Design Inteligente

Design Inteligente (DI) é a teoria segundo a qual causas inteligentes seriam responsáveis pela origem do universo e da vida, em toda a sua diversidade.

Os defensores do DI sustentam que a teoria é científica e que oferece provas empíricas da existência de Deus ou de extraterrestres. Acreditam que o design seja detectável empiricamente na natureza e nos sistemas vivos. Alegam que o DI deveria ser ensinado nas aulas de ciências por ser uma alternativa à teoria científica da selecção natural .

Os argumentos do DI parecem ser semelhantes aos argumentos criacionistas , mas os defensores alegam não rejeitar a evolução, apenas por ela não ser compatível com o entendimento da Bíblia. No entanto, apresentam a selecção natural como algo que implicaria que o universo não pudesse ter sido projectado ou criado, o que não faz sentido. Negar que Deus tenha o poder de criar seres vivos usando a selecção natural é afirmar algo que não pode ser conhecido. É também incompatível com a crença num Criador omnipotente.

Dois dos cientistas frequentemente citados pelos defensores do DI são Michael Behe, autor de Darwin's Black Box [A Caixa Preta de Darwin] (The Free Press, 1996), e William Dembski, autor de Intelligent Design: The Bridge between Science and Theology [Design Inteligente: A Ponte entre a Ciência e a Teologia] (Cambridge University Press, 1998). Dembski e Behe são membros do Discovery Institute , um instituto de pesquisas de Seattle patrocinado em grande parte por fundações cristãs. Os argumentos sustentados por estes são sedutores por serem expressos em termos científicos. No entanto, esses argumentos são idênticos em função aos dos criacionistas : em vez de oferecerem indícios positivos para a sua posição, tentam principalmente encontrar fraquezas na selecção natural.

O DI assume-se como uma pseudociência porque alega ser científico, quando na verdade é metafísico. Baseia-se em diversas confusões filosóficas, não estando implícita a ideia de que “ tudo o que é empírico é necessariamente científico” . Se por “empírico” se entender como “ ter origem ou ser baseado em observações ou experiências”. Isto é falso . As teorias empíricas podem ser ou não científicas. A teoria de Freud do complexo de Édipo é empírica, mas não científica. A poesia pode ser empírica, mas não científica.

Fonte:

  • skepdic.com/brazil/di.html

O que é o Design Inteligente?, artigo de Julio Cesar Pieczarka

JC e-mail 2708, de 17 de Fevereiro de 2005

Se assumirmos que fomos projectados de modo ‘inteligente’ é inevitável a conclusão de se tratar de um serviço muito mal feito, por um designer bastante incompetente, conclusão esta que dificilmente vai agradar um criacionista.
Julio Cesar Pieczarka é pesquisador na Universidade Federal no Brasil e escreveu o artigo abaixo descrito:

“Tenho notado que sempre que surge a discussão Evolução versus Criacionismo, repete-se a mesma situação: os criacionistas atacam a Teoria da Evolução e os evolucionistas tratam de defendê-la. Na discussão seguinte, repete-se tudo de novo, não trazendo nada de novo e provavelmente aborrecendo quem não está directamente envolvido na questão, ou seja, a maioria das pessoas. Nada se fala, porém, das propostas criacionistas.
Assim, gostaria de lançar luz sobre o outro aspecto da questão, discutindo o que é o Design Inteligente, quais as propostas e críticas que se fazem a esta sugestão. Deste modo invertem-se desta vez os papéis, só para variar.


1) O que é o Design Inteligente?

A proposta do Design Inteligente (DI) encontra a sua origem no teólogo William Pailey, que em 1831 imaginou o seguinte: se ao caminhar por uma charneca ele encontrasse uma pedra, provavelmente não lhe daria muita atenção, supondo que a mesma se encontra ali desde os princípios dos tempos.
Todavia, se ele se deparasse com um relógio, a situação mudava, pois o relógio não é um objecto simples como a pedra. Ele leva imediatamente à ideia do relojoeiro, isto é, de uma inteligência que o projectou. Assim, a existência de seres e/ou estruturas biológicas organizadas no mundo natural levariam à ideia de uma inteligência superior, provando a existência de Deus. Em linhas gerais, o DI propõe a mesma coisa: o design existe na natureza, levando inevitavelmente à ideia do designer.

A princípio, o designer poderia ser qualquer inteligência desconhecida pelos seres humanos, podendo ser, por exemplo, uma civilização alienígena. Porém, a preferência sempre foi por um Deus do tipo Judaico-Cristão. Seguindo este raciocínio, a existência de estruturas complexas não seria explicável pela teoria da evolução.

Behe (1997) sugere o conceito de Complexidade Irredutível. Seriam estruturas que só funcionariam se todas as suas partes estivessem presentes desde o princípio; portanto, elas não poderiam ser organizadas num processo passo-a-passo, via selecção natural. Um exemplo apresentado por Behe é o da ratoeira: se alguma das partes da ratoeira faltar, ela não funciona. Deste modo, ela não teria surgido pelo aparecimento primeiro de uma parte, depois de outra, etc., pois ela só funciona no final, quando todas as partes estão presentes. Como ela é inútil nos passos intermediários (não funciona), não poderia ter surgido por selecção natural, pois a selecção implica vantagem em cada etapa. Ele afirma existirem na natureza casos de complexidade irredutível, dando alguns exemplos, entre os quais, o olho e o sistema imunológico.

Outra proposta foi feita por Dembski (1998), o qual afirma que o design ocorre sempre que dois critérios são satisfeitos: complexidade e especificação. Complexidade não é o bastante, é preciso uma intenção subjacente, que indica inteligência.


2) Quais as críticas às propostas do DI?

Em primeiro lugar é preciso deixar claro que o design existe na natureza. Efetivamente a mão humana ou o sistema muscular de uma cobra, por exemplo, não são fruto do acaso. Eles desempenham uma função, para a qual foram projectados. O grande problema do Design Inteligente não é a ideia de design em si mesmo, é antes o imenso salto epistemológico em supor que este design implica necessariamente um designer inteligente e consciente. O design que eles detectam foi ‘projectado’, porém, por um designer não consciente, que atende pelo nome de ‘seleção natural’. Quando se vai argumentar contra uma teoria é preciso pelo menos conhecer o que ela afirma. Infelizmente, porém, parece que os defensores do DI tem uma visão bastante errónea sobre a Teoria da Evolução, já que eles afirmam ser impossível as estruturas complexas do mundo atual serem explicadas por puro acaso. Na realidade, um dos poucos elementos casuais na Teoria da Evolução é a mutação, que não surge em função da necessidade imediata do organismo. No que toca à seleção natural, porém, não há nada de casual. A escolha das formas mutantes que são preservadas de modo algum é aleatória, pois a seleção é a interface entre o organismo e o meio em que ele vive. Assim, passo a passo, as escolhas são feitas em função do ambiente e das necessidades do organismo. Estruturas paulatinamente mais complexas surgem a partir de menos complexas. Portanto, repito, o design detectado nada mais é que o resultado da seleção natural. Alguém poderia argumentar que do mesmo modo, poderia ser atribuída a uma inteligência superior esta intenção, de modo que esta sugestão equivaleria à da selecção e, portanto, ambas teriam igual poder e tudo se torna uma questão de opinião.
Não é assim, porém. A seleção natural é uma explicação baseada no mundo natural, sem necessitar de lançar uma explicação sobrenatural. Um cientista deve usar a ‘Navalha de Occam’ e optar pela possibilidade mais simples e lógica. Se uma pessoa opta pela ideia de que o design deve provir de Deus, trata-se de uma opinião pessoal, mas sem base científica. Deixa de ser ciência e torna-se religião (até porque os desígnios divinos, bem com a própria existência ou não de Deus estão fora do alcance da ciência, que não pode provar nem que Ele existe, nem que Ele não existe). Em essência, os defensores do DI, ao detectar design na natureza nada mais fazem que detectar a evolução. O mesmo argumento serve contra Dembski, pois o processo de seleção natural tanto gera complexidade como traz em si mesmo o conceito de especificação, pois as estruturas não foram selecionadas ao acaso, mas em função das necessidades de sobrevivência específicas daquela espécie.

O erro, volto a dizer é automaticamente supor que design implica um designer inteligente e consciente. Com relação à complexidade irredutível, efetivamente a ratoeira é um exemplo deste tipo de complexidade e que foi, portanto, projectada de modo inteligente. Projectada por um ser humano! Mas não há exemplos na natureza deste tipo de complexidade. A literatura disponível sobre biologia molecular contradiz este conceito, ao mostrar que estruturas aparentemente irredutíveis, na verdade, podem ser decompostas em etapas, através da duplicação de alguns genes. Efectivamente, a duplicação genética é um fenómeno importante no processo evolutivo, pois enquanto uma cópia do gene continua a desempenhar a sua função, a outra fica livre para sofrer alterações. Eventualmente estas alterações conduzem à síntese de proteínas que complementam a função da proteína sintetizada pelo gene original. Assim, é desnecessário, do ponto de vista científico, adicionar um elemento sobrenatural a fenómenos biológicos, uma vez que dispomos de explicações coerentes com o mundo natural.

Por fim, um aspecto que incomoda os defensores do DI (Dembski, por exemplo) é a questão da imperfeição do nosso design. Pigluiucci (2001) pergunta por que temos varizes, hemorróidas, dor nas costas e nos pés?

A explicação da Teoria da Evolução é a de que evoluímos para o bipedismo numa época relativamente recente, de modo que o nosso corpo ainda não está perfeitamente adaptado a esta postura. Mas se assume que fomos projectados de modo ‘inteligente’ é inevitável a conclusão de se trata de um serviço muito mal feito, por um designer bastante incompetente, conclusão esta que dificilmente vai agradar a um criacionista. Dembski não encontrou resposta para isto, apenas aceitou o facto de que o nosso design não é o óptimo que se esperaria de um Deus Todo-poderoso.

Desde Platão esta questão existe, pois ele sugeria que dado o serviço de qualidade variável, o projectista do Universo não poderia ser um Deus omnipotente, mas apenas um Demiurgo, um deus menor, que não tinha capacidade de gerar algo melhor do que nós temos.


3) Qual a origem do grupo que defende o DI?


A conclusão mais evidente é a de que se trata de um grupo criacionista, apesar deles negarem enfaticamente. O próprio conceito de Design Inteligente (a existência de uma inteligência que projectou o design) é um conceito criacionista na sua essência, embora não seja o mesmo que afirmar que a Terra tem 6.000 anos como supõem alguns criacionistas (contrariando não apenas a Teoria da Evolução, mas também toda a Paleontologia, Geologia e Astronomia).
No entanto a noção de criação é implícita à ideia do DI. Mas vamos aos factos. Em 1968 a Suprema Corte americana considerou a proibição do ensino de evolução (que perdurou por quase todo o século XX em muitos estados americanos) como inconstitucional, pois o motivo da proibição era visivelmente de fundo religioso e violava o princípio constitucional de separação entre estado e religião.


Sugestões de leitura:

  • Pró- Design Inteligente: Behe, M. (1997). A Caixa Preta de Darwin. O Desafio da Bioquimica à Teoria da Evolução. Jorge Zahar Editor, RJ.
    Dembski, W.A. (1998). The Design Inference. Cambridge University Press, Cambridge, UK.

  • Pennock, R.T. (2003). Creationism and Intelligent Design. Annual Review of Genomics and Human Genetics 4: 143-163.
Última alteração: sábado, 4 de agosto de 2012 às 18:16