolveu. O meu avô ajudou de várias formas o lado nacionalista, que acabaria por sair vencedor. Em minha casa fizeram-se muitas camisolas para levar a Espanha. O meu pai tinha a carta de pesados e foi em comboios a guiar o camião para levar produtos. O meu avô e a minha família sempre foram gente que acreditaram na autoridade e na ordem. A opinião que corria lá em casa era essa. Mas não se pode deixar de contextualizar isto no tempo em que foi. Impressiona-me esta necessidade de pedir desculpa, como o Papa veio pedir desculpa, ou o Presidente Chissano, que já não é presidente, mas que foi ao Norte e disse que falta aos portugueses pedirem desculpa. Pedirem desculpa de quê? Foi um contexto. Foi uma época, e nessa época era como era. Não éramos diferentes dos outros. Que se capitalize hoje isso por razões políticas ou outras, é um completo exagero. Os meus pais eram pouco autoritários. Talvez mais disciplinadores. A minha mãe, filha única de Alfredo da Silva, era de formação e educação muito germânica. Tinha um grande respeito pela vida empresarial do pai e incutia-nos essa visão de que o que valia era o trabalho que se fazia nas empresas. Acima de tudo importava o trabalho, criar empresas, criar iniciativas. Mais tarde o meu pai sucedeu ao meu avô e também seguiu a mesma linha, de uma formação de que o que vale é o trabalho e criar riqueza. Para além de, na maioria dos casos, ser a forma de sustentação da família. O trabalho é próprio do homem, o homem que não trabalha não pode ser feliz. Trabalhar é quase tão importante como lavar os dentes e fazer a barba. Em pequeno, eu dizia que quando fosse grande queria ser «playboy». Sempre gostei de fazer desporto, de andar à vela. Era rico, já tinha herdado, e sempre pensei em comprar um barco à vela para dar a volta ao Mundo. Quando a minha mãe me chamou à realidade, me informou que o meu pai estava gravemente doente e lhe respondi que estava a pensar ir, durante um ano, dar a volta ao Mundo, ela disse-me para nem pensar nisso. A minha obrigação era trabalhar nas empresas que o meu avô tinha criado e o meu pai continuado. Assim foi. Já tinha sinalizado o barco. Foi o sinal à viola e agarrei-me à rabiça. Já nem penso nisso de dar a volta ao Mundo.
TENHO MENOS CERTEZAS E MAIS DÚVIDAS
Quando a minha mãe me confrontou com aquele desafio, não tinha remédio. Não tinha alternativa. Se estava preparado, ou não, era aquilo que tinha de fazer. Preparei-me. Mudei de perspectiva. Subconscientemente estava convencido de que era esse o meu caminho. Não posso dizer que o dinheiro não seja importantíssimo, mas não é isso que me move. Nasci num berço de oiro e por isso sempre tive dinheiro. Em todo o caso, depois do 25 de Abril passei por muitos maus bocados, durante um ano ou dois. Soube adaptar-me a viver «à rasca» para chegar ao fim do mês. O dinheiro é importantíssimo para quem não o tem, por isso é quase uma barbaridade estar a dizer uma coisa destas. A vida ensinou-me que não sei nada. Cada vez tenho menos certezas e cada vez tenho mais dúvidas. Mas acho que a vida vale a pena ser vivida. Acredito muito no evangelho dos talentos. Quem os tem, tem a obrigação de os fazer render. Texto de Valdemar Cruz | |||||||
The Pope's Contradictions | ||||||||
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MIT students pull prank on conference | ||||||||||||||||||
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AS PALAVRAS VENENO DO SEMANÁRIO EXPRESSO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA | ||
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AS PALAVRAS VENENO DO SEMANÁRIO EXPRESSO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PUBLICA A % de TRABALHADORES NA ADMINISTRAÇÃO PUBLICA EM PORTUGAL REPRESENTA APENAS />58% DA MÉDIA DOS PAISES DA UNIÃO EUROPEIA O semanário Expresso de 5 de Maio 2005, caracterizou a situação da Administração Pública em Portugal nos seguintes termos: retrato ainda mais negro, crescimento imparável, o prometido emagrecimento da Função Pública não teve quaisquer resultados, etc., ou seja, utilizou termos que na ciência da comunicação se chamam palavras veneno com o intuito de provocar sentimentos negativos no leitor relativamente à Administração Pública e aos seus trabalhadores. ... | ||
Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive | ||
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Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive/>By MATT RICHTEL SAN FRANCISCO, Aug. 21 - Edward Vazquez Jr., 6, has numerous educational tools at his disposal. He learns math from flashcards and the alphabet from a popular electronic gadget called the LeapPad. But when it comes to instruction, the family's personal computer sits dormant. Riverdeep "He has a lot of toys for learning - not the computer," said his father, Edward Vazquez, 28, a waiter in San Francisco. One reason, Mr. Vazquez said, is "you don't see a lot of that software." That statement would have been unthinkable a few years ago. In 2000, sales of educational software for home computers reached $498 million, and it was conventional wisdom among investors and educators that learning programs for PC's would be a booming growth market. Yet in less than five years, that entire market has come undone. By 2004, sales of educational software - a category that includes programs teaching math, reading and other subjects as well as reference works like encyclopedias - had plummeted to $152 million, according to the NPD Group, a market research concern. "Nobody would have thought those were the golden days," Warren Buckleitner, editor of Children's Technology Review, said of the late 1990's. "Now we're looking back and we're saying, 'Wow, what happened?' " What happened was an explosion of new, often free technologies competing to entertain and teach children. Young children have long been a primary audience for computer learning games. But with free games and learning sites now available all over the Internet, parents are finding that they do not need to buy software that can teach the A B C's. And the spread of broadband connections has made playing online games far easier. The preschool and elementary school set is also moving toward portable gadgets like the LeapPad made by LeapFrog Enterprises, and other electronic toys from makers like Fisher-Price and VTech. Older students, industry analysts said, are less likely to buy educational software when reference material and encyclopedias are free online. And there is the pass-along effect. Simple programs for toddlers and young children are often handed down among brothers and sisters because the titles and curriculums do not change much over the years. Other industry analysts and executives said that parents' frustration at installing new programs and the nearly universal availability of computers in classrooms have made using home PC's for learning less appealing. Danisha Floyd, 22, said her 5-year-old son, Edgar, uses a LeapPad and does not have a computer at home. "He uses computers at school," she said. Alan Zack, product director for Encore Software, a Los Angeles company that makes and distributes educational programs, said, "Kids come home and they don't want to get on the computer." Basically, said Chris Swenson, an education software analyst for NPD, "the PC has lost its luster as the center for learning at an early age." The result in business terms has been a downward spiral. Only 222 educational programs for PC's sold more than 10,000 copies in 2004, down from 447 in 2001, according to NPD. As sales began to decrease, retailers devoted less and less shelf space to these titles, making recovery for the industry more difficult. To regain their footing, some companies are starting to create programs that can connect to the Internet and cater to parents' interest in measuring their children's academic progress. One reason for hope is that parents are spending more on educational tools and services than ever. Kirsten Edwards, an education software industry analyst with ThinkEquity Partners, a research firm, noted that overall spending on teaching tools and toys had increased. Spending on tutors, she said, rose to $4 billion in 2004, from $3.4 billion a year earlier. Yet educational software is getting an ever smaller share of that consumer dollar. It is among the lowest-priced of any software category; in 2004 the average price for an educational program was $18, compared with $23 for the average computer game, according to NPD. Once a Booming Market, Educational Software for the PC Takes a Nose Dive(Page 2 of 2) The fate of the Learning Company, once one of the biggest names in the educational software business - with well-known titles like Reader Rabbit and Carmen Sandiego - underscores the industry's rapid decline. In 1998, the company was acquired by Mattel for $3.8 billion, an indication of the expectations for the industry's growth. Quickly, though, the market faltered. In 2001, the company's educational titles were acquired for $40 million by Riverdeep, an Irish education software company. Today, Riverdeep, which has an office in San Francisco, continues to sell Learning Company brands. But it is trying to remake them to cater to new consumer interests. Last week, it released repackaged versions of Reader Rabbit and Carmen Sandiego, among other titles, that include in the boxes an old-fashioned tool: flashcards intended to complement what students learn on the computer. Jessica Lindl, vice president for marketing at Riverdeep, said the flashcards are lead-ins to more extensive changes in the software next year. Future versions, she said, will help assess a student's needs and give parents feedback on the child's progress. In future versions of the reading program Reader Rabbit, for example, children who do not master a level will get repeated lessons. People used to buy educational technology for technology's sake, Ms. Lindl said. "What needs to happen now is there needs to be returns, or results, for the purchase." One company, Topics Entertainment, of Renton, Wash., is aiming at parents who want to increase student achievement. Programs in its Success line are packaged in clean white boxes without cute cartoon characters, though the programs, which teach math, reading and other classroom subjects, are meant for students in grade school. Even getting the programs into the stores can be a big challenge. Max Cowsert, director of product development for Topics Entertainment, said that retailers like Best Buy had reduced the shelf space they allot to educational software, and some video game retailers had eliminated the category altogether. "It's not going to continue to slide at this rate," Mr. Cowsert said. "It has to stop declining, or we'll disappear." Educational software makers in the consumer market are not alone in their struggles. Those making software for schools have suffered too, executives and analysts said, from cutbacks in school budgets. Overall spending on software by K-12 schools was $2.3 billion in 2004, up 2 percent from a year earlier but down from $3.4 billion in 2001, according to ThinkEquity Partners. Nonetheless, some say that children's software can make a comeback. Mr. Buckleitner, an occasional contributor to the Circuits section of The New York Times, says there is still a future for teaching tools for the PC, especially as high-speed Internet access permits the delivery of richer content. As for the drop in sales, he said, "it's like a forest fire has burned through," making the scorched earth ready for future growth. | ||
Um ano de desafios, José Lopes da Silva | ||||||||||
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